Sinistros de trânsito: quanto custam para o Brasil — e para você?

Vidas são ceifadas de forma precoce, famílias são desestruturadas e histórias interrompidas em segundos.


Por Mariana Czerwonka
sinistros de trânsito Brasil
Os sinistros de trânsito geram um prejuízo estimado de R$ 50 bilhões por ano no Brasil. Foto: joasouza para Depositphotos

Quando se fala em sinistros de trânsito, a primeira imagem que vem à mente é de dor, perda e sofrimento humano — e com toda razão. Vidas são ceifadas de forma precoce, famílias são desestruturadas, histórias interrompidas em segundos. No entanto, existe um outro lado da tragédia que passa despercebido por muitos: o custo econômico dos sinistros de trânsito, que recai sobre toda a sociedade. Mesmo quem nunca se envolveu em um acidente acaba, direta ou indiretamente, pagando a conta.

Conforme estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), divulgado pelo Portal do Trânsito, os sinistros de trânsito geram um prejuízo estimado de R$ 50 bilhões por ano no Brasil. O levantamento aponta que cada acidente com vítima custa, em média, R$ 261 mil à sociedade, enquanto os sinistros com morte podem ultrapassar os R$ 785 mil em perdas.

O cálculo considera gastos com atendimento médico, reabilitação, perda de produtividade, remoção de veículos, danos à infraestrutura, processos judiciais e prejuízos ao patrimônio público e privado.

O Ministério da Saúde, por sua vez, estima que o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta mais de R$ 3 bilhões anuais com o atendimento de vítimas de sinistros de trânsito, especialmente em traumas graves como fraturas, amputações e lesões neurológicas.

Um peso invisível no seu bolso

Esses bilhões não saem do nada. Eles vêm dos impostos pagos por todos os brasileiros. O sistema público de saúde, a Previdência Social e o INSS — todos afetados — são mantidos com recursos coletivos. Cada cirurgia de urgência, cada dia de internação, cada benefício por incapacidade que se concede a uma vítima representa uma fatia dos recursos que não se investe em outras áreas prioritárias, como educação, saneamento ou segurança pública.

O especialista em trânsito Celso Mariano chama atenção para o impacto silencioso, mas gigantesco, que os sinistros provocam no orçamento público e na vida de quem sequer está envolvido diretamente nos acidentes.

“Mesmo quem nunca sofreu um acidente está pagando pela imprudência de outros. O prejuízo não é só pessoal, é coletivo. E essa dimensão econômica precisa ser mais discutida no Brasil”, afirma.

Previdência pressionada e impacto nas empresas

A Previdência Social também sente os efeitos. Muitos trabalhadores vítimas de acidentes recebem auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, pressionando ainda mais um sistema que já é alvo de discussões sobre sustentabilidade financeira. Empresas também arcam com custos diretos, como afastamento de funcionários, pagamento de benefícios e, além disso tudo, queda de produtividade.

Além disso, há um impacto emocional e financeiro sobre famílias que perdem o provedor ou precisam se reorganizar para cuidar de um ente com deficiência permanente. A perda da capacidade de trabalho é uma das principais sequelas entre sobreviventes de acidentes graves, afetando não só a vítima, mas todo seu círculo social e econômico.

E se todos dirigissem com mais responsabilidade?

A pergunta que incomoda — e deve incomodar — é: por que, mesmo sabendo de tudo isso, ainda há tanta imprudência no trânsito? O uso do celular ao volante, o excesso de velocidade, o desrespeito à sinalização e a direção sob efeito de álcool continuam entre as principais causas de mortes e feridos. E esses comportamentos custam vidas — e bilhões de reais por ano.

“Não é exagero dizer que a imprudência de poucos recai sobre todos nós. Cada acidente evitável é também um desperdício de recursos públicos. Prevenir sinistros é uma forma de cuidar da vida, mas também de cuidar do país”, destaca Celso Mariano.

Um alerta que vai além da estatística

Trânsito seguro não é só um desejo coletivo: é uma responsabilidade compartilhada. Ou seja, ao entender que cada atitude ao volante pode gerar um custo que todos pagam, convida-se o cidadão a adotar uma postura mais consciente, solidária e responsável. Campanhas educativas, fiscalização eficaz e formação de condutores de qualidade são partes importantes desse processo — mas nenhuma delas substitui o compromisso individual com a segurança.

A próxima vez que você pensar em desrespeitar uma regra de trânsito, lembre-se: pode custar mais do que você imagina. E não só para você.

Sair da versão mobile