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Artigo: Otimista


Por Mariana Czerwonka Publicado 02/08/2020 às 16h50 Atualizado 08/11/2022 às 21h45
 Tempo de leitura estimado: 00:00

Como será o nosso trânsito depois da pandemia? Será que aprendemos alguma lição? Quem pergunta é o especialista J. Pedro Corrêa. Leia o artigo!

J. Pedro Corrêa*

Trânsito pós-pandemiaFoto: Arquivo Tecnodata.

Você é otimista em relação ao futuro do trânsito? Em plena pandemia, em que todo mundo está desesperado para saber quando é que isto acaba, a pergunta não é de toda descabida já que a discussão do momento é indagar sobre o novo normal assim que o Covid-19 deixar.

Como será o nosso trânsito depois da pandemia? Será que teremos aprendido (alg)uma lição? Vamos ter menos acidentes e mortes? Bicicletas e outros modais ativos terão, enfim, sua vez? As perguntas não param na mesma medida em que todo mundo também dá palpites. Afinal, em matéria de trânsito e de futebol somos bons de palpites.

Penso que para esperar mudanças significativas no trânsito seria necessário que elas já tivessem sido tentadas ou testadas, mas até onde consigo ver isto ainda não aconteceu. Ademais, os exemplos cotidianos de comportamento do brasileiro diante do Covid-19 não autorizam a acreditar muito em novo normal.

Vejamos dois lados dessa questão:

Sociedade: veículos de comunicação, médicos, especialistas, pesquisadores não param de repetir “não saiam de casa”, mas mesmo assim bares, restaurantes, shoppings, lojas, praias estariam lotados se não houvessem restrições. Mesmo sem a abertura das escolas e universidades o movimento de carros volta paulatinamente ao normal aos centros urbanos. São claras indicações de que o novo normal deve ficar para outra oportunidade.

Governo: não apenas não fez como não faz experiências para melhorar fluxo e segurança no trânsito como estão provando as propostas de mudanças no Código para relaxar a legislação, praticamente convidando usuários a abusarem mais do que já fazem. Aumentar a pontuação na CNH de 20 para 40 pontos e a validade da carteira de habilitação de 5 para 10 anos são provas incontestes do descaso para com a decência no trânsito e do desrespeito para com as famílias de mais de 35 mil mortos e centenas de milhares de sequelados em acidentes nas ruas e estradas.

Diante deste quadro como manter algum otimismo sobre o futuro do trânsito?

A julgar pelo cenário atual não é razoável imaginar um trânsito mais organizado, com menos acidentes e menos perdas humanas e materiais a curto prazo. Minhas esperanças estão no médio prazo. Explico:

O trânsito é constituído por três pilares básicos: o homem, o veículo e a via. Nos dois últimos deles temos visto progressos expressivos ainda que, no Brasil, eles têm sido “à moda da casa”, isto é, não é nem para tudo e nem para todos.

É inegável que nossos veículos têm feito avanços importantes com a chegada de tecnologias modernas, oferecendo muito mais segurança. Ocorre que não é para todos pois grande parte da sociedade ainda não tem acesso a estes benefícios e tem de se sujeitar a usar veículos que não oferecem a segurança necessária. Pior: ainda nem temos inspeção veicular para garantir a segurança dos nossos carros. Contudo, o fato de que parte da frota está modernizada já é promissor pois aponta para uma melhoria contínua.

No lado da via temos situações extremas e incríveis.

Temos estradas de primeiro e de terceiro mundo, isto é, rodovias pedagiadas, modernas como nos países desenvolvidos, mas, em compensação grande parte da malha rodoviária em estado lastimável. Isto sem falar na malha urbana, com seus problemas de congestionamentos e poluição que dariam outro capítulo especial.

Quero dizer que, em matéria de sistema viário, o país tem o que precisa: conhecimento, acesso à tecnologias e até mesmo recursos para melhorar muito. Este progresso se paga na equação do custo do transporte, no escoamento das safras, no transporte de massa mais humano, etc.

O pilar manco deste tripé do trânsito, então, está no homem e aqui pode-se dividi-lo em dois fatores: gerenciamento do sistema e comportamento dos usuários, os dois dependendo do comando do andar de cima. Temos um sistema nacional de trânsito falho, uma formação de condutores insuficiente, uma fiscalização ineficaz e um comportamento de usuários reprovável.

Quanto tempo leva para consertar isto tudo?

Países desenvolvidos dedicaram décadas, muitos estudos e pesados investimentos para chegar onde estão. Aqui não será diferente, mas será possível usufruir de expressivos benefícios já em alguns anos, mas para isto é vital que o processo de mudança seja manifestado – em palavras e ações – pelo governo para que o setor privado e sociedade marchem juntos.

Por isto explico este meu otimismo moderado. Dos três pilares do trânsito temos domínio sobre dois. Sobre o terceiro não tenho dúvidas do tamanho do desafio mas sei também da capacidade brasileira, capaz de enfrentá-lo à altura. Faltam-nos recursos e liderança.

A sociedade espera que eles não tardem.

*J. Pedro Corrêa é Consultor em programas de Segurança no Trânsito.

 

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