Paulistano é mais cuidadoso do que carioca
Especialistas acreditam que o rigor na fiscalização e campanhas educativas deram mais resultado em SP
“Diga como andas no trânsito que te direi quem és.” Nas metrópoles onde o menor intervalo de tempo é calculado entre a abertura do sinal e a buzina do carro atrás, o mau comportamento impera, mas os motoristas de São Paulo e do Rio mostram diferenças que resultam em melhorias nas ruas.
É comum na capital carioca flagrar carros parados sobre a faixa de pedestres, bicicletas na contramão, motos em cima de calçadas e motoristas fechando o cruzamento. Enquanto isso, em São Paulo, mesmo com os engarrafamentos batendo recordes atrás de recordes e uma frota de veículos quase três vezes maior, os motoristas parecem andar mais na linha, segundo especialistas e pessoas que viveram nas duas capitais.
As multas por avanço do sinal fechado no Rio, em 2012, chegaram a 301 mil, segundo o Detran. Em São Paulo, houve cerca de cem mil autuações a menos por esse tipo de infração, de acordo com a CET. Isso, apesar de a rede de fiscalização do Rio ser menor: são 313 radares e lombadas eletrônicas, além de 1,2 mil guardas municipais nas ruas por dia. Em São Paulo, há 582 radares e 3.150 agentes com poder de multa.
Autor de “Fé em Deus e Pé na Tábua – Como e Por Que o Trânsito Enlouquece no Brasil”, o antropólogo Roberto DaMatta diz que em São Paulo a discussão sobre educação ocorre há mais tempo. “São Paulo aprendeu primeiro na prática que o igualitarismo é melhor para resolver o problema do que bater”, fala.
Para o mestre em transportes pela USP, Sérgio Ejzenberg, os cariocas costumam ser mais agressivos no trânsito do que paulistanos. “Em São Paulo temos mais frota, mas no Rio os motoristas jogam mais o carro, grudam mais na traseira dos outros veículos.”
Desrespeito às leis vem da cultura do brasileiro
Especialistas ressaltam que comparar a civilidade dos condutores cariocas e paulistanos é difícil, pois é necessário levar em conta a frota – no Rio são 2.636.264 veículos e em São Paulo, 7.379.534 —, a quantidade de fiscais e radares e o enfoque dado a multas. Professor de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, Paulo Cezar Ribeiro avalia que a falta de rigor na fiscalização está entre as razões para o mau comportamento no trânsito.
Para Roberto DaMatta, o brasileiro, em geral, costuma expor no trânsito seus preconceitos. “A cordialidade no trânsito é o reconhecimento do outro como tal, como uma pessoa como você. Se está com pressa, tem de pensar que os outros também estão” diz.
Fonte: Diário de S.Paulo