Artigo -Instrutor de trânsito
J. Pedro Corrêa escreve sobre o dia do Instrutor de Trânsito, comemorado em 16 de outubro, bem como do nascimento, da importância e dos desafios da federação nacional da categoria para melhorar o trânsito brasileiro.
*J. Pedro Corrêa
A semana passada terminou com cumprimentos emocionados em todos os cantos do país pelo dia do professor, comemorado no dia 15 de outubro, aliás, com grande justiça. Se tem uma classe profissional que merece todos os louvores, é a dos nossos mestres. Pena que as homenagens fiquem muito mais na retórica e que o reconhecimento efetivo, tão esperado, esteja tão longe de ocorrer.
Já no sábado, 16/10, comemorou-se o Dia do Instrutor de trânsito mas, pelo jeito, houve muito menos barulho pelo Brasil afora, o que é lamentável. Afinal, estamos esquecendo o valor de uma categoria profissional que é do maior significado para a vida do país.
Resolvi escrever sobre eles esta semana, fui em busca de informações e o que descobri não é lá muito animador mas não significa motivos para desistir.
Me disse a Arminda Martins, presidente da Federação Nacional dos Instrutores de Trânsito, FENAINST, que a entidade está ainda engatinhando pois, apesar de ter sido criada há alguns anos, só há alguns meses conseguiu a Carta Sindical do Ministério do Trabalho, o que lhe dá, enfim, condições de pleno funcionamento. Agora, começa o trabalho para valer.
Por enquanto, ainda são poucos os estados brasileiros afiliados à nova entidade mas é natural que, aos poucos, os pontos de convergências superem os desencontros e o interesse comum da categoria prevaleça para o fortalecimento de uma profissão que, se já deu uma contribuição ao peso à sociedade, tem muito mais a dar no futuro.
A entidade ainda não tem certeza de quantos são os instrutores de trânsito nos quatro cantos do país.
Enquanto a Arminda, do Paraná, diz que são “algumas dezenas de milhares”, considerando os certificados pelos Detrans de alguns estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o Paulo Cesar de Castro Gomes, de Goiás, fala em “cerca de 90 mil” tendo em conta de que só São Paulo e Rio de janeiro, juntos, somam quase 50 mil certificados. O que, tampouco, se tem certeza é se todos os certificados estão na ativa. Seja como for, dá para ver que já é uma família de tamanho apreciável e que, unida, pode fazer muito pelo trânsito brasileiro.
Como nosso país é muito desigual em várias áreas, no universo dos instrutores eles não são uma exceção. Há grandes desníveis salariais entre eles, dependendo do estado em que atuam. Este é apenas um dos problemas da categoria que, como era de se esperar, sofre também com a baixa estima. Bem como, o baixo reconhecimento do seu valor pela sociedade.
Só isto dá uma ideia do imenso desafio dos dirigentes que precisarão, internamente, trabalhar muito pela consolidação da entidade. E, externamente, desdobrar esforços enormes para conseguir um lugar ao sol no mercado cada vez mais competitivo de hoje em dia. Obviamente que o respeito da sociedade depende muito de como a entidade age e se posiciona. Já trabalhar na requalificação dos instrutores, atualizá-los para enfrentar a realidade atual do trânsito, é um esforço gigantesco e que demandará habilidades, paciência e recursos.
A (re)capacitação do instrutor é um ponto crucial neste momento da Fenainst. Se o mercado se moderniza e já faz uso de veículos de última tecnologia, elétricos, semiautônomos, etc., os Centros de Formação de Condutores deveriam oferecer serviços à altura. Isso infelizmente não ocorre.
Me disse uma formadora de instrutores de trânsito que ouviu de um deles, numa sala de aula, que nunca havia lido o Código de Trânsito Brasileiro. E, ainda, “e não era o único” (!).
Os instrutores precisam, com certeza, do reconhecimento da sociedade. Para isto, porém, têm de fazer por merecer e para tal devem mostrar competência e o resultado do seu trabalho. Em outras palavras, este resultado vai se consolidar na medida em que o trânsito melhora, flui com mais facilidade, com respeito e notadamente com muito menos sinistros. Os demais ganhos, que todos os lados precisam, advirão destes avanços.
Todo o Sistema Nacional de Trânsito só tem a ganhar com o fortalecimento dos instrutores de trânsito. E, nesse sentido apoiando a atuação da sua federação nacional. Cabe aos dirigentes da nova entidade a habilidade para planejar o seu crescimento orgânico em termos nacionais. Além disso, buscar o fortalecimento em todos os estados em prol não somente da categoria mas de toda a sociedade.
Na semana que se encerrou ouvimos muito que “Professor é profissão, educador é missão”. Assim, o instrutor de trânsito tem uma missão da maior importância ao habilitar pessoas de todos os níveis, de todos os segmentos da nossa sociedade a conviver com harmonia e respeito num trânsito que tem se revelado cada vez mais violento.
Oxalá a Fenainst consiga êxito no seu processo de crescimento e de afirmação perante a sociedade brasileira.
*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito