BH bate recorde na frota e nas internações de vítimas de acidentes
Mais carros, mais perigo. Belo Horizonte acaba de alcançar duas marcas que dão a medida dos riscos de enfrentar o trânsito na capital mineira. Os dados mais atualizados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) dão conta de que a frota na cidade ultrapassou a marca de 1,5 milhão de veículos – há exatamente 1.507.228 automóveis levando-se em conta os números até outubro, para uma população de 2,4 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, a mais recente estatística do Sistema Único de Saúde (SUS) revela que acidentes nunca feriram tanta gente. Em BH, 4.392 pessoas foram internadas em hospitais da rede vítimas do trânsito de janeiro a setembro. O número é 12% superior ao do mesmo período do ano passado e o maior já registrado desde 2008, quando o SUS passou a tornar público esse tipo de informação. Naquele ano, 2.624 internações foram registradas, número 67% menor que o atual.
Os dados indicam ainda que um grupo está cada vez mais exposto a perigo: o dos pedestres. As internações por atropelamentos subiram 14% este ano, maior aumento percentual ao lado dos atendimentos a motociclistas. “O que vemos são pessoas nervosas e afobadas pelo tempo que perdem no trânsito. Depois, abusam da velocidade quando o tráfego está mais livre.” Quem descreve é o responsável por fiscalizar o trânsito da capital, o tenente-coronel Roberto Lemos. Comandante do Batalhão de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar de BH, ele aponta ainda desobediência à sinalização e avanços de semáforos como ingredientes para aumentar acidentes. E diz que, apesar da lentidão do trânsito provocado pelo excesso de veículos, a imprudência de motoristas, motociclistas e pedestres explica em boa medida o aumento de pessoas feridas em batidas.
O cenário descrito por Lemos é compartilhado por especialistas. Mais: as perspectivas não são boas no curto prazo. “Sou pessimista. Estamos pagando com acidentes e engarrafamentos por termos investido prioritariamente na circulação com automóveis. Agora, tardiamente, tentamos resolver isso implantando transporte público de qualidade”, opina Ronaldo Guimarães Gouvêa, coordenador geral do Núcleo de Transportes da UFMG (Nucletrans). Para ele, a cena que se desenha para as copas das Confederações (2013) e do Mundo (2014) é de mais conflitos. “Imagine se tivermos uma semifinal aqui no Mineirão e vierem muitos turistas. O deslocamento dessas pessoas pode tornar tudo mais perigoso”, prevê.
Trauma Envolver-se em acidente de trânsito deixa traumas. Uma das recentes vítimas, a auxiliar de serviços Cacilene da Silva não consegue esquecer o acidente que sofreu há três meses no Centro de Belo Horizonte. Ela voltava para o restaurante onde trabalha, com uma cunhada e outra funcionária, e foram atropeladas na Rua Goitacazes por uma van desgovernada, que bateu em um caminhão. As outras duas mulheres morreram na hora. Cacilene ficou 27 dias internada, passou por cirurgia no braço e uma plástica no rosto. “A cena não sai da minha cabeça. Quando a gente viu a van já estava em cima da gente”, lembra. Segundo Cacilene, a sua vida ficou complicada depois do acidente, pois o marido está desempregado e ela não recebeu nenhum tipo de assistência do motorista responsável pelo acidente. “Tenho dois filhos, um de 1 ano e outro de 7. Todos os dias agradeço a Deus pela oportunidade que ele me deu de continuar viva. Mas, quando saio de casa, fico morrendo de medo ao atravessar a rua”, disse.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, as mortes em acidentes na capital subiram 24,4% de janeiro a setembro de 2010 para 2011, saltando de 468 para 606 no período. A secretaria alegou não dispor dos óbitos deste ano. A assessoria do órgão informou que, considerando apenas a rede municipal, contabiliza decréscimo de internações, de 4.590 no ano passado para 3.883 este ano.
Fonte: Em.com.br