13 de dezembro de 2025

Crise ou virada de chave para as autoescolas? Como a ameaça de desobrigar curso pode se transformar em oportunidade para os CFCs


Por Mariana Czerwonka Publicado 19/11/2025 às 08h15
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A empresária Carla Pontes e o especialista Celso Mariano analisaram o cenário sob uma perspectiva pouco comum: apesar da ameaça evidente, este pode ser o momento mais estratégico da história recente para transformar e profissionalizar os CFCs. Assista na íntegra.

A proposta do Ministério dos Transportes que sugere tornar facultativa a frequência em Centros de Formação de Condutores (CFCs) provocou um abalo profundo no setor. Especialistas, empresários, instrutores e gestores reagiram com preocupação diante da possibilidade de uma mudança estrutural no processo de formação de condutores no Brasil.

Em entrevista ao Portal do Trânsito, a empresária Carla Patrícia Pontes, criadora da plataforma Inove CFC e proprietária de autoescola, e o especialista Celso Mariano, apresentador e educador de trânsito, analisaram o cenário sob uma perspectiva pouco comum: apesar da ameaça evidente, este pode ser o momento mais estratégico da história recente para transformar e profissionalizar os CFCs.

Um cenário de insegurança jurídica que se repete

De acordo com Carla Pontes, a polêmica atual não é um ponto fora da curva. A ideia de desobrigar a frequência às autoescolas é, na verdade, uma agenda política recorrente, utilizada ciclicamente como promessa popular em busca de capital político. Isso já ocorreu — segundo ela — com diferentes figuras públicas, como Jair Bolsonaro, Kim Kataguiri, Kátia Abreu, General Peternelli e, mais recentemente, Renan Calheiros Filho, atual ministro dos Transportes.

A minuta apresentada pelo Ministério esteve em consulta pública e gerou forte reação dos profissionais do setor. O alerta não se deve apenas ao conteúdo da proposta, mas sobretudo ao fato de que grande parte das diretrizes de trânsito no Brasil depende de resoluções, que podem ser alteradas por decisão administrativa, sem debate legislativo aprofundado.

Celso Mariano reforça essa fragilidade.

“O próprio CTB diz que várias das coisas que determinam como funciona o trânsito dependem de resolução. Isso, por si só, cria insegurança jurídica.”

Nesse cenário, a reação inicial dos donos de CFCs — medo, estresse e sensação de ameaça — é natural. Mas, segundo Carla, ficar paralisado pela insegurança é justamente o erro que impede muitos empreendedores de alavancar o negócio.

Da ameaça à oportunidade: o setor precisa se reinventar

A tese central apresentada por Carla Pontes é simples e poderosa: toda crise é um convite à reinvenção.

Em vez de enxergar a minuta como um golpe fatal, os gestores devem se perguntar: “Onde está a oportunidade dentro dessa mudança?”

Ela lembra que o setor passou por transformações profundas antes — como o período em que não havia aulas obrigatórias, ou a polêmica introdução dos simuladores de direção. Em todos os casos, houve adaptação. Alguns sofreram, outros cresceram.

Conforme Carla, o CFC que sobreviverá ao cenário atual não será o mais barato, e sim o mais preparado, aquele que conseguir se posicionar com estratégia, eficiência e visão empresarial.

Vender mais, esperar menos: o fim do modelo passivo

Se houve uma frase que se destacou na entrevista, foi esta:

“O aluno não vai mais bater na tua porta. Você precisa ir até ele.”

Para Carla, o modelo passivo — no qual o cliente chega espontaneamente ao balcão — acabou. A partir de agora, a palavra de ordem é venda ativa. Isso significa atuar em diversas frentes:

  • Redes sociais como principal vitrine comercial.
  • Parcerias locais, incluindo promoções e sorteios com comércios do bairro.
  • Estratégias de upselling e cross-selling, oferecendo, por exemplo, categoria A para quem já tem a B.
  • Campanhas promocionais que gerem uma base de potenciais alunos (leads).

