Formação de condutores: o que o Brasil pode aprender com modelos internacionais

Conheça como países como Alemanha, Suécia e EUA formam seus motoristas e o que podemos aprender para garantir segurança no trânsito.


Por Mariana Czerwonka
formação de condutores Brasil
A lição que vem do exterior é clara: não há soluções mágicas. Reduzir custos é importante, mas não pode significar precarizar a formação. Foto: Divulgação Detran/MS

O debate sobre o futuro das autoescolas está no centro da pauta no Brasil. O Ministério dos Transportes propôs tornar facultativa a obrigatoriedade de aulas em Centros de Formação de Condutores (CFCs). Agora, o Congresso se envolveu e também discute possibilidades de alterações no processo. Nada ainda foi resolvido e parece que a discussão ainda irá longe.

A intenção da mudança, de acordo com o Ministério, é reduzir custos e ampliar o acesso à Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mas levanta uma questão crucial: será que flexibilizar a formação não trará riscos à segurança no trânsito?

A experiência internacional mostra que a formação de condutores é tratada como política pública estratégica. Países com baixos índices de mortalidade no trânsito não abrem mão de padrões mínimos de qualificação, combinando teoria, prática supervisionada e cursos específicos de percepção de risco.

Modelos rigorosos na Europa

Na Alemanha, candidatos à habilitação precisam, obrigatoriamente, frequentar autoescolas credenciadas. Além das aulas teóricas, devem cumprir treinamentos práticos e aulas especiais em situações específicas, como direção noturna ou em rodovias. Não se permite aprender apenas com familiares — a presença de instrutores certificados é obrigatória.

Na Holanda, o modelo é semelhante: instrutores precisam de certificação oficial, e os exames práticos e teóricos são conduzidos por órgãos independentes, garantindo padronização. O objetivo é claro: reduzir a variabilidade da formação e assegurar que todos os novos motoristas cheguem às ruas minimamente preparados.

Educação de risco obrigatória: o exemplo da Suécia

A Suécia vai além: lá é obrigatório o curso de riskutbildning, ou educação sobre riscos. O treinamento tem duas partes — uma teórica, que aborda álcool, drogas, fadiga e distrações, e outra prática, em que os alunos vivenciam situações de perda de controle em pistas especiais, simulando neve ou superfícies escorregadias.

Essa vivência busca desenvolver percepção de risco desde o início da vida ao volante. Especialistas apontam o modelo sueco como um dos responsáveis pelo baixo índice de acidentes fatais entre jovens no país.

GDL: dirigir com etapas e restrições

Outro exemplo eficaz vem de países que adotaram o Graduated Driver Licensing (GDL), como Estados Unidos, Canadá e Austrália. O sistema estabelece etapas para os novos motoristas:

Pesquisas mostram que o GDL reduziu significativamente a mortalidade entre jovens condutores. A ideia é simples: diminuir a exposição ao risco nos primeiros meses de direção, quando a inexperiência é maior.

O debate brasileiro

No Brasil, a proposta de tornar a autoescola opcional para quem busca a CNH já gera polêmica. De um lado, há o argumento de inclusão social e redução de custos. De outro, especialistas e órgãos de trânsito alertam que a medida pode resultar em motoristas mal preparados, aumentando o risco de sinistros.

Celso Mariano, especialista em trânsito e diretor do Portal do Trânsito, faz um alerta.

“Formação é política de segurança viária. Não se trata apenas de ensinar a mexer no câmbio; é ensinar a avaliar riscos, respeitar limites e entender consequências. A experiência internacional mostra que estrutura, prática supervisionada e educação de risco salvam vidas.”

Caminho possível: modernizar sem desmontar

A lição que vem do exterior é clara: não há soluções mágicas. Reduzir custos é importante, mas não pode significar precarizar a formação. O Brasil pode — e deve — modernizar o processo, incorporando novas tecnologias, revisando conteúdos e tornando a CNH mais acessível.

“Mas qualquer mudança precisa preservar o que já está comprovado: formação estruturada, supervisão qualificada e políticas que reduzam a exposição ao risco. A pressa em flexibilizar sem salvaguardas pode custar vidas”, conclui Mariano.

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