10 de dezembro de 2025

CNH do Brasil: renovação automática da CNH, redução de taxas e dispensa do documento físico

ublicada nesta quarta-feira, a MP 1.327/25 muda regras de renovação da CNH, exames médicos e psicológicos e emissão do documento. Portal do Trânsito analisa os impactos.


Por Mariana Czerwonka Publicado 10/12/2025 às 07h05
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renovação CNH do Brasil
Alguns pontos modernizam o sistema; outros fragilizam processos essenciais. Foto: Governo Federal

Foi publicada hoje a Medida Provisória nº 1.327/2025 que acrescentou mais um capítulo à sucessão de mudanças repentinas que vêm sendo impostas ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB) neste ano. A nova MP altera normas relacionadas à habilitação, aos exames exigidos e à emissão da CNH, compondo o pacote “CNH do Brasil” anunciado pelo governo federal.

O discurso oficial destaca simplificação e redução de custos. Mas, entre especialistas, cresce a preocupação com a coerência técnica, a previsibilidade das regras e os impactos na segurança viária. Para o Portal do Trânsito, a discussão vai muito além de tornar processos mais rápidos: trata-se da solidez de um sistema que forma, habilita e controla a aptidão de milhões de condutores.

O especialista Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito e da Tecnodata Educacional, reforça esse alerta.

O trânsito não é um campo para experimentações improvisadas. Cada mudança precisa ter lastro técnico, debate e estabilidade, porque vidas reais dependem disso”, argumenta.

Renovação automática: avanço tecnológico ou atalho que pode gerar riscos?

A medida mais divulgada pelo governo é a renovação automática da CNH para motoristas inscritos no Registro Nacional Positivo de Condutores (RNPC). Quem não tiver infrações poderá renovar o documento sem realizar exames e sem comparecer ao Detran.

À primeira vista, parece uma facilidade positiva. Mas, vista sob o prisma da segurança, a exclusão da avaliação médica periódica acende um sinal amarelo.

Como lembra Celso Mariano:

“Ser um bom condutor é ótimo, claro. Mas isso não substitui um exame clínico. A ausência de infrações não garante que a pessoa mantém condições plenas de dirigir. São dimensões diferentes que não podem ser confundidas.”

A própria MP reconhece as limitações da proposta ao impor exceções. Não poderão usar o benefício:

  • idosos acima de 70 anos;
  • motoristas com 50 anos ou mais após a primeira renovação automática;
  • condutores cuja validade tenha sido reduzida por condição médica.

Mesmo assim, trata-se de uma mudança estrutural. A ideia de dispensar exames, que historicamente funcionam como barreira mínima de segurança, exige discussão séria — que não ocorreu.

Preço público nacional para exames

A MP também determina que os exames médico e psicológico terão preço público nacional, a ser definido pela Senatran. A proposta parece simplificar, mas pode gerar descompasso entre regiões de realidades econômicas totalmente distintas.

Profissionais que atuam em áreas remotas podem não conseguir manter estruturas com valores unificados. Isso tende a reduzir a oferta, aumentar deslocamentos e, paradoxalmente, dificultar o acesso ao próprio exame que o governo afirma querer tornar mais simples.

Celso Mariano aponta para outro problema, ainda mais profundo.

“Uniformizar preço não uniformiza qualidade. Sem critérios de controle claros, sem fiscalização estruturada e sem participação das instâncias técnicas, criamos uma aparência de padronização, quando na prática estamos fragilizando o processo.”

A MP revoga dispositivos do CTB que estabeleciam critérios objetivos e mecanismos de fiscalização dos profissionais de saúde. Ou seja: ao mesmo tempo em que centraliza valores, reduz parâmetros técnicos — combinação que preocupa.

CNH física ou digital: finalmente uma decisão coerente

Entre tantas mudanças polêmicas, uma é amplamente vista como positiva: a possibilidade de o motorista escolher entre CNH física ou digital, sem precisar manter ambas.

A CNH digital é gratuita, e a obrigatoriedade dupla nunca fez sentido para especialistas e para o próprio cidadão. Aqui, a MP corrige um problema sem gerar outro em seu lugar.

Avaliação psicológica mantida

A MP preserva a exigência de avaliação psicológica para:

  • candidatos à primeira habilitação;
  • condutores que exercem atividade remunerada ao veículo (EAR).

Diante das várias propostas que circulavam, algumas sugerindo enfraquecimento dessa etapa, a manutenção é importante. Contudo, o texto mexe em tantos outros pontos correlatos — como periodicidade, regras de renovação e credenciamento — que ainda será preciso acompanhar a regulamentação e seus efeitos.

Insegurança normativa: o maior problema do momento

O ponto mais crítico não está isolado no conteúdo da MP, mas na forma como o governo tem conduzido a política de trânsito. Celso Mariano tem reiterado essa preocupação.

“Não é possível formar, fiscalizar e educar com um ambiente instável. O trânsito exige continuidade, planejamento e previsibilidade. Mudanças constantes geram desinformação, confusão e prejuízo para todos os segmentos.”

É preciso, portanto, analisar a MP 1.327/25 com cuidado. Alguns pontos modernizam o sistema; outros fragilizam processos essenciais. Mas o maior risco é a instabilidade permanente, que impede profissionais, Detrans e condutores de compreenderem plenamente como o sistema deve funcionar.

Mariana Czerwonka

Meu nome é Mariana, sou formada em jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná e especialista em Comunicação Empresarial, pela PUC/PR. Desde que comecei a trabalhar, me envolvi com o trânsito, mais especificamente com Educação de Trânsito. Não tem prazer maior no mundo do que trabalhar por um propósito. Posso dizer com orgulho que tenho um grande objetivo: ajudar a salvar vidas! Esse é o meu trabalho. Hoje me sinto um pouco especialista em trânsito, pois já são 11 anos acompanhando diariamente as notícias, as leis, resoluções, e as polêmicas sobre o tema. Sou responsável pelo Portal do Trânsito, um ambiente verdadeiramente integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito.

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