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Pavlov, os cães e os pedestres


Por Márcia Pontes Publicado 27/03/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h47
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Não tem jeito! Faça chuva ou faça sol e a cena se repete todos os dias nas ruas das cidades: pessoas de todas as idades, classes sociais, sexo e até famílias inteiras se arriscam num balé perigoso em meio aos carros para atravessar a via. Todas com algo em comum: a pressa que sucumbe ao bom senso e à segurança. E a gente fica aqui se perguntando se um dia isso vai ter solução.

A alguns metros do palco principal da travessia está a faixa de pedestres com semáforo. Mas aí vem a “desculpa” campeã do mundo: “perde-se tempo precioso tendo de caminhar até a faixa”. Aí as pessoas dão mais valor ao seu tempo precioso e arriscam a sua vida preciosa ziguezagueando por entre os carros para chegar ao outro lado da rua.

Em menos distância que a faixa com semáforo está o túnel, mas a maioria o dispensa. A desculpa da vez é que falta segurança para atravessar pelo túnel e que pessoas já foram assaltadas ali mesmo com as câmeras de vigilância. Daí faz o quê? Se joga no meio da pista com carro vindo de todo lado independente do horário, como se jogar na frente dos carros fosse mais seguro! E olha que não são poucas as notícias de atropelamentos!

Estudos sérios e nem tão recentes assim nos países mais desenvolvidos indicam há muito tempo as passarelas e os quebra-molas ou lombadas não são solução para nada e que essas tentativas de acalmar o trânsito como justifica ou pretende a legislação de trânsito brasileiro só comprometem o fluxo de veículos causando um gargalo. Um mal necessário, diga-se de passagem, pois o ideal seria que cada um fizesse a sua parte para a segurança no trânsito, o que não acontece.

Há quem sugira colocar cercado de proteção ao longo dos trechos mais críticos das vias para evitar que a maioria dos pedestres se arrisque em meio aos carros, mas também há quem especule que além de comprometer o visual arquitetônico existem as vias transversais, o que empurraria os apressados a se amontoarem de modo mais perigoso para a travessia.

Há quem sugira uma passarela, mas aí a desculpa é outra com a mesma tônica: “perder mais tempo ainda?”

O fato é que o errado (atravessar em meio aos carros fora da faixa num balé arriscado) vai sendo naturalizado e aceito como certo enquanto todo mundo cruza os braços e fica lá de boca aberta vendo pessoas serem atropeladas e correrem risco diariamente.

De que adianta focar todo o trabalho de Educação Para o Trânsito (EPT) no aluno se a criança aprende na escola que deve atravessar na faixa, mas os pais a arrastam pelo braço para arriscar a vida na travessia em meio aos carros? Será que não estamos precisando de estímulos em massa para informar, esclarecer, orientar também esses pais e esses adultos para que aprendam comportamentos seguros e defensivos no trânsito?

Essa situação cotidiana remete àquela experiência em que o psicólogo behaviorista Pavlov condicionou um cão a associar o momento da alimentação ao toque de uma sineta. Tocava-se a sineta e o cão salivava esperando por comida.

Já os humanos que atravessam as ruas das cidades fora da faixa e se arriscando em meio aos carros e motos não ouvem sinetas, mas sim buzinas. Ouvem a buzina, sabem que pode ser o anúncio de uma tragédia, sabem que se arriscar atravessando em meio aos carros resulta em atropelamentos, fraturas, sequelas e lesões permanentes, mas ainda assim continuam lá, nesse balé arriscado tentando driblar carros, motos e ônibus.

O cão ouve a sineta e sabe que vem comida. O pedestre ouve a buzina e deveria saber que depois dela vem o acidente. Isso quando dá tempo de buzinar! Numa coisa os behavioristas vão me dar razão e inclusive Pavlov: os animais são mais espertos e mais inteligentes do que os humanos em alguns aspectos.

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