
O setor automotivo deve ser um dos mais impactados pela chamada IA agêntica já a partir de 2026. A previsão aparece em um novo estudo global do IEEE (Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos), maior organização técnico-profissional do mundo, que ouviu 400 líderes de tecnologia em seis países, incluindo o Brasil. Segundo o levantamento, 35% dos executivos veem os veículos autônomos como uma das áreas mais afetadas pela IA no próximo ano — no Brasil, esse número cresce para 38%.
A chamada “IA agêntica” representa a próxima evolução da inteligência artificial: diferentemente da IA tradicional, que reage a comandos, ela define metas, planeja, toma decisões e executa tarefas com mínima intervenção humana.
No contexto do trânsito, isso significa carros capazes de antecipar riscos, recalcular rotas em tempo real, detectar falhas na pista e se comunicar com a infraestrutura urbana por meio do conceito V2X — veículos conversando com semáforos, com outros carros e com sistemas da cidade.
Mobilidade que prevê, aprende e colabora
Para especialistas, a chegada da IA agêntica inaugura uma mudança profunda de paradigma. Os veículos deixam de apenas reagir ao ambiente para prever movimentos, aprender com dados e colaborar com o ecossistema urbano, tornando a mobilidade mais segura, fluida e personalizada.
“Estamos entrando em uma fase em que o carro será um agente ativo no trânsito, e não apenas uma máquina conduzida por humanos”, afirma o IEEE no estudo. Para o setor automotivo, isso envolve desde novas arquiteturas de software até sistemas de segurança ainda mais integrados.
Além dos veículos autônomos, o levantamento também aponta robótica (56%) e realidade estendida (38%) entre as tecnologias que mais serão impactadas pela IA em 2026.
Um salto que começa no Brasil
No recorte brasileiro, os setores que devem vivenciar maior transformação por IA incluem:
- Desenvolvimento de software – 60%
- Serviços financeiros – 48%
- Mídia e entretenimento – 48%
- Saúde e educação – 28%
- Telecom – 18%
- Energia – 16%
Mas é o setor automotivo que ganha destaque, especialmente quando observamos o avanço dos sistemas de automação de segurança, análise de tráfego e inteligência embarcada.
O estudo também aponta que 64% dos líderes brasileiros acreditam que a adoção e exploração da IA agêntica continuará em ritmo acelerado no país em 2026, acompanhada de um aumento na contratação de analistas de dados para monitorar precisão, transparência e vulnerabilidades dos sistemas.
Assistententes inteligentes e mudanças no dia a dia
A pesquisa mostra ainda que a IA agêntica deve entrar no cotidiano das pessoas de forma massiva já em 2026. Globalmente:
- 60% preveem adoção em massa da IA agêntica pelos consumidores.
- 52% acreditam no uso para gerenciamento de privacidade digital.
- 41% preveem assistentes pessoais mais autônomos.
- 41% apontam automação de tarefas rotineiras, como compras.
- 36% veem IA como curadora de notícias.
Em outras palavras, a IA que guia o usuário no trânsito será a mesma que ajudará a administrar sua rotina.
Segurança e governança continuam no centro do debate
Apesar do otimismo, os desafios permanecem significativos. Para os entrevistados brasileiros, as principais preocupações são:
- Privacidade e segurança de dados – 48%
- Uso de IA por agentes maliciosos para burlar sistemas – 12%
- Desconfiança social e resistência – 12%
Do ponto de vista corporativo, 54% afirmam que suas organizações integrarão IA em toda a operação, alinhadas a regras governamentais. Outros 34% apontam a necessidade de políticas internas claras sobre como e quando usar IA.
Infraestrutura, trabalho e os próximos passos
Para suportar a expansão da IA — especialmente no trânsito, cuja demanda por dados é gigantesca — o IEEE estima que o mundo precisará de 3 a 7 anos para construir a infraestrutura global de data centers necessária.
E quanto ao impacto no mercado de trabalho? A pesquisa indica que entre 26% e 50% das funções serão ampliadas por IA já em 2026, especialmente em áreas como análise de dados, práticas éticas de IA e modelagem.
Por que isso importa para o trânsito brasileiro?
A chegada da IA agêntica acelera tendências que já vinham ganhando força:
- Sistemas ADAS mais inteligentes
- Veículos conectados em redes de tráfego
- Diagnóstico preditivo de falhas
- Sinalização dinâmica adaptada ao fluxo
- Fiscalização mais precisa
- Integração entre mobilidade pública e privada
Para especialistas, o Brasil está diante de um divisor de águas.
A adoção dessas tecnologias pode reduzir sinistros, otimizar o transporte coletivo e tornar as cidades mais inteligentes — mas só se houver investimento, regulação e políticas públicas compatíveis com essa nova era.