06 de dezembro de 2025

Consulta pública sobre CNH: redução de custos ou risco à segurança viária?


Por Mariana Czerwonka Publicado 02/10/2025 às 13h30 Atualizado 06/10/2025 às 13h35
Ouvir: 00:00
CNH consulta pública
A proposta parece mirar apenas na economia para o bolso do cidadão, sem considerar o impacto direto na segurança viária. Foto: Arquivo Portal do Trânsito

O Governo Federal abriu, nesta quinta-feira (2), uma consulta pública para discutir mudanças no processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A iniciativa, conduzida pelo Ministério dos Transportes, é apresentada como parte de uma proposta para modernizar e tornar mais barato o processo de formação de condutores no Brasil.

A minuta do projeto ficará disponível por 30 dias. Após esse prazo, o texto segue para análise do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A medida marca o primeiro passo de um debate que já vinha sendo ventilado nos últimos meses: a possibilidade de tornar facultativo o processo em autoescolas, permitindo que futuros motoristas escolham outras formas de se preparar para os exames teórico e prático.

Embora o governo destaque o caráter de democratização do acesso à CNH, o tema acendeu um alerta entre especialistas e representantes do setor de trânsito, que enxergam riscos na proposta.

Especialista alerta para retrocessos na formação de condutores

O especialista e diretor do Portal do Trânsito Celso Mariano manifestou preocupação com a forma como o assunto tem sido conduzido. De acordo com ele, a simplificação prometida pode significar um retrocesso de 27 anos desde a criação dos Centros de Formação de Condutores (CFCs), que substituíram as antigas autoescolas práticas e trouxeram maior rigor na preparação dos motoristas.

“O Brasil tem um trânsito muito violento. O processo de formação de condutores tem problemas, é claro, mas é melhor um processo que não seja perfeito do que processo nenhum. Minha preocupação é que, em nome da redução de custos, sejam abandonadas etapas fundamentais que foram conquistadas ao longo de quase três décadas”, afirmou.

Conforme Mariano, a proposta parece mirar apenas na economia para o bolso do cidadão, sem considerar o impacto direto na segurança viária. Ele lembra que a autoescola, apesar das críticas, muitas vezes é o único momento em que o brasileiro tem contato com educação para o trânsito, algo essencial para um país que registra altos índices de mortes e feridos em acidentes.

Outro ponto levantado pelo especialista é a comparação feita pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, entre a autoescola e os cursinhos preparatórios para vestibular. “Não faz sentido. O cursinho não é obrigatório porque a escola regular cumpre sua função de educação. No trânsito, quem cumpre esse papel são justamente os CFCs”, ponderou.

Diferenças culturais e estruturais com outros países

Mariano também chamou a atenção para a utilização de exemplos internacionais como justificativa para flexibilizar a formação. Ele destacou que alguns estados norte-americanos permitem ao candidato estudar por conta própria e apenas prestar os exames, mas o contexto é muito diferente do brasileiro.

“Nos Estados Unidos, a cultura do automóvel é outra. As cidades foram construídas para o carro, a imputabilidade penal começa antes e há sistemas de fiscalização e punição muito mais rápidos e severos. Importar esse modelo sem considerar as diferenças estruturais e culturais seria desastroso para o Brasil”, explicou.

Entre as preocupações, o especialista citou ainda a possibilidade de se eliminar requisitos como o comando duplo nos veículos de aprendizagem, medida que garante a segurança mínima durante as aulas práticas, além da formação específica e rigorosa exigida atualmente para instrutores.

Mobilização das autoescolas

Do lado das entidades representativas, a Associação Brasileira de Autoescolas (ABRAUTO) também se manifestou. Em vídeo dirigido ao setor, a representante da entidade, Olga Catarina Zanoni, pediu calma. Ela destacou que o momento agora é de análise criteriosa da proposta que está sob consulta.

