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Imprudência no trânsito compromete a segurança das crianças


Por Mariana Czerwonka Publicado 19/10/2014 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h02
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Crianças em segurançaA cada dia, seis menores morrem e 51 sofrem graves acidentes no País. No Distrito Federal, índice cresceu

Elas são mais frágeis e devem receber proteção extra, mas nem por isso escapam dos acidentes fatais no trânsito, que aumentaram 7% em relação a 2013. Apenas no primeiro semestre do ano, 13 crianças de até nove anos morreram nas 184 colisões que acabaram de forma trágica no Distrito Federal. O número    é igual a todo o quantitativo do ano passado.

E apesar de o Departamento de Trânsito do DF (Detran) não ter dados mais recentes, é possível constatar que o índice aumentou. De julho para cá, houve pelo menos outras três vítimas. O  caso mais recente foi no início do mês passado, quando uma criança de 11 anos morreu próximo à entrada do Gama. Um carro foi passar por um quebra-molas quando foi atingido por outro que trafegava em alta velocidade.

Comparativo

Levantamento da Seguradora Líder, administradora do Seguro de  Danos Pessoais Causados por Veículos (DPVAT) no Brasil, revela que a cada dia, seis crianças morrem e   51 sofrem graves acidentes no País. No DF,  a média é de duas mortes por dia, embora os dados do Detran apontem um número bem menor. A seguradora leva  em consideração indenizações pagas pelo seguro em colisões com menores até 14 anos.

“As crianças não têm culpa da  imprudência  dos adultos mal informados que estão deixando isso acontecer. Isso é horrível. É lógico que existem acidentes inevitáveis, mas 90% são evitáveis. A maioria é uma infração de transito feita de modo consciente e que deu errado”, defende o especialista em trânsito Artur Morais.

Para ele, a conta é clara. Faltam educação, respeito pelas leis e fiscalização. Somados às punições demoradas, esses fatores se refletem nas ruas, nos acidentes e nas vidas perdidas. “Não existe uma política   eficiente para a diminuição de acidentes. O gasto que se tem em educação no trânsito é pífio”, acredita o especialista.

Alta velocidade quase provoca tragédia

“Estava pegando a estrada no sentido Unaí (MG). Chegando em um balão, o cara que estava concluindo invadiu minha faixa e bateu na lateral do meu carro”, lembra a dentista Joenny do Lago, de 29 anos. No banco de trás do veículo lotado estavam seus dois filhos, de dois e três anos. “Faltou pouco para o carro atingir o caçula”, conta.

O estrago foi grande, mas  não passou da lataria. Com o impacto inicial, o retrovisor foi jogado em direção à janela da motorista. E o veículo seguiu atingindo toda a lateral do carro. “Ele vinha muito rápido, com o farol alto, e já pressenti que algo errado poderia acontecer. Ainda tentei desviar, joguei o máximo que dava para o lado, mas não tinha muito espaço”, refaz os passos mentalmente.

Depois do impacto, o motorista imprudente seguiu viagem. “Do jeito que ele bateu, se foi. Não parou sequer pra perguntar se estávamos bem. Poderia ter acontecido uma tragédia”, critica.

O homem nunca foi encontrado. Com a velocidade que estava, nem a placa pôde ser anotada. “Se fugiu não é porque ficou com medo, mas porque estava errado”, avalia o especialista em trânsito Artur Morais.

Joenny lembra que, com o impacto, não teve coragem de olhar para trás e ver o estado das crianças. “Perguntei se estavam todos   bem e, só depois que meu cunhado respondeu, olhei para eles”. Felizmente, o pior não aconteceu e Joenny, sem titubear, diz saber   o motivo: “Foi Deus. Foi um livramento de um acontecimento terrível”.

