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09 de outubro de 2024

Condução autônoma – você sabe como funciona?


Por Pauline Machado Publicado 19/10/2022 às 16h30 Atualizado 08/11/2022 às 21h02
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A condução autônoma chega e traz consigo várias dúvidas que impactam no dia a dia dos condutores e do trânsito. Veja entrevista exclusiva com Rodrigo Vicentini, da ABVE, sobre o assunto.

Condução autônomaSão seis níveis de automação. O nível zero equivale a nenhuma automação e o nível cinco a automação máxima. Foto: Depositphotos

Com a chegada dos veículos elétricos, chegaram outras inovações, dentre elas, talvez a que nos chame maior atenção: a condução autônoma.

Mas, tal ferramenta não chega trazendo somente tecnologia de ponta, ela traz consigo várias dúvidas que impactam no dia a dia dos condutores e do trânsito em si, como por exemplo: quais são os possíveis riscos para a segurança no trânsito? Essa tecnologia já pode ser encontrada em carros populares ou ainda é uma tendência no Brasil? Além disso, o que diz a legislação brasileira sobre esse tipo de condução?

Para nos esclarecer essas e outras questões, convidamos o diretor de infraestrutura e integrante do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Rodrigo Vicentini, para um bate-papo exclusivo sobre o assunto.

Rodrigo VicentiniRodrigo Vicentini é diretor de infraestrutura e integrante do Conselho Diretor da ABVE. Foto: Bruna Pimpinelli_Agência Fingerprint

Vicentini é gerente de Engenharia para a América Latina da Keysight Technologies, engenheiro eletricista, especializado em telecomunicações, e pós-graduado em gestão de projetos pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Tem em seu currículo, MBA Internacional pela Fundação Instituto de Administração/USP-SP. Desde 2015, tem vivência em projetos de teste e medição em tecnologias celulares de 2G a 6G, testes de estresse, segurança e visibilidade de redes, além de tecnologias de alta frequência e alta velocidade.

Ultimamente o executivo tem se dedicado também às tecnologias de eletrificação de veículos, direção autônoma e comunicação V2X.

Vicentini é, ainda, líder do Grupo de Trabalho ABVE/ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – sobre protocolos de segurança de instalação e interconectividade de equipamentos de recarga de veículos elétricos.

Vejamos as considerações do especialista.

Portal do Trânsito – Primeiramente, o que podemos entender sobre condução autônoma?

Rodrigo Vicentini – Pode parecer uma pergunta com simples resposta. Entretanto, ela requer uma boa explicação. Para evitar o mal-entendido em se supor que direção autônoma é aquela sem intervenção alguma de um motorista, a SAE International (Society of Automotive Engineers) procurou fundamentar o termo por automação de direção. Isso quer dizer que o ser humano arquiteta e engenha os veículos para que computadores possam, de certa forma, ou níveis, ajudar a conduzir os veículos.

Portal do Trânsito – Os veículos com condução autônoma já podem ser considerados populares ou ainda são tendências aqui no Brasil?

Rodrigo Vicentini – Considerando que a automação dos veículos foi classificada pela SAE em seis níveis – zero é o nível sem automação e cinco o máximo grau de automação, pode-se dizer que o Brasil, sim, participa dessa tendência, no entanto em níveis bem inferiores aos vistos na Europa ou Estados Unidos.

Portal do Trânsito – E quanto à legislação que rege os veículos com condução autônoma? É a mesma dos veículos tradicionais?

Rodrigo Vicentini – Expliquemos e poderemos aqui, uma vez mais, os conceitos. Por legislação, entenda-se um conjunto de leis para regular determinado organismo ou entidade. Quando entramos no âmbito de engenharia, talvez a melhor terminologia para a legislação fosse normatização. Neste caso, em quaisquer ramos da engenharia, a normatização evolui conforme a tecnologia e demanda de mercado.

Cada entidade normativa da engenharia busca harmonizar os desejos da indústria ao consumidor, reunindo empresas e profissionais da área para o estabelecimento das normas técnicas.

Mundialmente, entidades como SAE e ISO International Organization for Standardization são as que mais atuam em favor da evolução da automação de direção. Entretanto, existem muitos outros padrões, tais como, o IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers e MIPI Alliance – Mobile Industry Processor Interface que garantem a regulamentação e funcionamento dos dispositivos eletrônicos intraveicular para prover a automação na direção.

No Brasil, o órgão responsável pela normatização de automação de direção veicular é a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Ela procura harmonizar as normas ISO e SAE, por exemplo, à realidade do mercado brasileiro. Já para a  eletrônica automotiva intraveicular, não há órgão regulador de padronização no Brasil.

Do ponto de vista legal, cabe à sociedade civil e às respectivas casas legislativas se mobilizarem para que as leis se adequem às novas tecnologias. O embasamento técnico neste caso pode ser feito pela ABNT.

Portal do Trânsito – Na parte prática da tecnologia, quais são os níveis de automação desses veículos?

Rodrigo Vicentini – São seis níveis de automação. O nível zero equivale a nenhuma automação e o nível cinco a automação máxima.

Portal do Trânsito – Qual é a importância desses níveis e quem os desenvolveu?

Rodrigo Vicentini – A SAE foi a criadora dos níveis de automação do veículo com o  propósito de regulamentar e homogeneizar a indústria automotiva, dessa forma, buscando critérios mais claros de entendimento e evolução tecnológica.

Portal do Trânsito – E quais são os recursos que diferenciam cada um dos níveis acima?