“A consulta pública não era o esperado, pois queríamos que houvesse antes uma apresentação às entidades e parlamentares. Mas agora teremos a oportunidade de rebater ponto a ponto. Estamos unidos e articulados, com mais de 10 grupos de CFCs nacionais representando cerca de 80% do setor. Vamos participar ativamente para mostrar a importância da formação nas autoescolas”, afirmou.

Olga lembrou ainda que já houve uma tentativa semelhante durante o governo anterior, com a proposta de permitir aulas EAD e simplificação de etapas práticas. Para ela, a estratégia do setor deve ser clara: analisar a minuta detalhadamente, rebater tecnicamente cada ponto e trabalhar em conjunto com os parlamentares para evitar que a mudança fragilize a formação de condutores.

O que está em jogo

A consulta pública aberta pelo governo é apenas o início de um processo que pode redefinir o modelo de formação de motoristas no país. Enquanto a promessa oficial é de redução de custos e maior acesso à CNH, os críticos lembram que a pressa pode custar vidas no trânsito.

A defesa das autoescolas se baseia na ideia de que a formação não é apenas uma etapa burocrática, mas uma política pública de educação para o trânsito. É nesse espaço que os candidatos têm contato com conceitos de cidadania, responsabilidade, direção defensiva e legislação. Ou seja, temas que dificilmente seriam abordados em cursos informais ou aulas particulares avulsas.

Mais do que discutir preços, especialistas e entidades defendem que o debate precisa estar centrado em segurança viária. Afinal, como alerta Celso Mariano, “não se pode jogar fora o bebê junto com a água do banho”.

Mariana Czerwonka

Meu nome é Mariana, sou formada em jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná e especialista em Comunicação Empresarial, pela PUC/PR. Desde que comecei a trabalhar, me envolvi com o trânsito, mais especificamente com Educação de Trânsito. Não tem prazer maior no mundo do que trabalhar por um propósito. Posso dizer com orgulho que tenho um grande objetivo: ajudar a salvar vidas! Esse é o meu trabalho. Hoje me sinto um pouco especialista em trânsito, pois já são 11 anos acompanhando diariamente as notícias, as leis, resoluções, e as polêmicas sobre o tema. Sou responsável pelo Portal do Trânsito, um ambiente verdadeiramente integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito.

8 comentários

  • Sérgio
    02/10/2025 às 21:07

    Disciplina sobre educação para o trânsito nas escolas como manda o CTB nada né?

    • Janio Corrêa
      06/10/2025 às 21:09

      Instrutores autônomos credenciados seria perfeito. Aulas teóricas e marcação de prova pelo candidato perfeito. Aulas práticas para quem ja dirige com um mínimo de 5 aulas . Para quem não dirige um mínimo de 15 aulas . Carros preparados do aluno ou dos instrutores para maior segurança para aplicação das aulas . Duda de 400 reais altíssimo teria que ter validade der 3 anos . Exames de saúde teria que ser particular ou do plano de saúde dos candidatos e nao os atuais 290. Do Detran ! Ai s8m baixaria os custos e nao pederua a segurança no trânsito e nem uma boa formação do motorista !

      • Cristina Costa
        07/10/2025 às 17:06

        Não concordo da onde que teremos um valor como estão falando não existe esta possibilidade no Brasil aqui é o país “vamos dar jeitinho” a pessoa que precisa dirigir tem que passar na mão de um profissional que seja credenciado e não de irresponsáveis que matam cada vez mais no trânsito participando dec”racha” e não são punidos uma vergonha matam e ficam impunes. Precisa SIM ter CFC no qual as pessoas devem e precisa ser aptas a passar e ter a CNH não esta palhaçada querer comparar Brasil a outros países aqui a lei funciona no papel realidade é outra matam e são soltos.

        Reduzam determinadas taxas e horas de aulas teórica estas sim podem ser.Discordo totalmente desta questão que estão impondo as CFC’s atualmente achando que terá redução no bolso dos brasileiros pura mentira descarada.

