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Artigo – Crianças, pandemia e educação


Por Artigo Publicado 27/04/2021 às 21h00 Atualizado 08/11/2022 às 21h30
 Tempo de leitura estimado: 00:00

J. Pedro Corrêa aborda a mudança no CTB que afeta a maneira correta de usar o equipamento de retenção infantil nos automóveis. Além disso, traz resultados de uma pesquisa sobre como a Covid-19 afetou a educação para o trânsito e mobilidade no sistema escolar. 

*J. Pedro Corrêa

Criança e a pandemiaFoto: Freeimages.com

O dia 28 de abril é marcado em todo o planeta como o dia mundial da educação. Uma boa lembrança para todos os brasileiros, especialmente num momento em que a educação está tão em baixa no nosso país. Não me refiro apenas ao fato de que orçamento do Ministério da Educação tem decrescido nos últimos anos, mas ao próprio estado de quase abandono em que nos encontramos. E – pior que tudo – à falta de perspectivas para um futuro imediato.

Como sempre, neste cantinho, quero colocar minhas ideias na perspectiva do trânsito e mais especificamente da segurança no trânsito. Neste sentido vou pegar dois fatos isolados que me forçam a mostrar preocupação com a educação e com a segurança das crianças no trânsito.

Desde 12 de abril os brasileiros foram sacudidos por 57 mudanças promulgadas no Código de Trânsito Brasileiro, anunciadas pelo Denatran. No começo de abril comentei neste espaço sobre estas alterações. Se já não bastasse o número elevado de mudanças, no dia seguinte veio mais uma enxurrada de resoluções do Contran, regulamentando as alterações do Código.

De grande importância neste conjunto de mudanças, o artigo nº 64, aborda a obrigatoriedade do uso de equipamento de retenção infantil nos automóveis. Devo lembrar que a redação deste artigo propunha afrouxar a punição para quem não usasse de forma adequada bebê conforto, cadeirinha e assento de elevação o que poderia colocar em risco a vida da criança.

Alertados, parlamentares entraram em ação para evitar e acabaram reforçando a antiga redação e assim seu objetivo inicial foi mantido.

No entanto, a resolução 819, do Contran, que regulamenta o transporte das crianças, desconsidera a intenção do texto aprovado e indica que na faixa etária entre 7,5 e 10 anos de idade o equipamento de retenção adequado seria apenas o cinto de segurança do automóvel.

A mudança estava passando despercebida até que oito entidades ligadas à proteção das crianças produziram um alerta chamando a atenção das autoridades para os malefícios que poderiam produzir caso o texto não fosse alterado de novo.

Num “manifesto em defesa da vida das crianças no trânsito” elas ressaltam que, que segundo o IBGE, a estatura média das crianças brasileiras só alcança 1,45m após os 10 anos. E, assim, até essa faixa etária o uso do assento de elevação é indicado como equipamento mais adequado e seguro.

Este dispositivo ajusta a altura da criança ao cinto de segurança do veículo. E garante que este passe pelas partes corretas do corpo – quadril, centro do peito e ombro- assegurando sua proteção plena.

Espera-se, agora que o Contran e Denatran reconsiderem o texto publicado, preservando seu objetivo inicial que é o da efetiva proteção infantil.

Em mensagem de apoio ao alerta das entidades, enfatizei que o preço da segurança é a sua eterna vigilância, parafraseando a questão da liberdade. É um bom exemplo para todos os segmentos da sociedade que orbitam na área do trânsito de como é vital estar atentos aos pequenos detalhes que cada mudança na lei pode provocar.

O outro fato isolado, ligado às crianças, que quero comentar, diz respeito à uma pesquisa recente feita pelo Conselho Europeu de Segurança no Transporte, sediada em Bruxelas.

No início deste ano a ETSC (siga da entidade, em inglês) publicou relatório de uma pesquisa feita com os países membros da Comunidade Europeia. O título é “O impacto da Covid-19 na educação para o trânsito e mobilidade”. A ETSC queria saber como a pandemia havia afetado o ensino da segurança no trânsito e mobilidade nas escolas. Além das lições apreendidas e com que perspectivas estão se preparando para o período pós-covid.

Os especialistas informaram que as aulas e outros trabalhos de segurança no trânsito nas escolas tiveram de ser cancelados como resultado do fechamento das escolas, notadamente os exames dos ciclistas e pedestres que não puderam ser realizados em 2020. Materiais educativos sobre segurança no trânsito e mobilidade foram digitalizados.

Grande trabalho de comunicação foi dirigido aos pais dos alunos buscando efetiva integração com os professores que, em grande parte, tiveram de receber novos treinamentos. Enquanto as escolas passaram a adotar o ensino à distância com variações na forma de ensino, alguns países
acusaram mudanças nos conteúdos ensinados. De forma geral, todos lamentaram o fato de que menos crianças receberam educação para o trânsito e mobilidade em 2020. Com relação ao futuro, a educação para o trânsito e mobilidade deve continuar após a COVID.

Grande expectativa é colocada nos treinamentos de ciclistas e pedestres que, acreditam, já estão afetados pelas novas tendências atuais. O que mais me chamou a atenção neste relatório não foram tanto as respostas dadas pelos participantes, mas a preocupação da entidade em realizar o levantamento como maneira de preparar o planejamento para os tempos futuros. Que falta faz ao nosso ensino de trânsito no Brasil uma preocupação e um planejamento das nossas crianças
e jovens!

Ao divulgar detalhes desta pesquisa europeia minha intenção não é outra senão incentivar educadores, gestores e mesmo consultores em educação para o trânsito que se preocupem com o tema e cuidem mais e melhor do ensino de crianças e jovens. É do futuro do nosso trânsito e do Brasil que estamos falando.

*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito

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