O objetivo: ampliar alcance, gerar contatos e converter mais matrículas.

Do lead ao contrato: profissionalização do funil de vendas

Gerar leads é só o primeiro passo. O diferencial competitivo está em como o CFC organiza, acompanha e converte esses contatos.

Carla explica que o atendimento precisa ser orientado por dados:

  • Entender de onde veio cada lead (Instagram? Indicação? Promoção?).
  • Registrar todas as informações essenciais sobre o cliente.
  • Identificar o nível de urgência (ex.: “Quero começar semana que vem”).
  • Avaliar o tipo de pagamento, priorizando quem compra à vista.
  • Realizar follow-up no momento exato: não antes, não depois.

De acordo com ela, a venda é um momento. Perder o timing é perder dinheiro.

Um funil bem estruturado organiza a jornada do cliente em etapas: primeiro contato, follow-up, oferta progressiva e incentivo ao fechamento. É um processo pensado, não improvisado.

Sem números, não há estratégia: a gestão financeira como base de tudo

Outra crítica feita por Carla é que muitos proprietários desconhecem o próprio custo fixo e variável. Isso impede decisões estratégicas — inclusive a definição da meta mínima de matrículas para manter o negócio vivo.

A meta de vendas, segundo ela, não pode ser “mais que o mês passado”, mas sim:

“o número exato de matrículas necessário para pagar os custos e tirar o pró-labore.”

Com base nisso, o CFC escolhe seu posicionamento:

  • Competir pelo menor preço, apostando em volume.
  • Competir por valor, justificando um preço maior com qualidade, estrutura, frota diferenciada, materiais didáticos e experiência de atendimento.

Quem conhece os próprios números tem poder para decidir. Quem não conhece é levado “ladeira abaixo”, nas palavras da entrevistada.

Tecnologia como pilar: a digitalização chegou para ficar

Toda a visão apresentada só é possível com apoio tecnológico. Carla explica que foi por vivência própria que criou as plataformas Inove CFC e Inove Whats, hoje utilizadas por autoescolas em todo o país.

As ferramentas permitem:

  • dashboard financeiro com receitas e despesas;
  • organização completa de leads e orçamentos;
  • controle de inadimplência;
  • segmentação de contatos;
  • automação de follow-up;
  • cobranças automáticas via WhatsApp;
  • melhor distribuição e medição de desempenho dos atendentes.

Para Carla, tecnologia não é luxo: é a única forma de tornar o CFC mais eficiente, blindado contra crises e preparado para crescer.

Conclusão: crise não é para se esconder — é para agir

No fechamento da entrevista, Carla deixa o conselho que resume toda sua análise:

“Toda hora é momento para você entender a sua empresa e investir nela.”

O recado é claro: cortar custos pode ser necessário, mas sobreviver — e prosperar — exige investimento inteligente, profissionalização e visão estratégica. Os CFCs que adotarem essa postura não apenas resistirão à possível mudança regulatória, como sairão mais fortes do que nunca.

Mariana Czerwonka

Meu nome é Mariana, sou formada em jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná e especialista em Comunicação Empresarial, pela PUC/PR. Desde que comecei a trabalhar, me envolvi com o trânsito, mais especificamente com Educação de Trânsito. Não tem prazer maior no mundo do que trabalhar por um propósito. Posso dizer com orgulho que tenho um grande objetivo: ajudar a salvar vidas! Esse é o meu trabalho. Hoje me sinto um pouco especialista em trânsito, pois já são 11 anos acompanhando diariamente as notícias, as leis, resoluções, e as polêmicas sobre o tema. Sou responsável pelo Portal do Trânsito, um ambiente verdadeiramente integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito.

