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Opinião – As máquinas vão a julgamento

Rodrigo Vargas escreve sobre o motivo de tantas pessoas ainda serem contrárias à utilização da Inteligência Artificial na mobilidade.


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 09/06/2023 às 18h00
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Pela primeira vez na história uma inteligência artificial será usada em um tribunal para defender um réu acusado de infringir leis de trânsito. A startup de consultoria jurídica, DoNotPay, utiliza inteligência artificial e acaba de anunciar sua IA como “o primeiro robô advogado do mundo”. No julgamento, a IA irá ouvir toda a acusação e depois, através de um ponto eletrônico, e a máquina irá dizer exatamente o que o réu deve falar perante o juiz.

De acordo com a empresa, o método empregado pelo software é capaz de vencer maioria dos casos, no entanto, caso o cliente da empresa não vença o processo, a DoNotPay garantiu que pagará a multa aplicada pelo departamento responsável pela regulamentação e fiscalização do trânsito nos Estados Unidos.

Essa não é, no entanto, a primeira vez que as máquinas vão à corte. Se lembra do Watson da IBM? Pesquisas apontam que escritórios dotados desse “motor cognitivo” têm uma taxa de preenchimento correto dos dados em processos de 95% com o uso da tecnologia de Machine Learning, frente à 75% quando o trabalho é feito por humanos.

É algo já bastante aceito o fato de que a maior parte dos sinistros de trânsito são causados por falha humana.

Boa parte deles por falhas de julgamento. O psicólogo e economista israelense-americano, Daniel Kahneman, em seu livro Ruído: Uma falha no julgamento humano, explica como e por que os seres humanos são tão suscetíveis ao ruído e aos vieses ao fazer escolhas.

Talvez isso explique o motivo de tantas pessoas ainda serem contrárias à utilização da Inteligência Artificial na mobilidade. Recentemente, uma notícia (requentada, diga-se de passagem) voltou a circular nas redes sociais e grupos de Whatzapp, trazendo opiniões diversas. É fácil cairmos na tentação de imaginarmos “e se um dia um hacker invadir o sistema de um carro autônomo?” A verdade é que, atualmente, já temos sistemas de gestão semafórica em rede, por exemplo, e nem por isso vemos hackers acessando esses sistemas e abrindo ambos os sinais de cruzamentos para causar acidentes, tal qual vemos nos filmes.

Na prática, para causar um acidente nem mesmo é preciso de um hacker. Basta cortar os freios do carro! No entanto, eu não vejo ninguém questionar a utilização desses sistemas semafóricos. Nem mesmo a existência dos veículos, sendo que eles podem, já hoje, ser sabotados de tantas outras maneiras…

Ok, Rodrigo! Mas esses sistemas de pilotagem autônoma não são totalmente seguros. – você pode estar pensando.

De fato, você tem razão. Não são totalmente seguros AINDA. Não há dúvidas de que o cinto de segurança, por exemplo, seja um equipamento fundamental, com potencial de salvar milhares de vidas. Porém, na sua criação, dificilmente se imaginou na hipótese de que um veículo pudesse cair na água e que algum ocupante pudesse vir a óbito por afogamento, preso justamente pelo próprio cinto de segurança, como já ocorreu em diversas ocasiões. Ainda assim, nunca vi ninguém advogar contra o uso desse dispositivo. Isso por dois motivos bastante óbvios. Esses casos representam a exceção e não a regra e, principalmente, por que esse dispositivo não se projetou para aquele contexto.

Desde que se começou a utilizar a AI em veículos autônomos, houve o relato de diversos casos de sinistros – alguns até mesmo fatais. Isso tem feito com que algumas pessoas advoguem veementemente contra a utilização dessa tecnologia, condenando-a sumariamente.

Mas não estaremos, assim como o cinto que mata os passageiros afogados, rechaçando-a fora de contexto?

Meu principal argumento nesse tribunal chama-se IoT (Internet das Coisas). É fácil nos sentirmos inseguros diante de tecnologias tão novas. Ainda mais quando praticamente colocamos nossa vida nas mãos (ou na direção) de uma máquina equipada simplesmente com um computador de bordo e uma dúzia de sensores e câmeras.

Mas e quando equiparem a cidade toda dessa forma? Quando não apenas os veículos estiverem conectados, mas semáforos, placas de sinalização, postes e qualquer outro mobiliário urbano? Quando, mesmo a 500 metros de distância, seu carro já souber que há um pedestre atravessando fora da faixa ou enquanto o sinal está fechado para ele, apenas porque a banca de jornais mais próxima o alertou disso?

Enquanto nos preocupamos com o “e se” situações hipotéticas ocorrerem, deixamos de fazer uso de tecnologias que poderiam salvar milhares de vidas. Além disso, seguimos crendo na “segurança e eficiência” humana, que mata milhões todos os anos.

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