Sensacionalismo com placas de trânsito estrangeiras causa desinformação e ameaça segurança no Brasil
Títulos apelativos e descontextualizados estão confundindo motoristas e comprometendo a educação para o trânsito.

Nos últimos meses, tem se tornado cada vez mais comum a circulação de matérias com títulos alarmistas sobre supostas “novas placas de trânsito” que estariam entrando em vigor no Brasil. Muitas vezes, essas reportagens utilizam imagens de sinalizações adotadas em outros países — como França, Itália, Argentina ou Chile —, mas que não fazem parte do sistema de sinalização viária brasileiro. Embora o conteúdo do texto, em alguns casos, esclareça que a sinalização não se aplica ao Brasil, o impacto já foi causado: muitos leitores não passam do título e acabam propagando desinformação.
O exemplo mais recente envolve uma placa azul com um losango branco ao centro, que tem sido apresentada por sites e perfis em redes sociais como se fosse uma nova exigência do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O problema? A sinalização em questão é usada na França, onde indica via prioritária, e sequer faz parte do Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito. No entanto, isso não impediu que milhares de pessoas compartilhassem o conteúdo acreditando que a regra havia mudado por aqui.
O perigo dos “títulos caça-cliques”
A estratégia usada por muitos portais digitais é conhecida no meio jornalístico como “clickbait”, ou isca de cliques. O objetivo é chamar a atenção do leitor com um título sensacionalista ou ambíguo, mesmo que o conteúdo não corresponda à expectativa criada. No caso das sinalizações de trânsito, o efeito colateral vai além da frustração com a leitura: a prática compromete a formação de condutores, confunde profissionais da área e até pode gerar comportamentos de risco nas vias.
“Quando um motorista vê um conteúdo afirmando que uma nova placa será implantada no Brasil, ele tende a acreditar. Ou seja, especialmente se a notícia estiver sendo replicada por grandes páginas ou perfis de credibilidade questionável”, alerta o especialista em trânsito Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito.
“O grande problema é que a sinalização é um dos pilares da segurança viária. Confundir o motorista sobre o que é ou não válido pode ter consequências graves”, explica.
Casos recorrentes de placas internacionais
Não é a primeira vez que esse tipo de conteúdo viraliza. Além da placa azul com losango branco, já houve a utilização de outras sinalizações estrangeiras de forma sensacionalista em matérias no Brasil. Um exemplo foi a placa com círculo vermelho e fundo branco — bastante comum na Europa para restringir acesso a determinadas áreas urbanas — que apresentaram erroneamente como uma nova proibição válida nas vias brasileiras.
Outro caso envolveu uma placa usada na Argentina com o símbolo de “proibido estacionar”, confundida com sinalizações brasileiras e divulgada em redes sociais como se estivesse sendo adotada em território nacional. Em todos esses episódios, o elemento em comum é a falta de apuração. Além disso, o uso de um título chamativo que não corresponde à realidade normativa brasileira.
O que diz o CTB e o Contran sobre placas de trânsito?
A sinalização de trânsito no Brasil é regulamentada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que publica resoluções bem como manuais específicos sobre o tema. O conjunto de placas, símbolos e orientações visuais segue uma padronização rigorosa, com códigos próprios (como R-1 para “Parada Obrigatória” ou R-3 para “Proibido virar à esquerda”). Todos estão em normativas oficiais.
Como evitar se enganar por fake news de trânsito?
Diante desse cenário, é essencial que os condutores — e especialmente os candidatos à habilitação — fiquem atentos à origem da informação. Algumas dicas importantes incluem:
- Verifique se a matéria cita fontes oficiais, como o Contran, Senatran ou Detrans;
- Confira se há referências ao Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito;
- Suspeite de títulos exageradamente alarmistas ou vagos;
- Priorize portais especializados e com credibilidade na área de mobilidade e segurança viária.
Além disso, é importante lembrar que canais oficiais dos órgãos de trânsito brasileiros sempre divulgam de forma ampla qualquer alteração nas normas de trânsito. Se uma “nova placa” realmente estivesse em vigor, haveria campanhas educativas assim como comunicados oficiais.
Informação correta é pilar da segurança no trânsito
De acordo com o especialista, o trânsito é um ambiente que exige atenção, clareza e previsibilidade. A circulação de conteúdos mal formulados e sensacionalistas mina a confiança dos condutores nas regras vigentes e fragiliza a educação para o trânsito. E isso, justamente num momento em que o Brasil precisa fortalecer as políticas de prevenção a sinistros.
“Cada conteúdo equivocado que viraliza é um passo para trás na construção de um trânsito mais seguro. Precisamos de mais responsabilidade por parte de quem produz informação e mais senso crítico por parte de quem consome”, conclui Celso Mariano.