5 comentários

  • Fábio dos Santos coqueiro
    20/11/2025 às 07:05

    Pessoas inteligentes ,pensam fora da “caixa” realmente a saída para sobrevivenvia desse setor no qual faço parte, não poderia ser melhor, parabéns, pelos conselhos de quem tem visão no assunto!

  • Fábio dos Santos coqueiro
    20/11/2025 às 07:07

    Falaste tudo o que gostaria de ouvir, assino em baixo, também sou instrutor de trânsito em cfc

  • Jadyr de Sousa ramos
    27/11/2025 às 09:23

    Bom, concordo sim com Dr Carla tudo muito bonito tudo muito bom, a senhora só se esqueceu de comunicar com os Detrans. Porque a arbitrariedade e exigência do órgão não trará está paz e dinâmica que e colocada em suas espocisoes, de fato a cobrança e a prepotência dos Detrans irá travar todo o sistema não existirá vagas suficientes e nem logísticas apropriadas para os CFCs. Simplesmente uma empresa não pode ser tutelada por um órgão que limite seu funcionamento quanto a produção e desempenho. Porque aqui a Sr cita que poderemos investir em tecnologia etc. Mas no momento em que o CFC prepara o candidato a empresa não poderá encaminhar seu candidado a prova porque ali existirá um gargalo chamado Detran. Que não disponibilizará as vagas necessárias para o funcionamento dinâmico da empresa. Então com todo respeito . E preciso antes desis nada convidar os Detrans de cada estado a sentar na mesa e discutir este mundo maravilhoso que asr expos. Porque. Não podemos pensar como empresa e ganhar em quantidade quando temos um órgão que punitiviza com arbitrariedades e exigências descabida fora da urbanidade humana . E digo mais em toda a sua apresentação eu não vi uma vírgula sequer ! A respeito de fazer a citação ao Detran que os CFCs. Se tornariam empresas dinâmicas em produção em massa, somos contido pela insegurança das regras porque cada Detran tem seu presidente ex cabide político que na maioria das vezes são delegados médicos, engenheiros ou amigo do s governadores , ali não tem um presidente com formação de trânsito competente. Para o exercício do cargo. Deixando assim o setor a Mercer de insegurança institucional quanto as regras . Eu fico desejoso deste setor meu vingar em sua existência . Mas quando observo o seu foco só na autoescola , fico triste porque no chão de fábrica so entende quem já pisou lá. A minha mãe dizia. Quem sabe da quentura da panela e a colher que mexe. Meu nome e jadyr sou instrutor de trânsito a mais de 14 anos. Se o governo quizer baratear mesmo o processo e só retirar os impostos dos CFCs, não cobrar mais as taxas do Duda, e realizar o exame médico e psicológico nas upas, ou nas clínicas da família. Linha de crédito para os CFCs se modernizaram com veículos novos e econômicos como. Ex veículos elétricos. Porque assim iria desonerar bastante o custo da atividade. Mas cadê que a Sr pensou nisso. Então tem que descer mais um pouquinho o grau do problema para poder enxergar. O governo as comissões os entendidos no assunto não estão nem aí para resolver a situação de fato. E como a segurança no nosso país e necessário a violência para que todo ano se forme palanque em torno de vidas para produzir polêmicas e. Votos.

  • Nilson Aquino Carvalho
    28/11/2025 às 13:24

    Boa tarde!não tenho nada contra ninguém
    Cada umfaz o seu trabalho ,acho uma coi-
    sa muito boa essa.decisao do ministro,ca_
    da um faz a sua aula aonde bem quiser,ou com instrutor autônomo ,isto é bom.
    trator autônomo ou numa auto escola

  • Nilson Aquino Carvalho
    28/11/2025 às 13:30

    Pode escolher aonde fazer a aula de direção,isto é muito bom,com instrutores
    Credenciados,isto é sinal de liberdade,é sair do cativeiro e.partir para a liberdade,
    O Brasil precisa disso,temos que avançar.

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