Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nossos sites, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar o Portal do Trânsito, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

Etanol: da cana viemos, para a cana voltaremos?


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 01/07/2022 às 21h00
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos. Por que ele é uma opção de combustível praticamente ignorada? Leia a opinião de Rodrigo Vargas.

Recentemente, para ajudar a aquecer a casa no rigoroso inverno gaúcho, adquiri uma lareira ecológica, daquelas abastecidas a álcool. Após uma longa peregrinação para encontrar o álcool específico para o seu uso (álcool etílico 92,8%), me pus a ler o manual da mesma, na esperança de encontrar uma alternativa mais viável ao seu raro combustível. E com a mesma surpresa de quem se atreve a ler a bula de um remédio, lá estava a solução: etanol veicular. Isso mesmo! Aquele vendido em postos de combustível…

Ainda desconfiado, mesmo após algumas pesquisas, recorri à opinião de um colega que dissera também ter uma lareira desse tipo.

Segundo ele, o combustível queimava de forma muito semelhante ao tal álcool 92,8%, aquecendo da mesma forma, sem gerar odores ou fumaça e, pelos meus cálculos, a um custo bem mais acessível. Porém, o mais importante de tudo, disponível em qualquer posto de combustível.

Foi nesse momento que meu colega exclamou um “Aham… tu que pensa! Vai ver se tu acha algum posto na cidade que venda álcool hoje em dia… é mais fácil achar GNV!” Confesso que não entendi, a princípio, o seu comentário. Foi apenas quando, munido do meu galão de 5 litros, me vi passando posto após posto sem encontrar um sequer que ainda vendesse etanol.

O etanol é um biocombustível que, embora aqui seja mais frequentemente gerado a partir da cana-de-açúcar, pode também ser proveniente da mandioca, batata, milho e até da beterraba. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos. Ele é utilizado praticamente desde o início da indústria automotiva como combustível para os motores a combustão interna. No entanto, com a utilização de combustíveis fósseis, no começo do século XX, mais baratos e abundantes, o etanol tornou-se uma opção praticamente ignorada.

As primeiras experiências com o uso do etanol como combustível no Brasil aconteceram no ano de 1925.

Em 1927, a Usina Serra Grande Alagoas (conhecida como USGA) foi a primeira do país a produzir etanol combustível. No início da década seguinte, com a queda nos preços do petróleo, estes empreendimentos não tiveram condições de prosseguir.

Mas foi a partir da crise do petróleo que, na década de 1970, o Governo brasileiro criou o programa Pró-álcool e o etanol novamente recebeu as atenções como biocombustível de extrema utilidade. Enquanto o governo promovia estudos econômicos para a sua produção em grande escala, oferecendo tecnologia e até mesmo subsídios às usinas produtoras, as indústrias automobilísticas instaladas no Brasil na época adaptavam seus motores para receber o álcool combustível. Foi então que surgiriam no mercado as primeiras versões de veículos com motor a álcool e a gasolina. O primeiro lançamento de carro a álcool foi o Fiat 147 em 1978, apelidado de “Cachacinha” na época. Daí até 1986, o carro a álcool ganhou o gosto popular dos brasileiros, sendo que a quase totalidade dos veículos saídos das montadoras brasileiras naquele ano utilizava esse combustível.

A partir de então, entretanto, o consumo de álcool apresentou queda gradual.

Os motivos passam pela alta no preço internacional do açúcar, o que desestimulou a fabricação de álcool. Com o produto escasseando no mercado, o Governo brasileiro iniciou a importação de etanol dos Estados Unidos, em 1991. Ao mesmo tempo retirava, progressivamente, os subsídios à produção, promovendo a quase extinção do Pró-Álcool. A queda no uso desse biocombustível também se deu, ao longo da década de 1990, a problemas técnicos nos motores a álcool, principalmente pela incapacidade de um bom desempenho nos períodos frios. Durante a década, com altas inesperadas no preço do petróleo, o álcool passa a ser misturado à gasolina, numa taxa em torno de vinte por cento, como forma de amenizar o preço da gasolina ao consumidor.

Com a chegada do século XXI e, junto dele, a certeza de escassez e de crescente elevação no preço dos combustíveis fósseis, priorizam-se novamente os investimentos na produção de etanol por um lado e, por outro, um amplo investimento na pesquisa e criação de novos biocombustíveis. Diante de uma situação nacional antiga e inconstante, justamente causada pelas altas e baixas do petróleo, as grandes montadoras brasileiras aprofundaram-se em pesquisas. E, dessa forma, lançaram uma tecnologia revolucionária: os carros dotados de motor bicombustível ou Flex. Estes são fabricados tanto para o uso de gasolina quanto de álcool em qualquer proporção.

Ultimamente, a venda de veículos elétricos vem aumentando significativamente por diversos fatores. São exemplos: a alta constante dos preços dos combustíveis, a maior eficiência dos motores elétricos e, sobretudo, seu apelo ecológico. No entanto, como mencionei em um artigo recentemente escrito, os veículos elétricos ainda encontram diversas questões mal resolvidas, principalmente relacionadas às suas baterias.

Mas e se fosse possível dirigir um carro com motor elétrico sem baterias?

É exatamente o que algumas montadoras têm estudado através de um componente chamado de fuel cell (ou célula de combustível), abastecida com hidrogênio. A ideia, basicamente, é que possamos abastecer o veículo normalmente em um posto de combustível convencional com etanol. E, através de um aparelho chamado reformador, que tira através de um processo de eletrólise o hidrogênio do etanol, transformando-o em eletricidade para alimentar o motor e gerando como produto residual simplesmente água.

O maior desafio que essa tecnologia ainda encontra é que o tal reformador é uma máquina grande, pesada e de alto custo para ser instalada em cada veículo. Por isso, um alternativa seria a instalação não diretamente nos veículos, mas nos postos de combustível. Dessa forma, o processo de eletrólise se realizaria antes de abastecer. Assim, os veículos já seriam abastecidos diretamente com hidrogênio.

Espero que, muito em breve, o etanol deixe de ser apenas uma alternativa aos combustíveis fósseis. Nesse sentido, passe a ser utilizado de acordo com as potencialidades dos seu uso, fazendo que o mercado para esse combustível renovável, assim com a lareira da minha casa, volte a se aquecer.

 

Receba as mais lidas da semana por e-mail

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *