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Artigo: Cidades desafiadas


Por Artigo Publicado 08/12/2020 às 21h00 Atualizado 08/11/2022 às 21h38
 Tempo de leitura estimado: 00:00

No artigo desta semana, J. Pedro Correa comenta sobre as ameaças que rondam as cidades e que os novos prefeitos precisarão enfrentar a partir de janeiro.

J. Pedro Correa*

No meu artigo da semana passada sobre as perspectivas para o trânsito brasileiro em 2021 mencionei que algumas capitais brasileiras conseguirão fazer algum progresso ano que vem graças ao apoio de cooperação de instituições internacionais como Bloomberg, WRI, GRSP que já marcam presença por aqui há vários anos.

Muito importante que isto aconteça até como forma de incentivar outras cidades a buscar soluções idênticas.

Ponto importante neste suporte é que estas entidades não fazem os grandes investimentos nas cidades que assessoram. A contribuição maior delas está no aporte de conhecimentos, de gestão de projetos que trazem de outras experiências internacionais e que as aplicam aqui, dentro das características de cada cidade.

É bom ressaltar que além da contribuição externa, o projeto de melhoria do trânsito precisa contar com o decisivo desejo do prefeito local para investir de forma coordenada nas obras recomendadas para melhorar o fluxo e a segurança no trânsito. Este é, de verdade – o apoio/interesse direto do prefeito. O principal marco do sucesso visto em capitais como Fortaleza, Salvador, Campo Grande e, em certa medida, São Paulo, entre outras.

A falta de melhores perspectivas para a maioria das cidades, deve-se ao fato claro de que as prefeituras, de maneira geral, estão em má situação financeira e com limitada capacidade de fazer investimentos para melhorar o trânsito. Como os governos estaduais não estão em melhor situação, não parece ser deles que uma eventual ajuda poderia vir.

Resta, então, um possível socorro de Brasília. Este governo, porém, não tem mostrado maior apreço pelo trânsito – pelo contrário – basta ver o número de decisões presidenciais que em nada ajudam a segurança no trânsito.

Além do mais, temos de reconhecer que segurança no trânsito, não é prioridade neste país.

E pretender que seja escolhida pelos novos prefeitos seria esperar demais. A chance de boas mexidas no trânsito municipal, então, ficaria por conta de o prefeito ser mordido pela mosca azul da 2ª Década Mundial de Ações de Trânsito que vai de 2021 a 2030 e decidir acompanhá-la, mas para isso seria necessária uma grande mobilização em torno da iniciativa da ONU/ OMS, o que até agora não ocorreu e nem deve ocorrer.

Veja outros artigos do autor:

Artigo: Dúvidas e esperanças em 2021 

Artigo: Fortaleza na ponta 

Por outro lado, não se viu tampouco até agora qualquer indício de que o Governo Federal venha a desenvolver um grande programa de comunicação e propaganda para aumentar a segurança no trânsito. Isso, eventualmente, poderia levar as prefeituras a fazer a sua parte. O início de nova gestão municipal em janeiro coincidindo com o começo da 2ª Década Mundial podem ser ótimos “ganchos” para realizar ações de segurança a partir do ano que vem.

O que as prefeituras precisam ter, já no início de 2021, é um plano de ação pronto para executar nos próximos 4 anos.

Notadamente aquelas que tiveram seus prefeitos reeleitos ou que, pertencendo ao mesmo partido político que venceu as eleições e dar continuidade à gestão atual. Já os novos mandatários necessitam de um bom domínio da arte da comunicação para tirar proveito de cada ação que toma. Por isso, é essencial que um bom plano de ação seja apoiado por um bom plano de comunicação.

Obviamente o maior desafio dos novos prefeitos será baixar o índice de fatalidades e de acidentes graves no trânsito municipal.

Um mapa da cidade apontando locais onde os acidentes acontecem é o primeiro instrumento a ser consultado. A eliminação de riscos nesses locais geralmente não implica em custos exagerados. E, muitas vezes, até já consta do orçamento da secretaria municipal a que está afeto.

Assim, o que o prefeito precisa é inserir essas obras dentro do seu programa de segurança no trânsito e saber explorá-las corretamente.

Isto vale para obras viárias, iluminação, sinalização, faixas de segurança, semáforos, calçadas, entorno das escolas, lombadas, ciclovias e ciclofaixas, pontos de ônibus, treinamentos para agentes de trânsito. Enfim, a lista é interminável como sem fim do mesmo jeito é a missão do comando da prefeitura na área do trânsito.

Repito: grande parte destas ações já tem orçamento para execução, mas as administrações falham em não alinhá-las dentro de um plano global de ação e de comunicação como sendo de segurança. Se você tiver oportunidade de checar o que foi feito nas cidades que se destacaram em programas de trânsito acabará se dando conta do que acabo de afirmar.

Talvez o que pode ser chamado de trunfo de um plano de segurança no trânsito seja a visão sistêmica do setor. Formada a partir de um amplo diagnóstico do trânsito, de pesquisa de opinião pública para ter certeza do que pensa a sociedade. Aí, então, surge o cronograma paulatino e sistemático de ações. E – o trunfo maior – um plano para comunicar de forma consistente, honesta e coordenada à comunidade. Assim, ela saberá o que está sendo feito e o que pode esperar para os próximos períodos que virão. Iniciativas extemporâneas, não conectadas com um programa sistemático, não produzirão resultados.

As crises que hoje assolam o país – saúde, sanitária, econômica, social, política – não desaparecerão tão cedo. De forma que é melhor estarmos certos de vamos conviver com elas por um bom período à frente, mas isso não deve ser motivo de receios ou recuos. Com jeito, cuidado, criatividade, haverá sempre oportunidades a explorar.

Existe um sem número de possibilidades de enfrentamentos e caberá ao prefeito o desafio de fazer as escolhas adequadas para encarar estes desafios.

Se for arguto em sua análise, honesto em seus propósitos, criativo nas suas escolhas e responsável no uso dos recursos, não lhe faltará apoio da sociedade. Até – quem sabe – para melhorar o comportamento no trânsito.

Comentários e críticas: jpedro@jpccommunication.com.br

*J. Pedro Correa é Consultor em Programas de Trânsito

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