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Artigo – O possível e o necessário


Por Artigo Publicado 23/06/2022 às 21h20 Atualizado 08/11/2022 às 21h08
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Neste artigo, J. Pedro Corrêa comenta sobre a possibilidade de empresas particulares patrocinarem programas de segurança no trânsito. 

“Fazer só o possível não basta. É preciso fazer o necessário”. A frase é atribuída ao ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Wisnton Churchill quando cobrava de seus subordinados sobre o desempenho dos sistemas de defesa britânicos durante o bombardeio aéreo nazista na segunda guerra mundial.

Me lembrei da frase semana passada quando participava da Reunião de Atores em Segurança Viária em Brasília na sede da OPAS. Diante do grande número de prioridades que o governo brasileiro tem pela frente para fazer funcionar o Pnatrans, e em face das limitações de recursos humanos e financeiros, a grande pergunta era como a Senatran vai dar conta de sua missão.

Sem dúvida, é um desafio e tanto pois ninguém ignora o quanto o Brasil precisa melhorar seu sistema de trânsito e para isto vai necessitar de recursos que, neste momento, não estão disponíveis. Aliás, quando promoveu o Denatran à categoria de Secretaria Nacional de Trânsito, o governo já avisou que não teria recursos para reforçar o caixa. Os governos estaduais, por mais que se proponham a ajudar o Pnatrans, tampouco têm sobras orçamentárias para movimentar o programa em seu território. Resta, então aos municípios, encontrar meios de investir em segurança viária e, assim garantir uma participação honrosa na segunda década mundial de ações de trânsito, mas todos sabemos também da penúria em que vivem as prefeituras brasileiras.

Frederico Carneiro, titular da Senatran, mostra coragem para enfrentar o desafio e não esmorece diante do quadro nada animador.

No evento de Brasília, ele não detalhou como fará, mas deixou claro que há espaços para encontrar estes recursos. Oxalá consiga.

Esta semana recebi informações de órgãos de trânsito da Inglaterra sobre a Semana Nacional do Trânsito no Reino Unido. Lá este ano o tema será “Vias Seguras para Todos”. Me deu uma boa ideia de como, no trânsito, as coisas podem ser feitas com mais eficácia e pouco dinheiro.

A semana inglesa vai ocorrer entre 14 e 20 de novembro e reunirá comunidades e profissionais de todo o Reino Unido.

A campanha deste ano terá um público específico focado em cada dia da semana para destacar a variedade de pessoas, organizações e grupos comunitários usuários do trânsito. O primeiro dia será dedicado ao transporte ativo, pedestres, ciclistas; o segundo aos que têm dificuldade física de locomoção; o terceiro, aos motociclistas; o quarto ao setor privado, empregadores e frotistas e o quinto, aos motoristas.

Assim, anunciando em maio e já oferecendo subsídios para desenvolver a campanha em novembro, dá tempo suficiente de preparar os parceiros de cada área para fazer bem seu trabalho. Como em todos os anos, toda a campanha é coordenada pela Think!, uma das mais antigas ONGs do Reino Unido. Um detalhe importante que me chamou atenção. A campanha deste ano é patrocinada por duas empresas. Isso revela que, não tendo recursos próprios para custear seus programas de ação, a entidade busca apoio na iniciativa privada para custear suas ações. A Semana Nacional do Trânsito é a maior moblização do Reino Unido na área do trânsito e envolverá toda a sociedade.

Conto este detalhe para me referir de novo à frase de Churchill: “não basta fazer o possível, é preciso fazer o necessário” ou seja: se não há recursos no orçamento para custear o plano de ações, busque-se o recurso onde ele esteja disponível. Isto levanta um ponto que não me ocorre ter visto na nossa história recente: a participação do setor privado patrocinando ações do governo em programas de trânsito. O tema em si não é novo, mas o envolvimento concreto me parece ser uma espécie de tabu.

Até onde sei os órgãos de governo não se preparam para buscar parcerias com empresas privadas que possam ter interesses em associar suas marcas a determinados tipos de ações.

Por outro lado, por falta de meios, os governos não conseguem realizar seus programas. E quem perde com isto é a sociedade que deixa de se beneficiar de ações de segurança no trânsito.

Trata-se de um tema relativamente novo no país. No entanto, penso que deve se discutir o envolvimento de empresas privadas no apoio a programas de segurança no trânsito. Claro que se trata de tema delicado em razão da forma como esta relação pode se desenvolver. Contudo, é uma parceria que se observa em outros lugares do mundo e que também pode ajudar muito o Brasil. Aliás, a julgar pela maneira intensa como se desenvolve hoje a propaganda e o marketing institucional, me parece inevitável que esta aproximação ocorra de forma mais acelerada. O importante é que transcorra dentro de padrões éticos e responsáveis.

O trânsito com suas múltiplas facetas é um mundo rico de oportunidades para as empresas que estão cada vez mais à cata de novas oportunidades de associarem suas marcas a causas bem como eventos diversos. Estou certo de que, se os órgãos públicos souberem se preparar para “vender seus produtos”, poderão ter boas surpresas como resposta da iniciativa privada.

Importa muito que estejam prontos não apenas fazer o que for possível para melhorar a segurança no trânsito, mas, principalmente o necessário.

* J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito

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