    • Janio Corrêa
      06/10/2025 às 21:11

      Instrutores autônomos credenciados seria perfeito. Aulas teóricas e marcação de prova pelo candidato perfeito. Aulas práticas para quem ja dirige com um mínimo de 5 aulas . Para quem não dirige um mínimo de 15 aulas . Carros preparados do aluno ou dos instrutores para maior segurança para aplicação das aulas . Duda de 400 reais altíssimo teria que ter validade der 3 anos . Exames de saúde teria que ser particular ou do plano de saúde dos candidatos e nao os atuais 290. Do Detran ! Ai sim baixaria os custos e nao perderia a segurança no trânsito e nem uma boa formação do motorista !

    • José
      07/10/2025 às 07:59

      Muitíssimo arriscado, pois coloca em alto risco VIDA humana. Sabemos que quem está governando não é muito preocupado com vidas, visto leis sobre aborto. Temos que lutar com mais fragor para essa lei NÃO PASSAR!!!
      É politicagem de baixo nível, só para ganhar votos junto às classes mais baixas.

  • Gerusa Novaes
    06/10/2025 às 23:45

    A vida vale pouco.
    A proposta é “eleitoreira .”
    Cada absurdo!
    Pode até tirar a obrigatoriedade de 20 aulas, mas jamais eliminar os cfc’s.
    No CFC tem um profissional que poderá avaliar se um aluno está preparado ou não para fazer a prova e ir para o trânsito sem colocar a vida dos pedestres em risco.

    Um absurdo esta proposta.

  • Cristina Silveira
    07/10/2025 às 17:07

    Não concordo da onde que teremos um valor como estão falando não existe esta possibilidade no Brasil aqui é o país “vamos dar jeitinho” a pessoa que precisa dirigir tem que passar na mão de um profissional que seja credenciado e não de irresponsáveis que matam cada vez mais no trânsito participando dec”racha” e não são punidos uma vergonha matam e ficam impunes. Precisa SIM ter CFC no qual as pessoas devem e precisa ser aptas a passar e ter a CNH não esta palhaçada querer comparar Brasil a outros países aqui a lei funciona no papel realidade é outra matam e são soltos.

    Reduzam determinadas taxas e horas de aulas teórica estas sim podem ser.Discordo totalmente desta questão que estão impondo as CFC’s atualmente achando que terá redução no bolso dos brasileiros pura mentira descarada.

  • Luiz Fernando Fortes Pereira
    16/10/2025 às 14:39

    Eu tirei minha CNH sem auto Escola e dirijo a 40 anos e jamais me envolvi em um acidente.
    Não é atoa que o Brasil é um dos paises que mais mata no trânsito e justamente quem mais morre são os jovens que não tem a conciência com ou sem aulas para dirigir e fazem absurdos no trânsito.
    A Auto Escola faz somente a receita do bolo pois a pratica voçê só vai ter dirigindo e com responsabilidade.
    Hoje voçê sai de uma Auto escola após aprovado sem nunca ter enfrentado uma estrada que é completamente diferente de andar na cidade a 20 Km pois e o condutor está habilitado para dirigir em todo o pais e isso sim é um grande perigo.
    Acredito que aquele que sabe dirigir bastaria fazer 2 ou 3 aulas e estaria apto para a prova.
    Aquele que nunca dirigiu esse sim, teria que pedir as aulas pois se tentar não vai passar na prova e vai ficar por um longo periodo gastando a toa.
    Outro ponto é que deveria o Examinador ter mais experiencia e conciencia quando está fazendo um exame em um candidato pois deveria avaliar a condução que é o principal e não reprovar porque esqueceu um pisca ou o carro apagou pois a pessoa certamente estará nervosa e poderá errar um detalhe mais é um bom motorista e perderemos um condutor bom a aquele como já disse treina e faz a receita sai com uma CNH sem nunca ter andado em uma rodovia o que é uma catastrofe pois poderá morrer ou matar inocentes.
    Teria muita coisa ainda para ponderar mas ficaria a tarde toda aqui pois existem falhas gritantes na formação de condutores pela auto Escolas.

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *