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Pelo que você dá o seu sangue?


Por Márcia Pontes Publicado 16/06/2016 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h26
 Tempo de leitura estimado: 00:00
Doação de sangueO sangue não tem cor, não tem raça, não tem sexo, não tem preconceito.

O corpo humano é basicamente feito de líquidos e o líquido mais importante é o sangue. Composto por plasma (nutre as células), hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (defesa do organismo), plaquetas (imunidade) e fatores de coagulação (evita hemorragias), leva oxigênio e nutrientes à todos os órgãos. Embora o sangue seja tão importante quanto o próprio ar que respiramos, o fato é que estamos derramando nosso sangue sagrado por aí todos os dias sem o menor cuidado. As vítimas de acidentes de trânsito no Brasil (somam mais de 700 mil por ano) são prioritárias e as que mais consomem bolsas de sangue além dos usuários convencionais. Mas, ainda é muito difícil sensibilizar os doadores antes que a tragédia aconteça.

As pessoas insistem em associar o sangue àquilo que lhes é mais importante. Há quem diga que é preciso ter “sangue nos olhos”, expressão usada para demonstrar o quanto de determinação e foco se precisa para atingir objetivos e metas.

Há os apaixonados, pessoas que dizem fazer o sangue ferver pelo outro para expressar o amor incondicional, imensurável, o amor sem fim que sentimos, mas, infelizmente, ainda apenas por quem conhecemos.

Outros dizem que temos de “dar o nosso sangue” por algo que queremos muito. Custe o que custar, estão dispostos a sacrificar aquilo que têm de mais precioso e que os mantém vivos: o próprio sangue. Metaforicamente, claro.

Há quem se refira a chorar lágrimas de sangue para tentar materializar e representar o tamanho da dor causada por algum sofrimento que sempre entendemos ser o maior do mundo: o nosso próprio sofrimento.

Outros, diariamente, derramam seu sangue pelas ruas, o veem manchar o asfalto ou o branco da faixa de pedestres. Estes sim, são os que mais precisam de sangue e de toda a razão pelo qual damos ou doamos o nosso.

Há quem manche as suas mãos de sangue ferindo os outros no trânsito e permitindo que outros o façam. Em tudo na vida há sangue e a própria vida depende dele.

O fato é que a maioria das pessoas está disposta a dar o seu sangue por uma conquista; a ter sangue nos olhos, a ferver o próprio sangue, a dar o seu sangue por qualquer coisa que lhes tenha valor, sobretudo material. Mas, não são capazes de fazer o mesmo quando se trata de outra vida. Se for uma vida desconhecida, então, esse bem maior a ser tutelado e que deveria justificar todos os esforços para salvá-la, acaba perdendo o seu valor diante do egoísmo e da indiferença. Diante da falta de empatia, a arte suprema de colocar-se no lugar do outro.

Talvez o moço ou a moça capaz de dar o seu sangue por uma conquista pensasse diferente se estivesse sozinho no mundo e a sua própria vida dependesse do sangue doado por um desconhecido.

Basta que uma pessoa a quem amamos sofra um acidente e necessite de sangue para que se façam verdadeiras campanhas entre familiares e amigos. Afinal, é a vida de quem amamos que está em jogo e pode ir embora cedo demais caso os apelos não sejam atendidos.

O que vemos é aqueles que nunca se importaram realmente em doar sangue pelo simples fato de poderem salvar uma vida fazerem verdadeiras campanhas e apelos desesperados em redes sociais aos mesmos desconhecidos que eles ignoravam até agora para que doem sangue e salvem a vida de seus amados. Não importa quem seja, qual o tipo sanguíneo, se é rico, se é pobre ou até mesmo (e misericordiosamente) um desafeto seu. Nessa hora tudo se esquece, tudo se perdoa, tudo se releva. O que vale de verdade é aquilo que o outro tem de mais precioso: o sangue.

Muitos parecem lembrar só nessas horas que são humanos. Parece que só nessas horas difíceis, de muita dor e sofrimento, diante da ameaça de perda de quem mais amam, descobrem o verdadeiro valor da vida e também o quanto dependemos uns dos outros nessa vida. Até para nos mantermos vivos.

Não queira saber o quanto de dor há por trás de um telefonema no meio da madrugada (ou a qualquer hora do dia) avisando que a pessoa que você mais ama sofreu um acidente e precisa muito de sangue para sobreviver.

Não queira saber o quanto há de desespero e de sofrimento na incansável corrida contra as horas, os minutos, os segundos, para impedir que se rompa a tênue linha entre viver e morrer.

Nessa hora esquecemos tudo: toda mágoa, toda distância, todo rancor e até o anonimato alheio. Quem está na linha de frente com a morte e depende do sangue doado para sobreviver torna-se o centro das preocupações e de todas as necessidades. O sangue que antes estava nos olhos agora escorre sem parar numa hemorragia que nunca estanca no corpo do outro, e precisa ser reposto.

O sangue que antes fervia de paixão agora precisa ser doado em abundância diante de um novo significado para a própria paixão: sofrimento. Se pudéssemos daríamos todo o nosso sangue pelo outro, mas, sempre aquele que amamos, que conhecemos, que é importante para nós e cuja presença em vida sustenta todo o nosso mundo. Nunca o nosso choro foi tão doído e sofrido ao ponto de fazer verter lágrimas de sangue.

Se não for pedir muito, gostaria que cada um que lesse esse desabafo e pedido desesperado para que doe sangue, refletisse sobre o quanto é importante enquanto ser humano. Que isso fizesse as pessoas pensarem que é todo o bem que fazemos para quem nos ama, e o bem que quem nos ama nos faz é que importa. E que importa ainda mais quando fazemos o bem por aquele que sequer conhecemos, no exercício pleno do mandamento de amar ao próximo como a si mesmo porque assim estaremos amando ao Deus que nos criou.

Assim estaremos querendo para o outro aquilo que queremos para nós mesmos, ainda mais quando se trata do socorro imediato na hora da angústia e no momento em que tudo parece perdido.

O sangue não tem cor, não tem raça, não tem sexo, não tem preconceito. O sangue tem e é a representação maior da vida. O sangue que corre em nós é o mesmo sangue que corre no outro independente de suas tipagens porque tem o mesmo valor e o mesmo poder de manter vivo.

Não espere o acidente ser provocado para começar a dar valor ao seu próprio sangue e ao do outro. Neste exato momento em que seus olhos correm o texto outros olhos ameaçam se fechar para sempre. Não deixe que isto aconteça. Doe sangue. Doe vida.

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