13 de fevereiro de 2025

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Ecstasy e cocaína: caminhoneiro que causou 39 mortes deveria ter passado por avaliação psicológica

Lei brasileira tem dispositivo para tratar motoristas infratores, mas regra ainda não foi implantada.


Por Assessoria de Imprensa Publicado 22/01/2025 às 11h27
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caminhoneiro cocaína Teófilo
Acidente aconteceu em 21 de dezembro. Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

A recente prisão do motorista da carreta responsável pela tragédia que matou 39 pessoas em Teófilo Otoni, Minas Gerais, lança luz sobre uma questão alarmante: a urgente necessidade de implementação de avaliações psicológicas rigorosas para motoristas infratores, conforme previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O laudo toxicológico feito no caminhoneiro que provocou o acidente em dezembro passado revelou que ele dirigia sob o efeito de uma combinação letal de cocaína, ecstasy, álcool e antidepressivos. Mais alarmante ainda é o fato de que ele era reincidente, com histórico de dirigir alcoolizado. 

Adalgisa Lopes, psicóloga especializada em Psicologia do Trânsito e presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG), afirma que essa tragédia decorre de uma epidemia silenciosa. 

“Enquanto negligenciarmos a saúde mental dos motoristas, estaremos fadados a enterrar um número cada vez maior de vítimas do trânsito. Não é exagero dizer que, ao não cuidarmos da saúde física e mental de motoristas, estamos colocando armas nas mãos de pessoas potencialmente instáveis”, afirma. 

A presidente da Actrans explica que a lei possui mecanismos para tratar a saúde mental de motoristas infratores.

O artigo 268 do CTB prevê a realização de avaliação psicológica para condutores que tiverem a permissão para dirigir suspensa, como é o caso do motorista que provocou esse acidente. No entanto, esta regra ainda não foi colocada em prática. “Se estivesse em vigor, poderíamos ter evitado inúmeras tragédias. É inadmissível que continuemos ignorando este aspecto vital da segurança viária. Cada dia que passa sem a implementação desta avaliação é um dia em que colocamos vidas em risco desnecessariamente”, pontua. 

Adalgisa lembra que cerca de 30% dos acidentes de trânsito são causados por motoristas infratores reincidentes. “Não fazemos o suficiente para reeducar esses motoristas. As políticas públicas ignoram a influência do comportamento e das emoções na causa dos acidentes. É uma negligência que está custando vidas.”

Atualmente, a saúde mental dos motoristas só é avaliada quando obtêm a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). 

“É um absurdo que tenhamos um ‘laudo vitalício’ em um país que lidera rankings mundiais de ansiedade. Como podemos garantir a segurança nas estradas se ignoramos este fato?”, questiona.

Saúde do motorista deve ser foco

A tragédia em Teófilo Otoni deve servir como um alerta urgente. A implementação imediata de avaliações psicológicas regulares para motoristas, especialmente os infratores, não é apenas uma questão de política de trânsito, mas uma necessidade de saúde pública. 

Cada dia de atraso pode significar mais vidas perdidas em nossas estradas. “Não podemos mais tratar a segurança viária como um assunto secundário. É hora de agir. Implementar estas avaliações não é apenas uma questão legal, é um imperativo moral. Quantas mais tragédias precisaremos testemunhar antes de tomarmos medidas efetivas?”, completa a psicóloga. 

O que se verifica na avaliação psicológica

Na avaliação psicológica são aferidos, por métodos e técnicas psicológicas, os seguintes processos psíquicos:

  • tomada de informação;
  • processamento de informação;
  • comportamento;
  • autoavaliação do comportamento;
  • traços de personalidade.

Para a avaliação, utilizam-se as seguintes técnicas e instrumentos:

  • entrevistas diretas e individuais;
  • testes psicológicos, que deverão estar de acordo com resoluções vigentes do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que definam e regulamentem o uso de testes psicológicos;
  • dinâmicas de grupo; e
  • escuta e intervenções verbais.

Fonte: Resolução 927 do Contran

Uso de cocaína e outras drogas por caminhoneiros

Recentemente, a pesquisa “Operação Jornada Legal 2023” realizada pela Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat) e Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (Conalis), em parceria com a Fiscalização do Trabalho e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostrou que  60% dos condutores que dormem menos de 4 horas usam drogas contra apenas 23% dos que descansam mais de 8 horas diárias. Entre os caminhoneiros usuários, 50% usam cocaína, seguido por anfetamina e anfetamina e metanfetamina.

1 comentário

  • José Aparecido Schramm
    22/01/2025 às 11:38

    Evidencia claramente a falha na fiscalização, já que se está abandonando o investimento na fiscalização humana e nas abordagens, pela fiscalização eletrônica, sendo que são complementares. A falta de fiscalização pessoal produz crimes dos mais variados, esse é um exemplo deplorável.

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