Especialistas divergem sobre importância de cinto no ônibus
O acidente ocorrido na Avenida Brasil, nesta terça-feira, quando um ônibus caiu de um viaduto, deixando 7 mortos e 10 feridos, foi um sinal de alerta para a segurança no trânsito. A tragédia teria sido causada por uma briga entre o motorista, André Luiz da Silva, e um passageiro, Rodrigo Santos Freire. Como o condutor não o teria esperado descer, o homem teria pulado a roleta e iniciado uma discussão, que acabaria em agressão, com um chute desferido no rosto do motorista. Em seguida, André teria perdido o controle do veículo, que despencou do viaduto.
Uma questão importante a ser discutida, diante desta situação, é a importância do cinto de segurança em ônibus. Será que se os passageiros estivessem utilizando o equipamento uma parte das mortes poderia ter sido evitada?
O SRZD conversou com Eduardo Biavati, presidente da Em Transito Consultoria e especialista em segurança no trânsito, para saber sua opinião. Eduardo acredita que, mesmo que todos os passageiros estivessem usando cinto, ainda assim haveria mortes e feridos graves. Ele explica: “Quando usado corretamente, o cinto oferecerá segurança ao passageiro até um limite de velocidade, geralmente equivalente a 60 km/h. Ou seja, o cinto não protege sempre e isso nos leva à questão, ainda não periciada, da velocidade em que vinha o micro-ônibus acidentado. Os testemunhos são de que o veículo vinha em alta velocidade ao despencar do viaduto”. O especialista cita a altura da queda e a capotagem no ar como fatores que também impediriam a eficácia do cinto de segurança. “O cinto de segurança funciona com máxima eficiencia apenas em caso de colisões frontais”, conclui Eduardo.
Já Elaine Sizilo, pedagoga especialista em trânsito e colunista do Portal do Trânsito, tem uma visão diferente. “Muitas pessoas morrem em acidentes por não estarem usando cinto de segurança quando são arremessadas para fora do veículo ou quando se chocam com as partes internas do mesmo em paradas súbitas ou capotamentos”, ela afirma. Elaine comenta que a legislação não determina como obrigatório o uso ou presença do equipamento nos ônibus, com a alegação de que os deslocamentos são na maioria de curta distância. Sobre isto, a especialista defende: “Independente das alegações, o acidente ocorrido esta semana na Avenida Brasil e tantos outros envolvendo transporte coletivo de passageiros, seja de menor ou maior proporção, só comprova que no trânsito ninguém está livre ou isento de se acidentar e que, portanto, a segurança deve ser sempre priorizada”.
Elaine também foi questionada sobre a possibilidade do cansaço físico e psicológico dos motoristas causar acidentes. “A pressão diária do trânsito com seus congestionamentos, buzinas e usuários imprudentes, aliada a superlotação dos veículos, tempo limitado para os deslocamentos e algum problema pessoal, por exemplo, pode ser decisivo para se evitar ou causar um acidente”, afirma a especialista. Ela ainda sugere: “O ideal é que o motorista profissional possa contar com treinamentos contínuos de direção defensiva, psicologia de trânsito e relacionamento interpessoal, além de manter uma vida saudável, se alimentando bem, praticando atividade física e, principalmente, respeitando intervalos de descanso”.
“Apesar de todo estresse causado pelo trânsito, nada justifica colocar a própria vida e das demais pessoas em risco. Isto vale tanto para os motoristas profissionais de transporte coletivo, quanto para os próprios passageiros”, diz Elaine. “Regras simples de segurança e educação praticadas pelos passageiros, como segurar-se adequadamente, dizer bom dia e não ficar distraindo o motorista, podem ajudar a diminuir o nível de estresse do condutor e, consequentemente, aumentar a segurança de todos”, conclui a especialista.
O SRZD entrou em contato com o Dr Otacilio Monteiro, vice-presidente da Rio Ônibus, que afirmou não ser possível colocar cintos de segurança nos ônibus sem determinação legal para isto. Foi perguntado, também, se existe alguma forma de controlar o comportamento dos motoristas, que muitas vezes não param no ponto devido. “A empresa consegue detectar o motorista que não pára no ponto e ele é punido. O empresário, que tem sua receita gerada pela venda de passagens, sabe todos os pontos em que o motorista deve parar. Existem fiscais e câmeras nos ônibus”, garante o vice-presidente.