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Trânsito: virtudes e ignorâncias


Por Mariana Czerwonka Publicado 19/07/2020 às 16h30 Atualizado 08/11/2022 às 21h46
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J. Pedro Corrêa faz uma análise histórica do trânsito e explica o motivo pelo qual a segurança nunca foi prioridade no Brasil. Leia o artigo!

J. Pedro Corrêa*

Rio Grande Cassino 1941 pavimentação asfáltica. Foto: Arquivo Daer

Entre 1926 e 1930, quando chefiou o último governo da velha república, o presidente Washington Luís criou um lema que até recentemente ainda era repetido por candidatos a prefeitos e governadores: “Governar é abrir estradas”. Com ele, justificou a criação de um plano de construção de estradas de rodagem. A primeira delas foi a Rio-Petrópolis, ligando a então Capital Federal à Cidade Imperial, em agosto de 1928.

Entre 1956 e 1961, o governo de Juscelino Kubitschek foi marcado pelo plano de ação “Cinquenta anos em cinco“, construindo Brasília no centro do País e deixando na história a marca do desenvolvimentismo. Foi nesta época que nasceu a indústria automobilística brasileira e seus projetos milionários, hoje espalhados pelo País.

Entre 1964 e 1985, a Ditadura Militar que comandou o Brasil prometeu saltos desenvolvimentistas notadamente na área da infraestrutura. Apesar dos “anos de chumbo” que marcaram a turbulência política brasileira, o período de 1969 a 1973 ficou conhecido na história do Brasil como os do Milagre Econômico.

Foram três momentos importantes da história do País nos últimos 100 anos: estradas, desenvolvimento industrial, infraestrutura. Notem que a palavra segurança não aparece em nenhum dos três. Esta observação ajuda a explicar porque segurança nunca foi prioridade no Brasil – até hoje não é -, porque nossos governantes não se preocupam com ela e (parte) da sociedade ainda acredita que acidente de trânsito é “vontade de Deus” ou “coisa do destino”, como se não pudesse ser evitado. Nunca, na história do Brasil, tivemos segurança como bandeira de governo em qualquer nível. Sequer frequenta o currículo escolar, exceto em pouquíssimas escolas ainda que sem uma metodologia e conteúdos adequados.

Parece inacreditável que nossos governantes não consigam entender que trânsito seguro, com fluidez, é o primeiro cartão de visitas de um país ou de uma cidade. Curitiba, nos anos 1970, mostrou isto quando começou seus esforços para se tornar numa das principais cidades do Brasil e se transformou num dos seus principais polos automobilísticos. Da mesma forma surpreende que nossas lideranças empresariais não perceberam isto e não tenham exercido pressão sobre governos regionais/municipais para acertar este passo trocado. Quando viajam ao exterior, é a primeira coisa que observam. Já a maior parte da sociedade, principalmente as classes média e baixa, por falta de melhores oportunidades, não consegue estabelecer comparações. Por isso banaliza, coisifica a violência do trânsito.

O ex-presidente Barak Obama, dos Estados Unidos disse, num dos seus históricos discursos que “Na política, como na vida, ignorância não é uma virtude”.

Não poderia ter sido mais certeiro no seu comentário sobre um dos maiores problemas das Américas, o da falta de conhecimento. Sócrates, filósofo grego que viveu antes de Cristo, já dizia que “existe apenas um bem, o saber e apenas um mal, a ignorância”. Está dito tudo? Aqui, ignorância é no sentido de não reconhecer os benefícios e não se esforçar pelas correções necessárias.

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Diante da inércia governamental e da passividade da sociedade, julgo que o papel daqueles que se dedicam à causa da segurança no trânsito é continuar a doutrinação de toda a sociedade para pressionar o andar de cima por um trânsito decente, com menos acidentes e mais paz. Todos sabemos que quando a sociedade pressiona seus governantes, eles reagem. Se não reagiram até agora é porque sentem que a corda ainda aguenta um pouco mais até rebentar de vez.

Já disse num comentário anterior que nunca tinha visto a comunidade do trânsito brasileiro tão junta na discussão de temas do setor e que este fenômeno haverá de trazer muito mais gente para defender a causa. O que precisamos então é melhorar até onde pudermos o nível de discussão, atrair novas cabeças e novas lideranças para fazer parte do grupo, melhorando o debate e crescendo juntos.

Tenhamos fé de que um dia o brasileiro mostrará que a virtude do conhecimento derrotará o mal da ignorância e tornará nosso País digno de ser a pátria daqueles que querem crescer com dignidade.

*J. Pedro Corrêa é especialista e consultor em programas de segurança no trânsito

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