14 de dezembro de 2025

Longas jornadas, pouco lucro e saúde mental em risco: a realidade dos motoristas de aplicativo no Brasil

Com lucros líquidos que em muitas capitais mal chegam a R$ 2 mil (pouco mais que um salário mínimo) e jornadas de até 60 horas semanais, motoristas de aplicativo enfrentam esgotamento físico e emocional.


Por Assessoria de Imprensa Publicado 27/09/2025 às 18h00
Ouvir: 00:00
motoristas de aplicativo
A comparação entre capitais revela contrastes gritantes. Foto: contact@vladispas.ro para Depositphotos

Setembro é o mês marcado pela campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio e à conscientização sobre saúde mental. No entanto, os números que retratam a rotina de motoristas de aplicativo em diferentes capitais brasileiras escancaram uma realidade preocupante: jornadas de até 60 horas semanaislucros líquidos que muitas vezes mal passam de R$ 3 mil e o peso de um trabalho invisível e pouco reconhecido. 

Em São Paulo, onde os motoristas trabalham em média 60 horas por semana, o lucro líquido mensal gira em torno de R$ 4.186, após gastos elevados com combustível e manutenção. A título de comparação, em cidades como Maceió e São Luíso lucro mensal não chega a R$ 2 mil, mesmo com jornadas de 48 a 50 horas semanais.

Custos 

Os custos de operação — sobretudo a gasolina, que consome entre R$1,7 mil e R$2,4 mil por mês — corroem quase metade do faturamento dos trabalhadores, deixando-os em constante sensação de estarem “correndo atrás do rabo”. Isso sem contar os que precisam alugar veículos, realidade de quase um terço dos motoristas em metrópoles como São Paulo e Manaus, o que aumenta ainda mais a pressão financeira. 

“O motorista de aplicativo vive um paradoxo: trabalha mais que a média da população, mas vê pouco retorno no fim do mês. Essa instabilidade financeira, somada ao cansaço físico e emocional, cria um ambiente propício para ansiedade, depressão e até esgotamento psicológico”, analisa Luiz Gustavo Neves, CEO da GigU, comunidade nacional de apoio a motoristas e entregadores.
 

Segundo ele, o reconhecimento é um dos pontos mais dolorosos. “Esses profissionais são parte essencial da mobilidade urbana e da economia de entrega no Brasil, mas ainda são tratados como invisíveis. O impacto disso na autoestima e na saúde mental é profundo e é preciso debatê-lo com urgência”. 

A comparação entre capitais revela contrastes gritantes.

Em Brasília, por exemplo, a média semanal é de 50 horas trabalhadas para um lucro de apenas R$ 2,5 mil, enquanto em Curitiba, mesmo com 56 horas semanais, o ganho líquido não passa de R$ 3,4 mil. Essa relação direta entre esforço e retorno baixo reforça a frustração generalizada da categoria. 

Para especialistas em saúde mental, a sobrecarga traz riscos sérios. A jornada excessiva compromete o descanso e o convívio familiaraumentando os níveis de estresse e isolamento social — dois fatores fortemente ligados ao adoecimento psíquico. Além disso, a pressão por metas diárias para “fechar as contas” cria um ciclo de ansiedade que afeta diretamente a qualidade de vida. 

A campanha Setembro Amarelo ganha, portanto, um significado ainda mais urgente dentro dessa categoria profissional.

Não podemos falar em saúde mental sem olhar para as condições estruturais de trabalho. Apoio emocional é fundamental, mas sem melhorias concretas nas condições financeiras e sociais desses motoristas, continuaremos enxugando gelo”, completa Neves. 

Em um país onde a mobilidade urbana depende cada vez mais desses trabalhadores, garantir condições dignas, segurança e suporte psicológico não é apenas uma questão individual — é um compromisso social.

Assessoria de Imprensa

Conteúdo enviado por Assessoria de Imprensa especializada. Para encaminhar a sua sugestão, basta enviar e-mail para contato@portaldotransito.com.br

1 comentário

  • Eduardo Cadore
    28/09/2025 às 18:26

    Infelizmente, quando se discutiu uma regulamentação da profissão, a maior parte dos motoristas parece ter sido contra, com receio de taxas. Entretanto, na proposta, salvo engano, existiam elementos que iriam reduzir um pouco o impacto negativo na saúde física e mental desses trabalhadores.

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *