09 de dezembro de 2025

Estudo revela crise de segurança entre motociclistas no Brasil: mortes e invalidez em níveis alarmantes

Estudo da Fundación MAPFRE e IST revela crise entre motociclistas no Brasil: mortes, invalidez e falhas na formação exigem ações urgentes.


Por Mariana Czerwonka Publicado 23/10/2025 às 13h30
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segurança de motociclistas
A situação dos motociclistas no Brasil é uma crise de saúde pública. Foto: Wirestock para Depositphotos

O Brasil vive uma verdadeira epidemia silenciosa no trânsito: a vulnerabilidade e falta de segurança dos motociclistas. Um estudo realizado pela Fundación MAPFRE, em parceria com o Instituto de Segurança no Trânsito (IST), mostra que, apesar de a motocicleta ter se tornado uma solução de mobilidade e uma ferramenta de trabalho para milhões de brasileiros, ela também está no centro de uma crise de saúde pública.

Explosão da frota e seus impactos na segurança de motociclistas

Entre 2000 e 2023, a frota de motocicletas saltou de 4 milhões para 35 milhões de unidades. O fenômeno foi impulsionado por fatores como:

  • Acessibilidade econômica, já que a moto tem custo de aquisição e manutenção menores que o carro.
  • Deficiência do transporte público, insuficiente em cidades de pequeno e médio porte.
  • Ferramenta de trabalho, especialmente com o crescimento das entregas por aplicativos e o uso do mototáxi.
  • Agilidade no trânsito urbano, reduzindo tempo de deslocamento e oferecendo sensação de liberdade.

Em diversos estados brasileiros, as motocicletas já superam os automóveis em número de registros. Mas a expansão da frota não veio acompanhada de políticas públicas de segurança eficazes.

Mortalidade e invalidez em números críticos

Os motociclistas são, hoje, o grupo mais vulnerável nas vias brasileiras. O estudo aponta que eles representam 52% das mortes no trânsito e 85% das vítimas de invalidez permanente.

  • Entre 2000 e 2004, cerca de 18 mil motociclistas morreram em sinistros. Entre 2015 e 2019, esse número saltou para quase 60 mil mortes.
  • Só em 2022, aproximadamente 12 mil motociclistas perderam a vida, o que equivale a 44% de todas as vítimas fatais do trânsito.
  • O impacto é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste, onde quase metade das mortes no trânsito envolve motociclistas.
  • Jovens entre 20 e 24 anos concentram as maiores taxas de mortalidade.
  • De cada 10 indenizações por invalidez permanente pagas pelo DPVAT, mais de 8 foram destinadas a motociclistas.

O peso social e econômico é enorme: jovens, muitas vezes provedores de famílias, ficam incapacitados para o trabalho, sobrecarregando os sistemas de saúde e previdência.

Quem é o motociclista brasileiro

A pesquisa entrevistou mais de 1.200 motociclistas de veículos até 300 cilindradas e traçou um perfil detalhado:

  • Idade média de 38 anos, com maior concentração entre 25 e 44 anos.
  • A motocicleta é usada diariamente por 68% dos entrevistados.
  • Para 72,5%, é o principal meio de transporte.
  • Mais de um terço utiliza a moto como ferramenta de trabalho.

Metade dos entrevistados já se envolveu em algum sinistro de trânsito. Homens se envolvem mais em acidentes que mulheres, e os afastamentos do trabalho após lesões variam de poucos dias a mais de um mês.

Comportamentos de risco em destaque

O excesso de velocidade aparece como a infração mais recorrente. 44% das multas aplicadas a motociclistas estão relacionadas a esse comportamento. Além disso:

  • Quase 25% admitem já ter pilotado sob efeito de álcool em alguma ocasião.
  • Apenas 31% afirmam nunca desobedecer às leis de trânsito.
  • O uso de drogas é minoritário, mas não inexistente.
  • O capacete tem alta adesão (quase 90% sempre utilizam), mas há negligência da maioria no uso de outros equipamentos de proteção, como jaquetas, botas e luvas.

Formação e habilitação: um ponto crítico

Um dos achados mais preocupantes do estudo é a falha estrutural na formação dos motociclistas.

  • Apenas 30% aprenderam a pilotar em autoescola.
  • Mais de 60% aprenderam de forma informal, com familiares, amigos ou por conta própria.
  • 22% começaram a pilotar antes da idade legal.
  • 12% não possuem CNH-A — número ainda maior nas regiões Norte e Nordeste.

As principais barreiras para a habilitação são custo elevado, burocracia e exames teóricos que, em muitos casos, tornam-se obstáculos para quem tem baixa escolaridade.

Instrutores de autoescola entrevistados também criticaram o modelo atual de ensino, afirmando que ele prepara apenas para o exame em circuito fechado, e não para a realidade das ruas.

Estrutura precária e fiscalização insuficiente

Além do comportamento dos condutores, fatores externos agravam a insegurança. Buracos, má pavimentação e sinalização deficiente foram apontados como grandes causadores de quedas e acidentes.

A fiscalização, embora vista como necessária, é considerada insuficiente em boa parte do país, especialmente em áreas do interior e nas regiões Norte e Nordeste, onde a condução sem capacete e sem CNH ainda é frequente.

Segmentos específicos: desafios distintos

  • Mulheres motociclistas: relatam pilotagem mais defensiva e veem na moto uma forma de liberdade e independência.
  • Entregadores por aplicativo: convivem com a pressão do tempo e sofrem estigma social, o que os expõe a maiores riscos.
  • Motociclistas do interior: enfrentam problemas como animais na pista e fiscalização quase inexistente.
  • Condutores sem CNH: principalmente no Norte e Nordeste, circulam sem habilitação devido a barreiras econômicas e à baixa percepção de risco.

Recomendações do estudo

A Fundación MAPFRE e o IST defendem um conjunto de medidas integradas para enfrentar a crise:

  1. Educação e conscientização permanentes, com foco em pilotagem defensiva.
  2. Facilitação do acesso à CNH-A, por meio de programas sociais e menos burocracia.
  3. Reforma na formação de condutores, aproximando a prática da realidade do trânsito.
  4. Investimentos em infraestrutura, com pavimentação de qualidade e sinalização adequada.
  5. Fiscalização efetiva e educativa, para coibir comportamentos de risco e reduzir a informalidade.

Um chamado à ação

O estudo é categórico: a situação dos motociclistas no Brasil é uma crise de saúde pública que exige respostas imediatas. Sem mudanças estruturais na formação, fiscalização, infraestrutura e cultura de segurança, o país continuará pagando um preço altíssimo em vidas e em custos sociais.

Mariana Czerwonka

Meu nome é Mariana, sou formada em jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná e especialista em Comunicação Empresarial, pela PUC/PR. Desde que comecei a trabalhar, me envolvi com o trânsito, mais especificamente com Educação de Trânsito. Não tem prazer maior no mundo do que trabalhar por um propósito. Posso dizer com orgulho que tenho um grande objetivo: ajudar a salvar vidas! Esse é o meu trabalho. Hoje me sinto um pouco especialista em trânsito, pois já são 11 anos acompanhando diariamente as notícias, as leis, resoluções, e as polêmicas sobre o tema. Sou responsável pelo Portal do Trânsito, um ambiente verdadeiramente integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito.

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