Carro conectado ganha espaço, mas esbarra em estrutura e segurança
Oferta de sistemas deixa de ser limitada aos modelos mais caros. Conectividade evolui mais rápido que o próprio veículo, diz montadora
Levar o mundo virtual para dentro do carro de modo natural e intuitivo é tarefa difícil para as montadoras, que precisam acompanhar a evolução dos celulares. Elas definem esse movimento como “sair do blackout”. Aos poucos, os carros oferecidos no Brasil começam a abraçar as novas tecnologias de conectividade para se preparar para um mundo onde a conexão na internet sem fio será uma necessidade básica e o carro começará a interagir com a rua. Contudo, as fabricantes esbarram nas limitações de infraestrutura, dependendo do país, e legislações de segurança no trânsito.
Apesar disso, antes de o automóvel “aprender” a ler semáforos, os modelos de entrada começam a receber recursos de conectividade cada vez mais avançados. É uma resposta às novas exigências do consumidor. “65% do nosso mix de produção já sai com o My Link”, afirma o diretor de marketing da General Motors do Brasil, Hermann Mahnke, sobre o sistema de conectividade da montadora disponível para os modelos Prisma, Onix, Spin, Cobalt, entre outros mais caros.
A Ford, que utiliza o sistema Sync nos modelos topo de linha como Edge e Fusion, diz que vai oferecer até o ano que vem conectividade em toda a sua linha disponível no mercado brasileiro. De acordo com o vice-presidente da Ford do Brasil e Mercosul, Rogelio Golfarb, os carros de entrada terão de série sistemas mais simples, porém todos conectados.
“Os de entrada terão disponíveis sistema para pareamento com o celular. Já Fiesta e EcoSport, por exemplo, terão comando por voz, sincronização com o celular e músicas. Edge e Fusion vêm com o Sync, que também terá sua evolução”, afirma.
Segundo o executivo, o próximo recurso que o Sync trará no Brasil será o de aviso à polícia e aos bombeiros em caso de acidentes. “Já temos isso nos Estados Unidos. O alerta é feito assim que os airbags são acionados”, destaca.
A Fiat acredita que as conexões de alta velocidade (4G) ampliarão as possibilidades nesta área, além de melhorar os serviços já existentes e disponíveis, de acordo com o gerente geral de imprensa e especialista técnico da Fiat do Brasil, Ricardo Dilser.
A Volkswagen, que tem um dos sistemas mais modernos no mundo, o Discover Pro, mostra ainda que é possível ter em um hatch médio funções que existiam somente no Touareg, veículo topo de linha. Este sistema, que estreia com o novo Golf, consegue monitorar todo o carro — do rádio ao motor —, com a funcionalidade intuitiva de um iPhone, como se fosse um tablet de fábrica no carro.
“A evolução da conectividade é muito mais rápida do que a própria evolução do carro, vejam os smartphones. Acredito que a evolução será tanta que será possível pagar uma conta pelo carro, por exemplo”, afirma o gerente de marketingo do produto da Volkswagen do Brasil, Henrique Sampaio.
Para ilustrar este avanço, Sampaio brinca que a função do carro será apenas um “complemento” do sistema de conectividade que existirá dentro dele.
No entanto, todos são dependentes das operadoras de celular, pois usam a internet do telefone dos usuários. Em 2011, a GM lançou no Brasil uma versão do Agile com conexão à internet sem fio dentro do veículo. O Agile Wi-Fi foi o primeiro no Brasil com este recurso. Mas isso só foi possível com a parceria da operadora Tim e, por isso, a edição foi limitada a 1 mil unidades. A Tim, por sua vez, ofereceu aos compradores do carro um roteador, carregador veicular e instruções para a instalação do recurso. O serviço era gratuito por 1 ano.
Conectividade X segurança
Os carros em circulação no Brasil que saem de fábrica equipados com tais sistemas estão de acordo com as leis estabelecidas pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Por isso, montadoras e sistemistas buscam soluções cada vez mais seguras para o condutor.
“A conectividade é um processo natural e irreversível, mas a segurança é uma busca contínua e sem fim. Toda nova tecnologia neste sentido é baseada nas melhores condições para que o usuário mantenha o foco na direção e atenção no trânsito, como o comando de voz usado no sistema Blue and Me”, observa Dilser. No caso dos DVDs, por exemplo, o sistema é bloqueado quando o carro está em movimento, por determinação da lei brasileira.
Mesmo assim, o próprio sistema de viva-voz já é criticado por especialistas. Um estudo realizado nos Estados Unidos pela Universidade de Utah, encomendado pela American Automobile Association (AAA), aponta que sistemas de interatividade para carros conhecidos como “hands free” ou “mãos livres” são mais perigosos do que simplesmente falar ao celular enquanto dirige.
No entanto, a pesquisa da associação automotiva americana mostra que a concentração para comandar o sistema por voz exige muito mais a atenção do motorista. Tal distração é definida pelos pesquisadores como “visão de túnel” ou “cegueira de desatenção”. Isso porque a primeira reação dos condutores é se esquecer de olhar pelos espelhos retrovisores e prestar atenção aos detalhes do que vê na frente, seja a luz de freio de um carro ou pedestres.
Na opinião do engenheiro Ricardo Takahira, do comitê de Telemática & Infotainment do Congresso SAE BRASIL, vários recursos hoje estão disponíveis para facilitar o uso da conectividade dentro dos carros, como os botões no volante. Takahira acrescenta que além do entretenimento, os novos sistemas multimídia podem auxiliar na segurança no trânsito como, por exemplo, monitorar o carro, detectar cansaço, ajudar nas mudanças de faixa etc. “O que precisa é ter juízo e liberar a tecnologia de forma segura.”
Fonte: Auto Esporte