
Um estudo realizado em 2024 sobre comunicação no trânsito, pela plataforma de aprendizado de idiomas Preply, trouxe à tona um retrato preocupante do comportamento dos brasileiros no trânsito. A pesquisa investigou como motoristas e pedestres se comunicam nas ruas e avenidas do país. Além disso, revelou que agressões verbais, uso de palavrões e reações hostis são ocorrências comuns no cotidiano urbano.
Entre os principais achados, destaca-se o fato de que 73,6% dos brasileiros afirmaram já ter presenciado agressões verbais no trânsito. Palavras ofensivas como “idiota” e “imbecil” figuram entre os xingamentos mais relatados. O levantamento ainda aponta que gestos agressivos e comentários depreciativos sobre a habilidade de direção também fazem parte do repertório de hostilidade presente nas vias públicas.
Comunicação no trânsito: palavrões como válvula de escape
O uso de palavrões também apareceu com destaque no estudo. Ou seja, 46% dos entrevistados admitiram recorrer a termos de baixo calão para extravasar a raiva no trânsito. Em muitos casos, não se usa esse tipo de linguagem apenas em situações excepcionais, mas se tornou parte das interações rotineiras com outros condutores ou pedestres.
Ao serem provocados ou ofendidos, uma parcela significativa revida com mais xingamentos, embora a maioria — 64,4% dos participantes — diga tentar evitar confrontos. Apenas 19% afirmaram manter a calma e responder de forma educada nessas situações.
Diferenças regionais no comportamento
A pesquisa também mapeou percepções regionais quanto ao comportamento dos motoristas. São Paulo (36,2%), Rio de Janeiro (20%) e Bahia (6,6%) foram citados como os estados com os condutores mais grosseiros, segundo os próprios brasileiros ouvidos na pesquisa. Por outro lado, os motoristas mais gentis estariam em Santa Catarina (13,4%), Rio Grande do Sul (12,6%) e Minas Gerais (10,8%). Esses são estados tradicionalmente associados a atitudes mais cordiais e respeitosas.
Comunicação e segurança viária
A pesquisa reforça o que especialistas em trânsito já vêm alertando há anos. A conclusão é que o ambiente das vias públicas exige uma comunicação clara, empática e não violenta. Gestos mal interpretados, buzinas excessivas ou comentários ríspidos podem rapidamente escalar para conflitos sérios e até situações de risco.
A falta de controle emocional ao volante, somada à intolerância, contribui para um trânsito mais perigoso e tenso. Promover uma cultura de paz no trânsito passa, necessariamente, por estimular comportamentos mais respeitosos — inclusive na forma como as pessoas se expressam.
Especialista alerta: linguagem reflete comportamento no trânsito
Para o especialista em trânsito e educação Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito, os dados revelam um aspecto muitas vezes negligenciado na segurança viária: o papel da comunicação no cotidiano do tráfego.
“A forma como nos comunicamos no trânsito é um reflexo direto da nossa relação com o outro. Palavrões, gestos agressivos e intolerância não são apenas manifestações isoladas de mau humor — são sintomas de um ambiente adoecido, onde falta empatia e sobra pressa”, avalia Mariano.
Para ele, educar para o trânsito também é educar para o diálogo e o respeito. “O motorista que xinga ou agride verbalmente está alimentando uma cultura de conflito. E isso, mais cedo ou mais tarde, impacta a segurança de todos”, conclui.
Sobre a metodologia
O estudo ocorreu em maio de 2024 com 500 brasileiros, por meio de entrevistas online. O questionário contou com 10 perguntas sobre experiências pessoais com agressões verbais e físicas, uso de palavrões e percepção sobre o comportamento no trânsito em diferentes regiões do país. A análise dos dados permitiu a elaboração de rankings que refletem o panorama da comunicação entre motoristas e pedestres no Brasil.