A omissão e a política do espetáculo: quando um senador age como cidadão comum
Artigo de Alysson Coimbra, coordenador do projeto Novos Horizontes no Trânsito e porta-voz do Movimento Não Foi Acidente.

Recentemente, o senador Cleitinho Azevedo ganhou destaque nas redes sociais ao publicar um vídeo em que, de cima de um trator, defende um desvio da nova praça de pedágio na BR-040, em Paracatu (MG), prestes a iniciar suas operações. Essa atitude levanta sérias preocupações sobre responsabilidade política e segurança no trânsito. A BR-040, uma via crucial para o tráfego em Minas Gerais, tem enfrentado anos de abandono e deterioração desde que ficou sem concessão. As condições precárias da estrada resultaram em acidentes fatais e prejuízos materiais significativos, evidenciando a falta de ação eficaz nas esferas legislativas estaduais e federais para tratar desses problemas.
É importante notar que, desde a entrega da concessão da BR-040, o senador permaneceu em silêncio, sem se opor publicamente ao processo e ao sucateamento da via. Desde agosto, a rodovia enfrenta um cenário de abandono e, consequentemente, mais mortes nas estradas.
O DNIT falhou na sua gestão e o senador não se posicionou sobre isso.
O leilão aconteceu, o valor do pedágio foi estimado, e ele continuou sem se manifestar. Mas agora, já definido o contrato, ele reaparece fazendo um papel de cidadão comum, repetindo o mesmo comportamento que tinha antes de ser eleito, quando realizava blitz políticas e vídeos inflamados em busca de likes.
A atitude do senador de estimular a evasão do pedágio suscita uma série de questões legais e práticas. Tal ação configura uma infração grave de trânsito, conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB, art. 209). A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) alertou que essa conduta pode resultar em multas, perda de pontos na CNH e penalidades adicionais. Além disso, a criação e utilização de rotas alternativas podem desestabilizar contratos de concessão e gerar ações judiciais, criando um cenário de insegurança jurídica.
É preocupante que um senador, com o poder de introduzir medidas legislativas, opte por ações midiáticas à margem de qualquer legalidade. Promover o desvio sem oferecer soluções sustentáveis é perigoso e não soluciona o problema do pedágio, forjando um precedente arriscado de desobediência civil sob o manto do populismo. Quando um senador da República – um dos cargos mais altos da política nacional – se posiciona como um cidadão indignado, sem agir institucionalmente, ele praticamente anula sua própria legitimidade política.
A questão central transcende os transtornos financeiros gerados pelo pedágio e está enraizada na necessidade de uma abordagem mais eficaz dos políticos em relação à mobilidade pública. Investir em atenção midiática sem abordar maneiras de garantir a conservação das rodovias por vias legais e judiciais apenas afasta a responsabilidade coletiva de encontrar soluções efetivas. O local adequado para debater a segurança viária e os problemas da BR-040 é o Senado Federal, não vídeos com conotações anárquicas que vão contra os princípios democráticos.
A situação da BR-040 reflete a necessidade urgente de debates construtivos e intervenções políticas propositivas na área de trânsito.
A evasão de pedágio não é uma solução; é uma complicação adicional que se desvia do objetivo de verdadeiramente melhorar as condições de trânsito e infraestrutura no Brasil. É imperativo que os detentores de cargos políticos dediquem esforços claros e honestos para abordar questões de mobilidade, investir em melhores condições de tráfego e cumprir seus deveres de maneira a não inflamar conflitos populacionais sem resolver problemas estruturais.
É preciso abrir os olhos para esse tipo de postura. Em vez de buscar soluções concretas dentro das vias democráticas, ele estimula a desobediência, chegando ao ponto de incitar o descumprimento da lei. Essa postura não traz soluções, apenas ruído e polarização. O Brasil precisa de responsabilidade política, não de teatro midiático. Somente através de ações responsáveis e bem planejadas poderemos efetivamente melhorar a infraestrutura rodoviária e garantir a segurança dos usuários das estradas brasileiras.
Texto de autoria de Alysson Coimbra, coordenador do projeto Novos Horizontes no Trânsito e porta-voz do Movimento Não Foi Acidente