Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nossos sites, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar o Portal do Trânsito, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

Combustível da morte


Por Mariana Czerwonka Publicado 01/10/2013 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h28
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Morte ao volanteCombinação perigosa em Goiás ainda é vilã do trânsito. Em 2013, 1.124 pessoas morreram; causa tem a ver com álcool

“Eram cinco da manhã. Eu já havia me divertido o bastante. Ri e chorei. A noite foi incrível, até fiquei com uma garota. Ela preferiu não prolongar a noite, já estava tarde. Como já tinha bebido muito, saí. Fui para casa. Antes de ir embora, peguei mais uma garrafa de cerveja – era a última da noite. Demorei para encontrar a chave, colocada no bolso de trás. Entrei e liguei o carro. Arranquei, coloquei a segunda marcha, puxei o cinto de segurança e o atei. Na verdade eu temia encontrar alguma blitz, já estava bem alto e facilmente perderia o direito de dirigir. Fui pelas ruas, conduzi o mais cauteloso possível. Depois de passar pelo terceiro sinaleiro, notei que o freio-de-mão ainda estava levantado – o baixei. Fui a diante, mas numa rotatória, um motociclista surgiu do nada. Ele me tirou a atenção e eu, que já tinha o reflexo comprometido, acabei tocando no pneu da moto com a frente do carro. Ele caiu e bateu a cabeça no meio-fio. Eu puxei o volante e capotei o veículo. Quebrei a clavícula – ele morreu. Hoje estou no hospital e respondo criminalmente por isso. Me arrependo – era para ter pego um táxi”.

O depoimento que inicia essa reportagem é de L.F.P, 31, condutor desde os 18 anos, que cometeu uma série de crimes de trânsito, antes de matar uma pessoa. Ele esteve internado no início de setembro, num hospital particular de Goiânia. O atendimento inicial foi feito pelo Corpo de Bombeiros Militar de Goiás. O acidente aconteceu no cruzamento da Avenida 2ª Radial com Avenida Circular e o levaram direto para o Pronto Socorro do Hospital de Urgências de Goiânia. O empresário do ramo farmacêutico só soube do falecimento do motociclista após dois dias de internado. O autor do crime de trânsito, hoje sem documentação que o permita dirigir e indiciado criminalmente pelo artigo 121 do Código Penal Brasileiro (homicídio) com dolo – quando há ciência do risco de matar, ao pegar no volante após ingerir bebida alcoólica. O condutor do veículo é somente um dos 2.448 condutores que tiveram a Carteira Nacional de Habilitação suspensa em Goiás, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-GO).

Responsabilidade

Conforme o presidente interino do Detran-Goiás, coronel Sebastião Vaz, são desempenhadas atividades diariamente para impedir que ações como a de L.F.P. se repitam, mas é um trabalho de ação que já se prolonga e precisa de continuidade. “São ações desenvolvidas pelo Estado de Goiás que têm apresentado ótimos resultados durante o decorrer dos anos”, disse o presidente.

Vaz acrescenta que são atitudes como o Programa Balada Responsável, que dão a notar a queda de acidentes envolvendo álcool e direção. “São 26% a menos de acidentes de trânsito desde a criação do Balada. Sabemos que em 2008 e 2012 as leis ficaram ainda mais rígidas com esse tipo de atitude, mas não podemos deixar que a falta de educação de trânsito seja ainda a responsável pela morte e aleijamento de tantas pessoas em Goiás”, enfatiza.

A delegada especializada em transito de Goiânia, Nilda Andrade, acredita que as atividades desenvolvidas pelo Detran são responsáveis pela queda dos acidentes. Mesmo assim, a titular da delegacia afirma que diariamente acontecem casos com o mesmo perfil. “Recebemos todos os dias na nossa delegacia de polícia pessoas que tiveram seus membros amputados, ou que estão com problemas neurológicos, sempre motivadas por acidentes. Não é de se espantar a quantidade de pessoas que ainda insistem em pegar o volante depois de dirigir. Fazemos prisões, autuações e encaminhamos todos os casos ao Poder Judiciário. Mas mesmo assim notamos que a sensação de impunidade é grande e que eles acabam sendo reincidentes. Não é o fim da batalha. Ela está no começo”, diz.

Trabalho árduo

Ao realizar trabalhos como o Balada Responsável, o Detranzinho, com objetivo de incentivar a educação de trânsito a jovens e crianças em escolas e colégios públicos e privados; o Palestra nas Escolas, que tem objetivo e abordagem semelhante e o Goiás Sinalizado, que chegou a mais de 50 cidades com sinalização – especialmente faixas de pedestres – instaladas.

Mesmo assim as pessoas ainda se negam a aceitar as ações realizadas. Segundo o Coronel Vaz, 5% dos motoristas ainda se negam a soprar o etilômetro, conhecido como bafômetro. “Antes, tínhamos 50% de pessoas que se negavam. Temos um avanço nessa questão e isso mostra que o trabalho é por aí. Estamos no caminho certo e Goiás desfruta dos resultados de um trabalho que tem sido árduo”, comemora.

Fonte: DM

Receba as mais lidas da semana por e-mail

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *