
Ensinar crianças a serem pedestres e ciclistas seguros é uma das estratégias mais eficazes — e menos exploradas — da segurança viária. Em um país onde o trânsito ainda mata milhares de pessoas todos os anos, investir na formação desde cedo não é apenas educativo, mas preventivo.
A infância é o período em que comportamentos são moldados. Crianças observam, imitam e internalizam atitudes vistas no cotidiano. Por isso, a forma como adultos atravessam ruas, respeitam sinais e interagem com o espaço urbano influencia diretamente a percepção de risco dos pequenos.
Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito e da Tecnodata Educacional, destaca que a educação para o trânsito precisa ir além do discurso.
“A criança aprende muito mais pelo exemplo do que pela fala. Quando o adulto atravessa fora da faixa ou ignora o semáforo, está ensinando que aquela regra não é importante”, afirma.
Entender o porquê
No caso dos pedestres, o ensino deve começar com noções básicas: atravessar sempre na faixa, olhar para os dois lados, respeitar o semáforo e evitar distrações. Mais do que decorar regras, a criança precisa entender o porquê dessas orientações.
Para ciclistas, a atenção deve ser ainda maior. Capacete, respeito à sinalização, uso de equipamentos refletivos e circulação em locais adequados são pontos fundamentais. Mesmo em passeios recreativos, a bicicleta deve ser tratada como um veículo, e não apenas como brinquedo.
Segundo Celso Mariano, um erro comum é acreditar que a educação no trânsito só começa quando a pessoa vai dirigir.
“Quando chegamos à idade da CNH, muitos comportamentos já estão consolidados. Se não ensinamos segurança desde a infância, estamos sempre correndo atrás do prejuízo”, ressalta.
A escola tem papel importante, mas a família é protagonista nesse processo. Pequenas atitudes, como comentar situações do dia a dia no trânsito, transformar deslocamentos em momentos de aprendizado e reforçar comportamentos corretos, fazem grande diferença.
Cidades mais seguras também ajudam. Calçadas adequadas, travessias visíveis, ciclovias bem projetadas e áreas de tráfego calmo criam ambientes onde crianças conseguem aprender com menos risco.
Educar crianças para o trânsito é investir em uma geração mais consciente, empática e responsável. Os resultados não são imediatos, mas são duradouros — e salvam vidas no longo prazo.