Especial Dia da Mulher: cada mulher pode escrever a sua versão da história
Em outubro de 2000, durante uma viagem a Santa Catarina, um caminhão carregado com minério de ferro, colidiu com o carro em que estavam cinco ocupantes. Carlena Lazule Weber, na época com 21 anos foi a única sobrevivente. Desde então, o acidente deixou marcas (no carro estavam seus pais, um primo e uma amiga), e mudou repentinamente e definitivamente a vida da assistente social. Após o ocorrido, Carlena ficou tetraplégica e, apesar de ter motivos de sobra para desacreditar na vida, ela decidiu fazer dessa experiência um marco na sua história.
Assim como a maioria das mulheres, Carlena adora maquiagem, e em 2015 lançou o Livro “A Minha Versão da História”, em que não se trata de uma história de superação, muito menos de um livro de autoajuda, mas sim diários e experiências com a intenção de quebrar alguns mitos relacionados as pessoas com deficiência.
Neste Dia Internacional da Mulher, o Portal do Trânsito entrevistou Carlena como um exemplo de tantas outras mulheres fortes e corajosas espalhadas por aí e que merecem, e muito, serem homenageadas nesse dia.
Portal: Quais são as maiores dificuldades que você passou após o acidente?
Carlena: Não saberia especificar apenas uma, pois foram várias… mas acredito que a falta de informação sobre lesão medular e todo universo que envolve a tetraplegia foi minha principal dificuldade.
Portal: Quais foram as suas motivações para que você se reinventasse?
Carlena: Fisioterapia e reabilitação na Rede Sarah! Recuperar movimento de bíceps e equilíbrio de tronco me trouxe uma independência muito importante, valorizada até hoje! Ter conhecido histórias muito parecidas com a minha também me possibilitou desconstruir aquela ideia de que eu era a única a passar por isso. Quando entendi que não estava sozinha, as coisas começaram a acontecer.
Portal: Por que é importante fazer de qualquer experiência um motivo para aprender?
Carlena: Acredito que a vida é um aprendizado constante, então a coisa mais legal disso é que podemos mudar de ideia! Se você nunca mudou de opinião, acredite: alguma coisa está errada!! Porém, não uso meu acidente ou a tetraplegia para justificar grandes aprendizados ou lições, estou evoluindo/amadurecendo e acredito que este é o curso natural da vida humana.
Portal: Como uma vítima do trânsito, qual é a mensagem que deixaria para motoristas imprudentes?
Carlena: Imprudentes, fiquem em casa porque não é legal colocar a vida de outras pessoas em risco!
Portal: No seu livro, qual trecho você enquanto autora gostaria de destacar?
Carlena: Vou destacar uma parte que adoro, pois mostra muito bem meu momento “perdida” logo após tomar consciência do que realmente tinha acontecido:
“Começo a tentar organizar as informações. Onde fica essa tal de medula? Lembrei de ter escutado que quem não anda é paralítico, então tetra poderia ser diferente, quem sabe menos pior. A palavra tetra me remete a copa de 1994 quando o Brasil foi tetracampeão e me juntei a uma multidão no centro de Gravataí… Fico mais tranquila, afinal de contas, comemoramos tanto, ser tetra não deve ser tão ruim assim…”
Portal: Qual mensagem você deixaria para as mulheres?
Carlena: Hoje, percebo o quanto já fui machista! Naturalmente, fui assimilando alguns valores: “isso não é coisa de mulher…”, “mulher de roupa curta tá pedindo…”, “solteira é tudo mal amada…” e por aí vai. Demorei quase 30 anos pra acordar!! Assim, estamos apenas despertando. Infelizmente, muitas ainda não se deram conta disso, mesmo assim está valendo. Surge a necessidade de revermos padrões, comportamentos, modelos de beleza e perfeição. Que nossos direitos e vontades ultrapassem as #hashtags!