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Culpa por acidentes é dividida entre condutores de carros e motos


Por Mariana Czerwonka Publicado 01/10/2013 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h28
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Culpados por acidentes

Pesquisa aponta que 73% dos acidentados usam moto apenas como meio de transporte e 44% tem lesões graves

Em agosto, HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) divulgou resultados de uma pesquisa sobre causas de acidentes com motociclistas que pode mudar percepções de quem está do lado de dentro do carro. Segundo o estudo realizado de fevereiro a maio deste ano, 51% das colisões foram causadas por outros veículos, contra 49% por motociclistas. As informações são fruto de um levantamento realizado com 326 vítimas em hospitais, dados registrados pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em 169 acidentes e por peritos em 141 ocorrências.

O senso comum pode levar a creer que a maioria das vítimas usam motos como forma de trabalho, mas a pesquisa indica o contrário. De acordo com dados do HC, 77% dos condutores as tem apenas como meio de transporte e pilotam duas horas por dia. Os outros 23% são motofretistas ou mototaxistas e passam 8 de suas 24 horas sobre duas rodas. Assim, os motoboys seriam minoria dos acidentados, justamente por serem mais experientes.

Lesões graves

Mesmo com dez anos de experiência em cima de uma Honda CB 300, Washington Fernando Marques, 37, não escapou de se tornar um dos 44% que sofrem lesões graves. Ele costumava usar a moto para se deslocar entre seus treinos de lutas, o trabalho de padeiro e as aulas que ministrava no CEU (Centro Educacional Unificado) de Sapopemba, bairro paulistano em que mora. Desde 2012, quando ficou desemprego, a CB ganhou outra finalidade e passou a ser usada para serviços de motofrete. Aos oito meses do ofício, se envolveu num acidente com um carro e teve que amputar metade da perna direita.

Enquanto sobe os 27 degraus de sua casa com o auxilio de muletas, ele conta que estava entre dois carros, no “corredor”, quando o veículo do lado direito parou para estacionar próximo a um cruzamento e, no sentido perpendicular, outro automóvel perdeu o controle do freio e o atingiu. “Ou você faz uma via expressa para motoboys, ou vai continuar assim. No trânsito, você não depende só de você”, diz Marques, que tirou recentemente as medidas de sua prótese no HC.

Corredores de moto

De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito, andar pelos corredores é proibido. O documento determina que “ciclomotores devem ser conduzidos pela direita da pista de rolamento, preferencialmente no centro da faixa mais à direita ou no bordo direito da pista sempre que não houver acostamento ou faixa própria a eles destinada, proibida a sua circulação nas vias de trânsito rápido e sobre as calçadas das vias urbanas”.

Na prática, levar essa teoria a ferro e fogo é bem complicado. Para Gilberto Almeida dos Santos, presidente do Sindimoto SP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas de São Paulo), só a construção de corredores exclusivos e campanhas de orientação podem mudar o panorama de acidentes nacionais.

De 2001 para 2011, as mortes de motociclistas no Brasil aumentaram 73%, contra 41% dos ocupantes de carros, segundo o Ministério da Saúde. “As pessoas acabam vendo as motos como um empecilho, e não como uma alternativa de transporte. É a lei do mais forte e quem paga o pato é o mais fraco, que muitas vezes é o motociclista, acompanhado de uma certa imprudência”, diz Santos.

De acordo com a CET, a cidade de São Paulo – que detém a maior frota circulante de motos no país – tem apenas duas faixas exclusivas para motocicletas. Uma na avenida Sumaré e outra no corredor das vias Vergueiro e Liberdade, implantadas em 2006 e 2010, respectivamente. Juntas, elas soman 5 km de extensão. Questionado, o órgão não respondeu se tem planos de construir novas motofaixas.

Imprudência

A imprudência citada por Santos é outro ponto comum e equilibrado entre motocicletas e veículos. Segundo a pesquisa do HC, 88% dos casos em que o condutor da moto é culpado pelo acidente foram classificados como imprudência, contra 84% de outros veículos. Para a pedagoga Cristiana Ferreira do Nascimento, 32, esse pode ter sido um dos fatores que causou o acidente em que ela terminou com a perna esquerda quebrada, fraturas expostas nos dois braços e uma perda de 10 cm do fêmur.

A colisão aconteceu em maio de 2012, quando Cristiana e seu ex-noivo usavam uma Yamaha Ténéré para percorrer a estrada dos Romeiros rumo à última prova do buffet de casamento, marcado para acontecer ainda naquele ano. A via, que liga Barueri ao interior paulista, é muito sinuosa e, numa das curvas, uma caminhonete perdeu o controle e atingiu o casal.

Em 1 das 30 cirurgias que sofreu, Cristina afirma ter perdido 95% do sangue de seu corpo. “Nessa hora, meu médico disse que era o momento de parar, ou ia acabar perdendo a vida. Ele falou: depois de tudo que você passou, sabe que há um risco grande de você acabar perdendo a vida para tentar salvar a perna’”, conta. Assim, no final de 2012 ela se tornou um dos 26 pacientes amputados naquele ano, no HC-FMUSP, dos quais 80% decorreram de acidentes com moto. O número dobrou em relação a 2011, quando foram registrados 13 casos.

A pedagoga conta que há cerca de um mês voltou a lecionar para crianças numa escola de Barueri. “Nos primeiros dias foi muito estranho pra mim e para os alunos, pois estou indo trabalhar de cadeiras de rodas, mas agora, todos estão mais acostumados”, diz. Nem sempre uma retomada otimista de rotina é o mais comum. Segundo o traumalogista do HC-FMUSP, Marcus Leonhardt, os pacientes amputados costumam ficar desmoralizados pela perda do membro. “Nós acabamos dizendo que, com frequencia, o que acontece são os quatro Ds: divórcio, depressão, desempregado e desmoralização”, diz.

Fonte: Revista Auto Esporte

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