12 de dezembro de 2025

Tarifa zero pode transformar o trânsito das grandes cidades, afirma especialista

Para Celso Alves Mariano, do Portal do Trânsito, a tarifa zero pode revolucionar a mobilidade urbana se for bem planejada e implantada com qualidade.


Por Mariana Czerwonka Publicado 11/11/2025 às 08h15
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tarifa zero coletivo
A análise do especialista reforça que o transporte coletivo é o eixo estruturante de qualquer cidade sustentável. Foto: ryzhov para Depositphotos

A adoção da tarifa zero no transporte coletivo — política que elimina a cobrança de passagens para os usuários — vem ganhando espaço nas discussões sobre mobilidade urbana no Brasil. Cidades como São Paulo e Belo Horizonte estudam alternativas de financiamento para tornar o transporte gratuito, enquanto municípios menores já experimentam o modelo com diferentes resultados. Mas, afinal, quais seriam os reais impactos dessa mudança nas grandes cidades?

De acordo com o especialista em trânsito e mobilidade Celso Alves Mariano, diretor do Portal do Trânsito e da Tecnodata Educacional, a implantação da tarifa zero representa “a realização de um sonho” do ponto de vista da mobilidade urbana. No entanto, ele alerta: o sucesso da medida depende de planejamento, qualidade no serviço e mudança cultural entre os usuários. “O transporte coletivo é muito mais lógico, econômico, seguro e inteligente”, resume Mariano.

“O automóvel é um devorador de espaço nas vias: um verdadeiro absurdo pensar em queimar combustível fóssil não renovável para movimentar mais de uma tonelada de metal que transporta apenas uma ou duas pessoas, ocupando 10 ou 12 metros quadrados, enquanto um ônibus típico leva 50 pessoas ocupando 30 a 40 metros quadrados.”

Mais espaço, menos poluição e maior eficiência

Conforme o especialista, a tarifa zero pode gerar benefícios diretos no trânsito das grandes cidades, como redução de congestionamentos, menor emissão de poluentes e melhor aproveitamento do espaço urbano. “Se bem implantado, com a devida migração de parte significativa dos usuários dos veículos particulares para o transporte coletivo, as vias poderiam ser reformuladas para dar mais segurança aos ônibus e aos que permanecerem utilizando veículos individuais”, explica Mariano.

A lógica é simples: quanto mais pessoas optarem pelo transporte público, mais espaço se libera nas vias. Isso significa menos tempo perdido nos deslocamentos e maior fluidez no tráfego — um ganho coletivo que vai além da economia financeira.

Contudo, Mariano destaca que a gratuidade, por si só, não é suficiente para garantir o sucesso da iniciativa. “Ser gratuito não basta”, afirma.

“Nossa cultura é de andar com nossos veículos particulares, com suas vantagens reais — como a liberdade de iniciar o deslocamento a qualquer hora — e imaginárias, como a ilusão de que é possível ter um trânsito fluido quando a maioria usa o carro.”

Mudança cultural e qualidade do serviço são essenciais

O especialista compara o desafio de convencer a população a usar o transporte gratuito à adesão às campanhas de vacinação. “Mesmo quando as vacinas são oferecidas gratuitamente, muitas pessoas não vão se vacinar, seja por dúvidas, preguiça ou falta de percepção do benefício”, exemplifica. “Com o transporte é parecido. O fato de ser grátis não garante o uso. É preciso confiabilidade, conforto e qualidade.”

Segundo Mariano, um sistema eficiente precisa oferecer horários regulares, veículos limpos e bem conservados, além de atendimento de qualidade. “Será preciso convencer o brasileiro de que deixar o carro ou a moto na garagem e caminhar até o ponto de ônibus é um esforço que vale a pena — não apenas para o seu bolso, mas para a economia do país e para o meio ambiente”, pontua.

Planejamento e transparência: pilares para o sucesso

A viabilidade da tarifa zero depende também de gestão pública eficiente e transparente. Mariano alerta para o risco de projetos implantados sem critérios técnicos, com motivações políticas ou interesses ocultos.

“Se houver maturidade e responsabilidade na elaboração e execução do projeto, sem a nefasta presença daqueles benefícios inconfessáveis para um ou outro grupo, o país só tem a ganhar”, afirma.

Para ele, é preciso encarar a política de tarifa zero como uma estratégia de mobilidade urbana, e não apenas como uma ação populista. Isso inclui repensar o financiamento do sistema, definir fontes de custeio sustentáveis e priorizar o transporte coletivo como política pública central.

O futuro da mobilidade urbana passa pela coletividade

A análise do especialista reforça que o transporte coletivo é o eixo estruturante de qualquer cidade sustentável. A tarifa zero, quando associada a uma gestão moderna e responsável, pode representar uma revolução no modo como o espaço urbano é utilizado. “Trata-se de devolver à cidade o que ela tem de mais precioso: o espaço público e a mobilidade das pessoas”, conclui Mariano.

Enquanto a proposta avança em diferentes municípios, o debate segue aberto. De um lado, estão os desafios financeiros e operacionais. De outro, a oportunidade de redefinir o papel do transporte coletivo como bem público essencial, capaz de transformar o trânsito, reduzir desigualdades e, além disso, melhorar a qualidade de vida nas cidades brasileiras.

Mariana Czerwonka

Meu nome é Mariana, sou formada em jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná e especialista em Comunicação Empresarial, pela PUC/PR. Desde que comecei a trabalhar, me envolvi com o trânsito, mais especificamente com Educação de Trânsito. Não tem prazer maior no mundo do que trabalhar por um propósito. Posso dizer com orgulho que tenho um grande objetivo: ajudar a salvar vidas! Esse é o meu trabalho. Hoje me sinto um pouco especialista em trânsito, pois já são 11 anos acompanhando diariamente as notícias, as leis, resoluções, e as polêmicas sobre o tema. Sou responsável pelo Portal do Trânsito, um ambiente verdadeiramente integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito.

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