07 de dezembro de 2025

De repente, todos os carros deixam de circular. E aí?

E se os carros deixassem de circular, como seria? É uma ideia tão absurda assim? Leia o post de Rodrigo Vargas.


Por Rodrigo Vargas de Souza Publicado 04/05/2023 às 18h00
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Recentemente, recebi o convite para participar de uma live realizada pela minha grande amiga, Valéria Penatti, da Rádio em Trânsito. Na qual ela, de forma muito instigante e como sempre muito inteligente, propunha exatamente esse questionamento: DE REPENTE, TODOS OS CARROS DEIXAM DE CIRCULAR. E AÍ?

Para quem convive diariamente com o trânsito caótico, sobretudo nos grandes centros urbanos, pode parecer absurda a ideia de que problemas de trânsito já afetavam as cidades do Império Romano. Porém, na realidade, as primeiras restrições ao trânsito conhecidas parecem ser aquelas determinadas pelo imperador Júlio César, no século I a.C. Ele proibiu o tráfego de veículos com rodas no centro de Roma durante certas horas do dia.

Coincidentemente, apenas dois dias após a gravação dessa live, fui surpreendido pelas lembranças de três anos atrás do Facebook. Deparei-me com esses registros e com o depoimento do amigo Marcus Coester, SEO da Aeromovel, dizendo:

“SENSACIONAL: Estou em Jacarta, Indonésia, conhecida por ter o trânsito entre os mais caóticos do mundo. Mas todos os domingos a cidade fica irreconhecível das 6 da manhã até as 11, quando os veículos particulares são proibidos de transitar em todo o perímetro central. Uma trégua com a cidade para as pessoas! Muito legal”

Para assistir o vídeo, clique aqui: https://fb.watch/kk5ONZXptB/?mibextid=YCRy0i

A imagem ilustra de forma bastante literal o desafio proposto pela amiga Valéria durante a live. No entanto, proponho ao caro amigo leitor realizar o caminho inverso. Ao invés de eliminar o carro da equação, imaginemos uma outra história, contada dessa vez não pela nossa, mas pela perspectiva desses gigantes de metal que tomam nossas ruas diariamente. E, sem os quais, algumas pessoas simplesmente não viveriam. Saiba mais lendo esse outro artigo.

E antes que você me acuse de ser um idealista imparcial, advirto que, como sempre digo:

“Não sou contra a utilização de automóveis. Só luto por uma cidade na qual as pessoas possam usá-los por opção e não por falta de. Por cidades onde os carros tenham espaço delimitado, não pessoas.”

Rodrigo Vargas de Souza

Sou formado em Psicologia pela Unisinos, atuo desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre. Desde 2015, lotado na Coordenação de Educação para Mobilidade do mesmo órgão. Procuro nos meus textos colocar em discussão alguns dos processos envolvidos na relação do sujeito com o automóvel, percebendo a importância que o trânsito, espaço-tempo desse encontro, vem se tornando um problema de saúde pública. Tendo como objetivos, além de uma crítica às atuais contribuições (ou falta delas) da Psicologia para com a área do trânsito, a problematização da relação entre homem e máquina, os processos de subjetivação derivados dessa relação e suas consequências para o trânsito. Sendo assim, me parece urgente a pesquisa na área, de forma a se chegar a uma anuência metodológica e ética. Bem como a necessidade de a Psicologia do Trânsito posicionar-se de forma a abrir passagem para novas formas heterogêneas de atuação, que considerem as singularidades ao invés de servirem como mais um mecanismo de serialização das experiências humanas.

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