Por que alguns países quase zeraram mortes no trânsito — e o Brasil ainda está distante disso

Entenda as políticas e estratégias que levaram países a reduzirem drasticamente as mortes no trânsito e por que o Brasil ainda enfrenta dificuldades para avançar nesse cenário.


Por Redação
mortes no trânsito Suecia
O conceito de “Visão Zero”, criado na Suécia, é um dos principais modelos de sucesso. Foto: ixuskmitl@hotmail.com para Depositphotos

Ao observar países que alcançaram índices baixíssimos de mortes no trânsito — como Suécia, Noruega, Holanda e Japão — surge uma pergunta inevitável: por que o Brasil, mesmo com legislação robusta, ainda está tão distante desses resultados? A resposta envolve gestão pública, cultura de mobilidade, fiscalização, infraestrutura e prioridades políticas.

O conceito de “Visão Zero”, criado na Suécia, é um dos principais modelos de sucesso. A proposta é simples na teoria, mas complexa na implementação: nenhuma morte no trânsito é aceitável. Isso muda completamente a forma de pensar políticas públicas. Em vez de responsabilizar exclusivamente o motorista, o sistema inteiro é projetado para evitar falhas fatais.

No Brasil, apesar de avanços pontuais, essa mentalidade ainda não está consolidada. As políticas são fragmentadas e muitas vezes reativas, surgindo após grandes tragédias. Países que reduziram mortes investiram de forma contínua e estratégica.

Infraestrutura

Outro ponto é a infraestrutura. Ruas, cruzamentos e rodovias nesses países são projetados para reduzir riscos: faixas mais estreitas, rotatórias eficientes, calçadas amplas, ciclovias integradas e sinalização clara. No Brasil, falta padronização e manutenção adequada. Buracos, iluminação insuficiente, faixas apagadas e projetos antigos aumentam exponencialmente os riscos.

A fiscalização é outro diferencial. Em nações que reduziram mortes, a presença do poder público é constante e baseada em dados. Locais com maior risco recebem mais atenção. No Brasil, parte da população ainda vê a fiscalização como “arrecadatória”, e não como medida de segurança. Isso enfraquece campanhas educativas e incentiva comportamentos inadequados.

Educação

A educação também desempenha papel importante. Crianças nesses países têm contato com temas de mobilidade desde cedo. No Brasil, apesar de iniciativas e campanhas, o trânsito ainda não faz parte da rotina pedagógica de forma estruturada.

As diferenças culturais também contam. Em lugares onde pedestres têm prioridade absoluta, respeitá-los é comportamento natural. No Brasil, muitos ainda não reconhecem o pedestre como parte central da mobilidade urbana.

Tecnologia também faz diferença. Países mais seguros utilizam radares inteligentes, análise de dados e sistemas de alerta que identificam pontos críticos rapidamente. Aqui, embora haja avanços, a implementação é lenta e desigual.

Política

Por fim, há a questão política. Reduzir mortes no trânsito exige continuidade, investimentos constantes e políticas de longo prazo. Países que obtiveram bons resultados mantiveram estratégias por décadas, independentemente de mudanças de governo.

O Brasil, por outro lado, frequentemente altera diretrizes, o que compromete a construção de resultados sustentáveis.

Em resumo, não falta conhecimento — falta prioridade. O Brasil pode, sim, reduzir drasticamente as mortes no trânsito, mas isso exige vontade política, gestão integrada e compreensão de que cada vida preservada representa um avanço civilizatório.

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