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São Paulo quer restringir trânsito de carros


Por Talita Inaba Publicado 13/04/2013 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h42
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A lembrança atordoante de quem visita a maior cidade do Brasil e da América do Sul vem de seu implacável congestionamento de carros, um pesadelo que praticamente inviabiliza grandes descolamentos em pelo menos dois períodos de pico do dia: na parte da manhã, pouco antes do início do expediente comercial, e no começo da noite, quando o paulistano sai do trabalho e toma o rumo de volta para sua casa. Para tentar amenizar essa situação, São Paulo começou a testar no início do mês a instauração de zonas livres de automóveis. Em suma, a ideia é proibir o acesso de carros às zonas de grande fluxo comercial, tornando-os acessíveis apenas ao sistema de transporte coletivo (ônibus e táxis), além de motocicletas. O primeiro laboratório tem sido as ruas do entorno do Largo 13 de Maio, localizado na zona sul da cidade, ponto conhecido pela morosidade do deslocamento de quem viaja do centro em direção à periferia local. A medida, antes de mais nada, é polêmica. E tende a ser impopular numa cidade que carece de um sistema eficiente de mobilidade urbana – por sinal, a palavra da moda no debate entre políticos e sociedade civil organizada. Por isso, o governo correu para divulgar que nos primeiros dias da restrição, a velocidade média dos ônibus que circulam na região dobrou, saltando dos habituais 11 km/h, para uma média de 21 km/h. “Eventualmente, um dia, em um tempo não tão distante, vamos fazer (a implantação da zona de restrição de automóveis) na região central da cidade”, afirmou o secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto, acrescentando que, no primeiro dia útil da operação, a experiência do Largo 13 melhorou em 30% a fluidez dos ônibus. Timidamente, o secretário apresenta as contas de seu plano de transportes. E sem muito ânimo, a população ouve e segue em frente. No fundo, todos sabem que o esforço não passa de um paliativo para um problema que se arrasta há anos e, de uns tempos para cá, parece ter alcançado o fundo do poço. A verdade é que o Brasil, segundo especialistas, está meio século atrasado em relação aos investimentos que precisariam ser realizados no transporte público coletivo. O número leva em conta dois aspectos: as quase três décadas de descaso público na expansão do sistema de transporte sobre trilhos – tido como a principal alternativa para grandes deslocamentos em áreas urbanas – e a falta de vontade política de governos, que optaram por virar as costas para a elaboração de um plano de mobilidade para as principais capitais. “O Brasil está cerca de 50 anos atrás do que deveria em sua rede de transportes públicos. E os caos que se verificam em São Paulo deve-se a uma superutilização do sistema”, afirmou-me há mais ou menos um ano o presidente da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense Pires. Professor de planejamento e operações de transporte da Universidade de São Paulo (USP), Jaime Waiman concorda com o presidente da ANTP. Para ele, o problema se agravou em São Paulo por ter ficado desde meados da década de 1970 até o início dos anos 2000 sem adequar sua malha de transportes ao crescimento da demanda dos passageiros. Quando acordou para a questão, o problema já estava instaurado. “Ficamos muito tempo parados, criou-se uma desfasagem enorme na área de transportes coletivos, um buraco que, agora, vai levar tempo para ser resolvido”, destaca. Waiman chama a atenção para a retomada de investimentos no setor – nos últimos dez anos, o sistema metroferroviário de São Paulo ganhou 26,5 quilômetros de linhas, segundo dados do Metrô e da CPTM – mas o ritmo empenhado ainda vai levar, pelo menos, quatro anos para oferecer o mínimo de conforto para seu usuário. “Não tem mágica. São Paulo passou de cidade industrial para a de serviços, multiplicando por três ou quatro o número de viagens que uma única pessoa faz ao longo do dia. Assim, vamos continuar sofrendo até 2016, quando a situação pode começar a melhorar. Mas isso apenas se o governo continuar a investir como vem fazendo nos últimos anos”, estima. Por “investimentos dos últimos anos”, Waiman refere-se, por exemplo, a ampliação da rede de metrô, que recentemente recebeu o incremento da quarta linha, aberta em estágios ao longo dos últimos três anos. As novas estações interligam endereços de negócios importantes, como as avenidas Paulista e Faria Lima. E elevam a malha metroviária para a extensão de 71 km, recorde histórico no Brasil, mas extremamente tímida se comparada a outras metrópoles pelo mundo. A Cidade do México, por exemplo, tem mais de 200 quilômetros de linhas de metrô. Seul, na Coreia do Sul, 400 km. Até Santiago, no Chile, com um quarto do tamanho de São Paulo, tem um metrô 40% maior. Sem opções sobre trilhos, o que sobra ao paulistano é procurar alternativas, como o ônibus coletivo. São Paulo possui uma das frotas mais extensas do mundo – são 15.000 veículos de 1.532 linhas distintas. Mas “de que adianta tanto ônibus se eles não andam?”, indaga o consultor em transportes Horácio Figueira. “O sistema rodoviário da cidade não funciona”. Segundo o consultor, para ser considerado minimamente eficiente, um ônibus precisa circular acima de quinze quilômetros por hora. Nas principais ruas e avenidas da capital, eles não ultrapassam dez quilômetros por hora. “Em horários de pico, a velocidade bate 8 quilômetros, o mesmo que um pedestre jovem, em marcha forçada, consegue alcançar”, diz. Há meios de fazer os motoristas de ônibus pisarem no acelerador. Para isso, Ricardo Corrêia, sócio fundador da TC Urbes, que projeta espaços públicos urbanos, explica que é preciso apostar em corredores exclusivos, com pista rebaixada, pavimentadas com concreto, poucos cruzamentos e, consequentemente, quase nenhum semáforo. “O modelo é ideal para viagens curtas, que percorrem até sete quilômetros. O problema é que esse tipo de solução demandaria um plano de transporte urbano para as cidades. E, em São Paulo, como em todo o Brasil, isso não existe”, diz. Fonte: Portuguese

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