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Artigo – Ânimo e esperança


Por Artigo Publicado 09/07/2021 às 17h12 Atualizado 08/11/2022 às 21h26
 Tempo de leitura estimado: 00:00

J. Pedro Corrêa mostra seu entusiasmo moderado com os resultados parciais dos indicadores de segurança no trânsito em algumas capitais brasileiras em 2020. Além disso, discute como podem influenciar cidades médias e menores no futuro.

*J. Pedro Corrêa

Esperança em FortalezaÁrea de Trânsito Calmo no bairro Itaperi em Fortaleza. Foto: Divulgação Prefeitura de Fortaleza.

Se olharmos o trânsito do Brasil como um todo, volta e meia observa-se um certo desânimo das pessoas diante da pouca evolução (até mesmo involução) dos indicadores de segurança. Negligências governamentais nos diversos níveis, omissão de lideranças, desobediência generalizada de parte da sociedade às leis do trânsito resultam em números de vítimas e perdas gerais. Totalmente inaceitáveis para o nível de desenvolvimento brasileiro.

Eu mesmo tenho dito, aqui nestas conversas semanais com você, leitor, que o pior não é o cenário atual mas a falta de perspectivas para um futuro médio.

Creio que é chegado o momento de tentar reformular este conceito. Não é que o cenário nacional tenha mudado de ponta cabeça, mas alguns indicadores acabam nos incentivando a ficar mais animados. No início desta semana, perguntei para algumas das principais prefeituras de capitais brasileiras como haviam terminado a Primeira Década Mundial de Trânsito. Esta foi encerrada em dezembro de 2020.

Os resultados são animadores, ainda que não decisivos para imaginar uma virada total.

Recebi os primeiros resultados dos relatórios anuais de Curitiba, Fortaleza, Salvador e São Paulo. Ainda não finais mas que já possuem alguns dos dados que estava buscando. Pelo que soube, eles convergem com informações das demais capitais que não tinham ainda concluído o primeiro balanço parcial. Contudo, isto me deixou animado.

Não estava atrás apenas de menores números de mortos, feridos e sinistralidades mas me interessava saber como as prefeituras estavam desempenhando a gestão do trânsito, considerando-se o número de desafios embutidos na condução da mobilidade local. Na verdade, já sabia que algumas cidades que escolhi tiveram em 2020 seus números de vítimas fatais pouco acima dos de 2019.

Pelo conjunto do que ouvi de interlocutores locais e li nos relatórios enviados, dá para perceber que grandes cidades brasileiras estão dando mais importância à gestão do trânsito. E que ele se encontra efetivamente entre as principais prioridades municipais, o que é de se comemorar.

Questões de segurança, engenharia de tráfego, fiscalização, educação, estatísticas estão bem mais presentes no cotidiano dos prefeitos e gestores, responsáveis por estas áreas vitais. Pode parecer óbvio mas esta percepção não era tão comum em gestões passadas e esta era uma razão para o desânimo.

No caso de Fortaleza, por exemplo, foi animador sentir que, entre as principais estratégias para a promoção da segurança no trânsito, destaca-se também a construção de uma cultura de governança do trânsito. Nos últimos anos, a cidade tem conseguido fortalecer sua capacidade institucional para promover esforços de segurança viária, diz o relatório. Deve-se lembrar que durante os últimos anos a prefeitura da capital cearense contou com a consultoria da Iniciativa Bloomberg. Esta desenvolveu um plano de ação para a segurança no trânsito que resultou na redução de mais de 50% de fatalidades desde o início da Década, em 2011.

A Bloomberg concluiu sua missão em Fortaleza e agora ajuda outras capitais brasileiras a melhorar seus indicadores.

De todas as capitais brasileiras, possivelmente Salvador tenha sido aquela que melhores resultados apresentou durante a Década. Saindo de 266 mortos no trânsito em 2010 e chegando ao fim de 2020 com 129. Pelo que sei, a capital baiana ostenta o melhor índice de mortes por grupo de 100.000 habitantes no País, atingindo 4,47, comparável com os líderes europeus que são os melhores do mundo.  É bom lembrar, contudo, que o sino de alerta de Salvador já tocou de novo. Isso porque os números de vítimas depois de 2018 voltaram a crescer, exigindo novas mudanças no processo de contenção. Não é por acaso que a Bloomberg, a partir deste ano, está assessorando capital baiana.

No caso de São Paulo, a maior metrópole do país, em 2020 foram registrados 556 óbitos a menos do que o ano de 2011. Uma redução de mais de 40% no período, o que não é pouco, considerando-se o tamanho da cidade, o aumento da frota e da população no período. O índice de mortes por 100 mil habitantes na capital paulista caiu de 12, em 2011 para 6,56 em 2020.

Pelo que tenho conversado, em várias das maiores cidades do Brasil, o número de vítimas fatais e de feridos graves está estabilizando ou com tendência de pequena baixa. E é esta tendência que é preciso que se converta numa forte inclinação.

Minha análise é que se esta tendência for confirmada por mais alguns anos, é de se esperar que outras cidades, de porte médio e até pequeno, acabarão seguindo o exemplo das maiores. E aí sim poderemos dizer que, enfim, estaremos a caminho do trânsito seguro que tanto aguardamos.

Anima muito ver o progresso nas maiores capitais da grande discussão sobre mobilidade urbana. Se não com restrições ao uso de carros nos centros das cidades mas com (alguns) esforços para a inclusão de modais como bicicletas, pedestres, entre outros. Mesmo que ainda não tenhamos conseguido equacionar o problema, é importante observar a grande preocupação com o número crescente de motociclistas que morrem ou sofrem ferimentos graves no trânsito. Possivelmente esta seja a pauta mais prioritária na agenda nacional do trânsito.

Como disse no início, me sinto mais animado com esta pequena mostra de algumas capitais. Ainda não o suficiente, porém, para apostar todas as minhas fichas na redenção do nosso trânsito.

Por enquanto, é possível ver que o trânsito começa a fazer parte das prioridades das grandes cidades.

Vamos ver até que ponto ele estará presente nos discursos e promessas dos candidatos nas eleições do ano que vem. E, principalmente que lugar ele merecerá na próxima gestão. Parte importante desta expectativa depende de como nós, enquanto sociedade, vamos nos comportar durante o período eleitoral. Se tentaremos influenciar e forçar a inclusão do trânsito como agenda obrigatória.

Se confirmar a tendência de baixa dos números de sinistros de trânsito, se constatarmos que as maiores cidades do país veem o trânsito agora como prioridade e que o debate do trânsito seguro possa efetivamente contaminar a grande sociedade, teremos dado um passo gigantesco para levar o país ao pelotão de frente no cenário mundial. E aí sim, sonhar com uma mobilidade segura e sustentável tal como a merecemos.

Precisamos ter claro, contudo, que este cenário ainda está a caminho. Além disso, sua concretização dependerá muito da total vigilância da sociedade para o atingimento deste objetivo. Mobilizar a sociedade para pressionar as lideranças políticas é o papel reservado para nós, que nos interessamos em defender esta bandeira. Faça a sua parte, onde estiver!

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