Especialista diz que idosos deviam fazer testes psicológicos
Uma especialista em avaliação psicológica defendeu nesta terça-feira que os idosos que apresentem algum tipo de declínio funcional deviam fazer exames psicológicos para avaliar a sua aptidão para conduzir, como já acontece com os condutores profissionais.
“A avaliação psicológica tem a possibilidade de avaliar funções cognitivas, aspetos emocionais e comportamentais que uma avaliação médica não consegue aferir de forma rigorosa e formal numa consulta”, disse Inês Saraiva Ferreira, autora portuguesa do estudo “Avaliação psicológica de condutores idosos: Validade de testes neurocognitivos no desempenho de condução automóvel”.
A psicóloga clínica adiantou que a obrigatoriedade destes testes psicológicos, que atualmente abrange apenas os condutores profissionais, devia ser alargada a pessoas que estão a perder capacidades ou que têm doenças neurológicas, demências, Parkinson e esclerose múltipla.
“Nestes grupos clínicos específicos seria importante fazer, de um modo sistemático, avaliações psicológicas”, defendeu.
Mas para isso era necessário que os médicos estivessem sensibilizados para essa necessidade, disse a investigadora, adiantando que os psicólogos também têm de sensibilizar a comunidade científica e a comunidade médica para essa necessidade.
Inês Saraiva Ferreira explicou que “os testes psicológicos são preditivos daquilo que as pessoas idosas fazem em contexto real de trânsito”, conforme constatou no trabalho que realizou e que teve com base a tese de doutorado que apresentou na Universidade de Coimbra.
Segundo o estudo, os idosos com pior desempenho de condução obtiveram resultados inferiores nos testes psicológicos que verificaram as funções executivas, de visão espacial, perceptivas e a atenção.
“Essas pessoas idosas tinham piores desempenhos e eram menos seguras para o trânsito”, comentou.
A investigadora observou que já há profissionais de saúde sensibilizados para a necessidade de ser realizada, além do exame médico, uma avaliação psicológica, através de instrumentos de avaliação mais formais.
“Mas em regra (…) nem sempre os médicos estão sensibilizados para essa necessidade e ficam apenas pela sua avaliação médica, que é mais centrada nas doenças e no aspeto físico e não tanto nos aspetos cognitivos que os psicólogos estão preparados para avaliar”, lamentou.
“Se queremos fazer uma avaliação rigorosa, teremos sempre que recorrer a instrumentos de avaliação psicológica, se não nunca vamos conseguir saber em que condição os idosos estão dirigindo nas estradas”, sustentou.
Sobre o impacto de perder a CNH, a psicóloga disse que no caso dos idosos “é mais uma perda das muitas” que vão tendo, de forma natural, ao longo da vida.
“Perder a carta tem um significado simbólico muito concreto na nossa vida e para as pessoas idosas, muitas vezes, significa perder as pernas”, frisou.
Fonte: TVi