Estudo revela crise de segurança entre motociclistas no Brasil: mortes e invalidez em níveis alarmantes

Estudo da Fundación MAPFRE e IST revela crise entre motociclistas no Brasil: mortes, invalidez e falhas na formação exigem ações urgentes.


Por Mariana Czerwonka
segurança de motociclistas
A situação dos motociclistas no Brasil é uma crise de saúde pública. Foto: Wirestock para Depositphotos

O Brasil vive uma verdadeira epidemia silenciosa no trânsito: a vulnerabilidade e falta de segurança dos motociclistas. Um estudo realizado pela Fundación MAPFRE, em parceria com o Instituto de Segurança no Trânsito (IST), mostra que, apesar de a motocicleta ter se tornado uma solução de mobilidade e uma ferramenta de trabalho para milhões de brasileiros, ela também está no centro de uma crise de saúde pública.

Explosão da frota e seus impactos na segurança de motociclistas

Entre 2000 e 2023, a frota de motocicletas saltou de 4 milhões para 35 milhões de unidades. O fenômeno foi impulsionado por fatores como:

Em diversos estados brasileiros, as motocicletas já superam os automóveis em número de registros. Mas a expansão da frota não veio acompanhada de políticas públicas de segurança eficazes.

Mortalidade e invalidez em números críticos

Os motociclistas são, hoje, o grupo mais vulnerável nas vias brasileiras. O estudo aponta que eles representam 52% das mortes no trânsito e 85% das vítimas de invalidez permanente.

O peso social e econômico é enorme: jovens, muitas vezes provedores de famílias, ficam incapacitados para o trabalho, sobrecarregando os sistemas de saúde e previdência.

Quem é o motociclista brasileiro

A pesquisa entrevistou mais de 1.200 motociclistas de veículos até 300 cilindradas e traçou um perfil detalhado:

Metade dos entrevistados já se envolveu em algum sinistro de trânsito. Homens se envolvem mais em acidentes que mulheres, e os afastamentos do trabalho após lesões variam de poucos dias a mais de um mês.

Comportamentos de risco em destaque

O excesso de velocidade aparece como a infração mais recorrente. 44% das multas aplicadas a motociclistas estão relacionadas a esse comportamento. Além disso:

Formação e habilitação: um ponto crítico

Um dos achados mais preocupantes do estudo é a falha estrutural na formação dos motociclistas.

As principais barreiras para a habilitação são custo elevado, burocracia e exames teóricos que, em muitos casos, tornam-se obstáculos para quem tem baixa escolaridade.

Instrutores de autoescola entrevistados também criticaram o modelo atual de ensino, afirmando que ele prepara apenas para o exame em circuito fechado, e não para a realidade das ruas.

Estrutura precária e fiscalização insuficiente

Além do comportamento dos condutores, fatores externos agravam a insegurança. Buracos, má pavimentação e sinalização deficiente foram apontados como grandes causadores de quedas e acidentes.

A fiscalização, embora vista como necessária, é considerada insuficiente em boa parte do país, especialmente em áreas do interior e nas regiões Norte e Nordeste, onde a condução sem capacete e sem CNH ainda é frequente.

Segmentos específicos: desafios distintos

Recomendações do estudo

A Fundación MAPFRE e o IST defendem um conjunto de medidas integradas para enfrentar a crise:

  1. Educação e conscientização permanentes, com foco em pilotagem defensiva.
  2. Facilitação do acesso à CNH-A, por meio de programas sociais e menos burocracia.
  3. Reforma na formação de condutores, aproximando a prática da realidade do trânsito.
  4. Investimentos em infraestrutura, com pavimentação de qualidade e sinalização adequada.
  5. Fiscalização efetiva e educativa, para coibir comportamentos de risco e reduzir a informalidade.

Um chamado à ação

O estudo é categórico: a situação dos motociclistas no Brasil é uma crise de saúde pública que exige respostas imediatas. Sem mudanças estruturais na formação, fiscalização, infraestrutura e cultura de segurança, o país continuará pagando um preço altíssimo em vidas e em custos sociais.

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