15 de dezembro de 2025

Falta de transporte público empurra população para as motos e aumenta número de mortes no trânsito

O resultado dessa escolha, motivada por fatores socioeconômicos, é um aumento expressivo nos acidentes e mortes no trânsito envolvendo motos.


Por Agência de Notícias Publicado 17/08/2025 às 08h15
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A frota de motocicletas no Brasil está em uma trajetória de alta. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A precariedade do transporte coletivo em diversas regiões do país tem levado muitos brasileiros a optarem pelas motocicletas como alternativa de mobilidade e geração de renda. O resultado dessa escolha, motivada por fatores socioeconômicos, é um aumento expressivo nos acidentes e mortes no trânsito envolvendo motos.

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário nacional de Trânsito, Adrualdo de Lima Catão, destacou que o crescimento da frota de motocicletas no Brasil está diretamente ligado à insuficiência de políticas públicas voltadas à mobilidade urbana. Para ele, garantir acesso ao transporte público de qualidade é essencial para reduzir a exposição de milhões de pessoas aos riscos do trânsito.

“Como é que você vai criar uma trava penalizando o mais pobre? Isso não resolve essa questão socioeconômica. O caminho não é penalizar o mais pobre, é garantir a segurança para ele num transporte público de qualidade”, afirmou Catão, ao se posicionar contra propostas de taxação de motos como compensação aos custos da saúde pública com sinistros.

A frota de motocicletas segue em trajetória de alta e deve atingir a marca de 30 milhões de unidades nas ruas nos próximos meses. Em seis estados das regiões Norte e Nordeste, as motos já representam mais da metade de todos os veículos: Piauí (55%), Pará (54%), Maranhão (60%), Rondônia (51%), Acre (53%) e Ceará (50%).

Catão observa que, com a melhora da renda em determinadas faixas da população, aumenta também o desejo por soluções mais práticas de mobilidade, diante de um transporte público que ainda não atende às necessidades das grandes e médias cidades.

“É natural que as pessoas, melhorando a sua renda, queiram melhorar a sua vida. E o transporte é um problema das grandes cidades e das médias cidades também. Então, é nesse sentido que as pessoas estão, ao buscar a motocicleta, fugindo de um transporte coletivo que ainda precisa melhorar”, avalia o secretário.

Dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reforçam essa tendência.

Segundo levantamento, a participação do transporte público nas viagens motorizadas caiu de forma significativa nas principais regiões metropolitanas do país:

  • Em Manaus, o transporte coletivo representava 79,8% das viagens em 2005 e caiu para 20,4% em 2024;
  • No Rio de Janeiro, a queda foi de 72,2% (em 2012) para 53,1% (em 2024);
  • Em Salvador, o índice passou de 64,9% para 40,3% no mesmo período;
  • Já na região metropolitana de São Paulo, o transporte público caiu de 54,1% em 2017 para 45,4% em 2024.

Esses dados revelam o encolhimento do transporte coletivo como principal meio de deslocamento nas cidades e explicam, em parte, a explosão no uso das motocicletas. Ou seja, especialmente entre trabalhadores informais e entregadores por aplicativo, que dependem da agilidade do veículo para obter renda.

Para a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), é preciso encarar o aumento das mortes entre motociclistas como reflexo direto da ausência de políticas estruturais. A solução, segundo Catão, não está em penalizações adicionais, mas sim na ampliação da oferta de transporte público eficiente, seguro e acessível. E que dessa forma, possa oferecer alternativas reais à população.

Agência de Notícias

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