25 de janeiro de 2025

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25 de janeiro de 2025

Campanhas de conscientização para o trânsito: estamos evoluindo?

O Portal do Trânsito conversou com especialistas da área para entender os pontos fortes e fracos das campanhas de 2024 e as perspectivas para o futuro.


Por Mariana Czerwonka Publicado 10/12/2024 às 08h15
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campanha de conscientização
Recente campanha de conscientização do DetranRS direcionada aos motofretistas. Foto: Reprodução Youtube

As campanhas de conscientização para o trânsito têm sido uma das principais ferramentas para promover comportamentos mais seguros entre motoristas, pedestres e ciclistas. No entanto, a eficácia dessas iniciativas depende de sua execução, alcance e da capacidade de engajar o público. Em 2024, diversas campanhas chamaram atenção por sua abordagem criativa e pelo uso de tecnologias inovadoras, mas ainda restam dúvidas sobre seu impacto duradouro na redução de sinistros de trânsito.

Avaliação das campanhas realizadas em 2024

Este ano foi marcado por iniciativas que buscaram atingir públicos diversos, com destaque para campanhas que abordaram temas sensíveis, como o uso do celular ao volante, a condução sob efeito de álcool e educação no trânsito voltada para o motociclista. Além disso, sempre há um destaque para o Maio Amarelo e para a Semana Nacional de Trânsito, que este ano tiveram como tema “Paz no trânsito começa por você”.

Apesar dos esforços, os números de sinistros de trânsito continuam preocupantes, especialmente em períodos críticos como feriados prolongados e férias. Isso levanta a questão: estamos realmente atingindo o comportamento dos motoristas ou as campanhas ainda falham em sensibilizar?

O papel das campanhas educativas

Segundo especialistas, campanhas de conscientização são mais eficazes quando combinadas com fiscalização rigorosa e educação contínua. Um ponto positivo observado em 2024 foi o uso de tecnologias interativas, como simuladores de direção em eventos públicos, que permitiram às pessoas experimentar situações reais de risco em um ambiente controlado.

Por outro lado, ainda há críticas de que muitas campanhas permanecem genéricas e não consideram as especificidades regionais, como diferenças culturais e desafios urbanos ou rurais. Especialistas apontam que campanhas mais segmentadas poderiam surtir efeitos melhores, principalmente ao abordar ou moradores de áreas onde o transporte alternativo é limitado. Além disso, campanhas que enfatizam apenas os riscos, sem oferecer soluções práticas, tendem a perder apelo, especialmente entre públicos que já têm comportamentos consolidados no trânsito.

Entrevistas com especialistas: a eficácia das campanhas

O Portal do Trânsito conversou com especialistas da área para entender os pontos fortes e fracos das campanhas de 2024 e as perspectivas para o futuro.

De acordo com Carlos Augusto Elias, especialista em trânsito mais conhecido como professor Carlão, do Canal Manual do Trânsito, um dos grandes problemas das campanhas educativas no Brasil é que elas são muito pontuais, quando, na verdade, toda e qualquer campanha, para ter um efeito minimamente razoável, deveria ser permanente e cíclica, sempre ajustando o que pode ser melhorado.

“Via de regra é muito difícil mensurarmos até que ponto uma campanha foi suficiente para mudar o comportamento de alguém e eu acredito que muitas vezes as campanhas elas não são realmente estimuladas pelo poder público pela falta de mensuração. Então, como não se tem resultados confiáveis por conta da realização de campanhas, muitas vezes as campanhas são negligenciadas, então eu acredito que a gente não consegue medir se essas campanhas foram favoráveis para uma mudança do comportamento para garantir maior segurança no trânsito”, diz.

O especialista ressalta que é preciso fazer pesquisas para medir o impacto de como as pessoas receberam informações das campanhas para, a partir daí, poder vislumbrar campanhas futuras mais eficazes.

Já para Irene Rios, especialista em gestão e segurança no trânsito, campanhas educativas de trânsito que envolvem emoção têm maior potencial de sensibilizar o público-alvo. “Durante minha pesquisa de mestrado sobre o tema, os resultados indicaram que o estilo emotivo é particularmente eficaz para comover e incentivar a reflexão. Depoimentos de vítimas, especialmente aqueles que mencionam pessoas e espaços conhecidos do público-alvo, ajudam a humanizar os dados estatísticos e a tornar os riscos do trânsito mais tangíveis”, afirma.

