
A pressa é um dos comportamentos mais marcantes — e perigosos — do trânsito brasileiro. Acelerar em excesso, cortar caminho, pressionar outros motoristas, ignorar limites de velocidade e avançar no amarelo são atitudes comuns em diferentes regiões do país. Mas por que isso se tornou um traço cultural tão forte?
O fenômeno tem explicações sociológicas, urbanas e comportamentais. E, para entender melhor esse comportamento ouvimos Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito.
A pressa como hábito social
Muitas cidades brasileiras se desenvolveram de forma desordenada, com longos deslocamentos, transporte coletivo insuficiente e horários rígidos de trabalho. Isso faz com que a sensação de estar “sempre atrasado” seja quase permanente.
Para Celso Mariano, essa experiência altera a relação das pessoas com o tempo no trânsito. “O motorista brasileiro vive pressionado pela rotina, pelo medo do atraso e pela ideia de que precisa se mover rápido o tempo todo. A pressa acaba virando comportamento automático.”
A ilusão de controle
Mesmo conscientes dos riscos, muitos condutores acreditam que conseguem “dar conta” de dirigir rápido com segurança. É a chamada ilusão de controle, comum em ambientes de risco.
“A pessoa acredita que domina o veículo e que nada vai acontecer com ela. Mas essa sensação é enganosa, porque o trânsito é um ambiente coletivo. Não adianta você dirigir bem se o outro também está sob pressão e pode errar”, explica Mariano.
Uma cultura que normaliza riscos
O trânsito brasileiro sempre foi associado à ideia de esperteza e vantagem. Muitos motoristas acreditam que “se não acelerar, ficará para trás”. Essa lógica reforça comportamentos perigosos. “Falta ao brasileiro compreender que dirigir é um ato social. Cada escolha impacta dezenas de pessoas ao redor. A pressa cega o motorista para essa dimensão coletiva”, afirma o especialista.
Consequências graves da pressa
- Aumento significativo de colisões traseiras
- Mais atropelamentos em travessias
- Maior letalidade em acidentes
- Estresse, agressividade e conflitos
Como mudar esse cenário?
A transformação exige políticas públicas, fiscalização e, sobretudo, mudança de mentalidade. Para Celso Mariano, o primeiro passo é enxergar o trânsito como ambiente humano.
“Quando entendemos que há vidas envolvidas, reduzimos naturalmente o ritmo. Ninguém deveria dirigir como se estivesse em uma corrida.”
Fenômeno cultural
A pressa no trânsito brasileiro não é apenas um comportamento individual — é um fenômeno cultural consolidado. Entendê-lo é fundamental para reduzir sinistros e promover uma convivência mais respeitosa nas ruas.