É preciso orientar desde cedo
Aguardando o sinal abrir para pedestres, Rafaela, de oito anos, segura nas mãos da tia Tatiane Sousa Costa,   35. Mesmo com uma multidão passando entre os carros, preferem esperar. “Por que não atravessar?”, perguntou a sobrinha. “Porque o carro pode vir de repente e atropelar a gente”, ouviu.
Para Tatiane, a estatística de crianças mortas  assusta,  e ela busca fazer a sua parte. Quando sai com a garota, a instrui. “É importante ensinar desde cedo a ser cidadã, a ter educação”, diz.
Com Ana Clara, de dois anos e três meses, no colo, Alexandre Maia, 35, revela que não se sente 100% seguro. Ele conta que sempre foi muito responsável no trânsito e, apesar de muita coisa ter mudado após o nascimento da primogênita, isso não teve alteração.
“Confesso que de vez em quando dou uma bobeada, deixo fora da cadeirinha porque ela reclama, mas sei que é muito importante”, assume. E pondera que é preciso tomar cuidados tanto ao volante quanto ao atravessar as pistas. “Tudo é muito perigoso”, completa.
Lei da Cadeirinha
Em três anos, o número daqueles que desobedeceram a  Lei da Cadeirinha cresceu 94%. Em 2011, foram flagrados 606 casos, contra 1.178 no primeiro semestre deste ano. Nos carros com cinto de três pontos, as crianças de até um ano devem viajar no bebê conforto. Entre um e quatro anos, o transporte passa para a cadeirinha,   presa ao cinto.  Até sete anos e meio, é necessário o assento de elevação.
Susto guardado na memória
No meio de um blecaute que atingiu Águas Claras há quase dois anos, um veículo atingiu uma moto, que voou para o carro em que estavam a bancária Tatiana Rocha, de 36 anos, e sua filha Maria, de sete. A perícia   teria constatado que o impacto se deu quando o automóvel estava a quase 120 quilômetros por hora – o dobro do permitido na via – e tinha uma criança a bordo.
“As luzes apagaram e eu fiquei presa no cruzamento. Os carros começaram a diminuir para a gente poder atravessar”, recorda. O que era para ser solução quase acabou em tragédia. “Um veículo que vinha não percebeu que os outros pisavam no freio e jogou o carro para cima da motocicleta. Ele pegou a moto em cheio pela traseira e a motoqueira voou para cima do nosso carro, ao lado da janela que minha filha estava”, conta.
Apesar do susto, ninguém ficou gravemente ferido no acidente. O carro de Tatiana amorteceu a queda da piloto. A filha ficou abalada, mas não se machucou. Hoje, aos nove, a menina tem medo. “Ela conta a história mil vezes. Toda vez que passa pelo cruzamento, lembra. Pede para ter cuidado”, revela a mãe, ressaltando que Maria também é cuidadosa para atravessar as pistas.
A cautela da garota é  justificada. Segundo dados do DPVAT, 68% do total de crianças de até 14 anos  vítimas de acidentes nos primeiros seis meses deste ano eram pedestres. Dados do Detran revelam que, nesse período, cinco crianças de até nove anos morreram atropeladas no DF – uma a menos que todo o ano de 2013.
Cautela
O especialista em comportamento no trânsito Hartmut Gunther entende que é ainda mais perigoso quando o motorista tem atitudes imprudentes com criança dentro do próprio veículo.
 “Uma coisa é se envolver em um acidente e atingir uma criança que está fora do seu carro. Ninguém sai de casa com esse objetivo e é, como diz o nome, um acidente. Outra coisa é você assumir o risco com um menor que está sob sua responsabilidade”, avalia.
Dicas
1. O cinto de segurança, para a gestante, deve ficar abaixo e não acima da barriga. Esta medida protege mãe e filho.
2. Bebês de até um ano de idade devem ser transportados no banco de trás do carro no bebê conforto. Ele deve ser instalado em posição oposta ao fluxo do carro.
3. Crianças entre um e quatro anos devem ficar na cadeirinha presa com o cinto, no banco de trás, a favor do fluxo do veículo.
4. Aquelas com idade entre quatro e sete anos devem utilizar um assento de elevação no banco traseiro.
5. A partir de sete anos ou 1,45m, a criança pode deixar a cadeirinha, mas utilizando sempre o cinto de segurança no banco traseiro.
6. Crianças só podem utilizar o banco dianteiro a partir dos dez anos.
7. Não transporte crianças no porta-malas, em pé ou no colo de adultos.
8. Utilize a trava de segurança das portas traseiras.
Saiba mais
Segundo a  Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes de trânsito são a segunda principal causa da morte de crianças e jovens entre cinco anos e 29 anos.
O uso de cadeirinhas diminui em até 70% o número de vítimas. Caso desrespeite a lei, o condutor leva sete pontos na carteira, paga  R$ 191,54 de multa e o veículo é retido.
Segundo os dados oficiais, nos seis primeiros meses deste ano,  48%  das indenizações pagas pelo Seguro DPVAT envolvendo crianças de até  14 anos foram em decorrência de acidentes com motocicletas e 44% por carros.

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