Para ela, essas narrativas emocionais despertam empatia, provocam sensibilidade e têm a capacidade de interferir positivamente na aprendizagem e na aquisição de conhecimentos. “Assim, tornam-se ferramentas poderosas para estimular mudanças comportamentais e internalizar a mensagem de forma mais eficaz”, diz.

Empatia

Esse é um ponto também mencionado pelo professor Carlão. “Eu acredito que cada vez mais precisamos ter campanhas de conscientização para a empatia, a solidariedade, o respeito entre as pessoas, porque quando nós deixamos de lado o ser humano na sua essência e em toda a complexidade das relações e focamos em campanhas educativas pontuais, a gente pode estar perdendo uma mudança realmente efetiva, porque não dá para imaginar que uma pessoa que é egoísta, individualista, dirige, achando que está numa competição, que essa pessoa vai se educar no trânsito, porque no resto da vida dela ela tem comportamentos que acabam mostrando que a coletividade não tem relevância”, aponta.

O especialista defende que se defina o público-alvo das campanhas com base na especificidade local. “Se nós temos uma cidade onde o número de atropelamentos é alto ou ainda que não seja muito alto, mas houve um aumento significativo de um ano para outro, de um mês para outro, que se direcione uma campanha para esse público. Em contrapartida, se esse aumento se deveu a falta de faixa de pedestres, o foco é o pedestre, se ocorreu porque houve um aumento de velocidade, será preciso avaliar se havia algum tipo de medidor de velocidade houve a sua retirada, se ele impactou. Enfim, olhando a especificidade, a gente consegue planejar uma campanha que vá tratar do problema específico”, mostra.

Professor Carlão destaca que o público-alvo sempre deve ser aquele que está mais vulnerável ou que precise ter uma moderação maior no comportamento. “E aí é especialmente essa velocidade e associação de bebida e direção e, em alguns casos, em vários estados, a questão dos motociclistas também é extremamente importante”, pontua.

Inteligência Artificial

Para concluir, Irene Rios cita que a inteligência artificial tem se destacado recentemente como uma ferramenta inovadora, principalmente em sua experiência com músicas educativas.

“Uma estratégia que se mostra poderosa na educação para o trânsito, promovendo segurança e cidadania por meio de mensagens acessíveis e envolventes”, explica.

Outro ponto levantado por especialistas é a importância de integrar as campanhas a estratégias de longo prazo, como educação para o trânsito nas escolas e a melhoria da infraestrutura viária. Segundo eles, sem essa base, as campanhas podem gerar conscientização temporária, mas dificilmente consolidam mudanças de comportamento.

Estamos evoluindo?

Embora o Brasil tenha avançado na criação de campanhas mais diversificadas e no uso de novas plataformas para alcançar diferentes públicos, os resultados práticos ainda são limitados. Isso se reflete nos números de sinistros e mortes no trânsito, que ainda estão muito acima dos índices registrados em países de referência na segurança viária.

Para realmente evoluir, é necessário combinar campanhas de conscientização a ações efetivas de fiscalização, infraestrutura e educação. Além disso, o uso de dados para personalizar campanhas de acordo com os desafios de cada região pode ser um diferencial.

A conclusão dos especialistas é que o trânsito não é apenas uma questão de regras; é um reflexo do comportamento humano. Campanhas que apelam para a empatia, a responsabilidade coletiva e a segurança como um direito de todos têm maior potencial de causar impacto. A evolução está acontecendo, mas ainda há um longo caminho a percorrer para transformar a cultura do trânsito no Brasil.

1 comentário

  • Fabio Tome Soares
    10/12/2024 às 22:25

    Brasil começou de trás para frente!
    Com mais de 25 anos de ctb, se tivessemos iniciado co forme a própria previsão do ctb, toda geração que iniciou os estudos na 1 série e concluiu uma graduação já teria sido preparada para comportamentos éticos, morais e civis em relação ao trânsito! Mas nunca é tarde para cumprir o que a própria lei determina! Mas na realidade, sabemos que.o.assunto “trânsito ” não é, é nunca foi prioridade no Brasil! Lamentável! Façamos nossa parte como cidadão!

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