Rodrigo Vicentini – Os recursos tecnológicos que caracterizam os níveis de automação de condução veicular são dados pelo grau de autonomia do condutor e do número de elementos de sensoriamento e processamento de dados no veículo.

Portal do Trânsito – Por favor, explique como na prática funcionam os 5 níveis de automação.

Rodrigo Vicentini – A explicação é essa:

Nível 0: O condutor dirige e supervisiona frenagem, direção e aceleração a todo momento. Não há nenhum recurso tecnológico que intervenha na forma de dirigir. Entretanto, podem existir alguns recursos tecnológicos que, de forma rápida, avisam e/ou ajudam o motorista na condução. Por exemplo, sistema de frenagem de emergência, aviso de ponto cego, ou mesmo aviso de mudança de faixa.

Nível 1: O condutor dirige e supervisiona frenagem, direção e aceleração a todo momento. Há algum recurso tecnológico que pode intervir na frenagem ou na direção do veículo, de forma a ajudar o motorista. Por exemplo, sistema de correção de curso na faixa de rolagem ou sistema de controle de cruzeiro adaptativo.

Nível 2: O condutor dirige assim como supervisiona frenagem, direção e aceleração a todo momento. Há algum recurso tecnológico que pode intervir na frenagem e direção do veículo de forma a ajudar o motorista. Por exemplo, sistema de correção de curso na faixa de rolagem e sistema de controle de cruzeiro adaptativo.

Nível 3: Caso o sistema de direção automatizada atue, o condutor não dirige, mesmo sentado no assento do motorista. Entretanto, mesmo não dirigindo, o motorista ainda deve manter a atenção no veículo, pois pode ser solicitado a qualquer momento a, mandatoriamente, retomar a direção do veículo. Se determinadas condições pré-definidas não são atingidas, o veículo não opera. Um exemplo de automação nível 3 é o sistema de autodireção em congestionamentos.

Nível 4: Caso o sistema de direção automatizada atue, o condutor não dirige, mesmo sentado no assento do motorista. O motorista não precisa manter a atenção no veículo pois não haverá solicitação para retomar a direção. Se determinadas condições pré-definidas não são atingidas, o veículo não opera. Um exemplo de automação nível 4 é um serviço de táxis sem motorista. Outro exemplo são veículos sem pedais de freios ou acelerador.

Nível 5:  O condutor não dirige, mesmo sentado no assento do motorista. O motorista não precisa manter a atenção no veículo, pois não será solicitado a retomar a direção do veículo. O veículo pode funcionar sem qualquer condição pré-estabelecida concebida. O veículo pode operar qualquer serviço sem motorista.

Portal do Trânsito – Quais são os benefícios da condução autônoma para o trânsito no Brasil?

Rodrigo Vicentini – O objetivo da direção automatizada é reduzir a zero os índices mundiais de acidentes de trânsito. Teoricamente isso é possível alcançar em qualquer país do mundo, incluindo o Brasil. No entanto, cada país deve adaptar a sua infraestrutura viária e de telecomunicações à sua realidade local.

Portal do Trânsito – O Brasil está preparado para ter veículos com condução autônoma circulando?

Rodrigo Vicentini – Em parte. O Brasil já está preparado legalmente para acomodar a instalação bem como realização da operação dos sistemas de comunicação entre veículos (V2V), entre veículos, estradas e dispositivos (V2D), veículos com a rede celular 4G e 5G (C-V2X) e até veículos com Wi-Fi. Também está preparado para operar os sistemas de radares que funcionam como sensores para melhorar a segurança dos veículos. Ou seja, a agência que regula as frequências de operação dessas tecnologias, a Anatel, já regulamentou como operar cada uma delas. Em tese, o Brasil poderia operar veículos com grau de automação de nível 3 em alguns casos, que é o que está entrando no mercado na Europa e Estados Unidos – claro que, nesse estágio, para clientes que podem pagar pela tecnologia.

Entretanto, aqui a discussão é se o Brasil está interessado em democratizar a tecnologia de automatização veicular a partir de políticas que viabilizem a fabricação e compra pela sociedade desse tipo de veículo. Além disso, as redes de telecomunicações 4G e 5G precisam alcançar níveis satisfatórios de cobertura, principalmente no que diz respeito à infraestrutura.

Portal do Trânsito – Quais são os riscos da condução autônoma para a segurança no trânsito brasileiro?

Rodrigo Vicentini – Uma vez que certa tecnologia é lançada no mercado e está pronta para ser comercializada, ela deve ser testada exaustivamente para garantir satisfação e segurança do cliente final.

No caso da condução automatizada, não faz sentido colocar no mercado uma tecnologia que se propõe zerar os acidentes fatais se ela minimamente não alcança níveis satisfatórios de redução de acidentes.

Se o Brasil adotar políticas de certificação local similares a níveis internacionais, e isso de certa forma já existe com dispositivos de tecnologia sem fio e de veículos, a condução automatizada será também segura por aqui.

Portal do Trânsito – Por fim, o que mais poderíamos nos ater sobre automação veicular?

Rodrigo Vicentini – As perguntas que temos de fazer são: quando o Brasil irá querer adotar esse tipo de tecnologia e quem vai pagar a conta?

Importante frisar que as novas tecnologias de automação veicular estão se fundindo com as tecnologias de veículos elétricos. Quando falamos de direção autônoma, automatizada assim como eletrificação, tendemos a falar da mesma coisa.

Os veículos nível 5 serão provavelmente viabilizados com a introdução do processamento via computação quântica e evolução das redes 5G para as redes 6G.

Já se discute o tema amplamente por pesquisadores fora do Brasil, mas temos muito pouca gente envolvida por aqui.

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