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07 de novembro de 2024

Investir em formação é fundamental para a segurança de ciclistas e motociclistas, afirmam estudiosos


Por Mariana Czerwonka Publicado 12/01/2016 às 02h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h41
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Assessoria de Imprensa Perkons

 "O trânsito não é feito de carros, ônibus, motos, bicicletas, etc. O trânsito é feito de pessoas e, para que sejamos respeitados, temos que respeitar e dar o exemplo", explica Missaki Idehara, porta-voz da Bike Anjo. Foto:  Crédito Antônio Cruz - Agência Brasil“O trânsito não é feito de carros, ônibus, motos, bicicletas, etc. O trânsito é feito de pessoas e, para que sejamos respeitados, temos que respeitar e dar o exemplo”, explica Missaki Idehara, porta-voz da Bike Anjo. Foto: Antônio Cruz – Agência Brasil

Elas são transportes sobre duas rodas e o condutor precisa de equilíbrio para conduzi-las e também estão envolvidas em graves acidentes nas áreas urbanas do país. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2014, foram registradas mais de 205 mil internações por acidentes de trânsito. Desse total, mais de 105 mil acidentes envolvendo bicicletas ou motocicletas, sendo que as situações com esta última representam mais de 90% dos casos.

De acordo com Raquel Holz, doutora em Engenharia de Produção e Transportes pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, um dos fatores que podem colaborar com os índices de acidentes com motocicletas é a ideia, muito comum entre a população, de que se aprende a dirigir no trânsito. “Esquecemos que o recém-habilitado não tem ainda experiência suficiente para aplicar o que aprendeu no processo de formação. E talvez este seja um dos fatores que mais contribuam para a grande participação de motociclistas nas estatísticas de acidentes de trânsito do Brasil”. Ela acrescenta que é preciso reavaliar o projeto pedagógico do processo de formação. “Aqui no Brasil, o que geralmente acontece, é que é destinado pouco tempo para a aprendizagem na primeira aula prática para conhecer os fundamentos do veículo”.

Um dos pontos que Raquel defende é a aula prática em via pública. Em 2014, em conjunto com o funcionário do DETRAN/RS Carlos Mentz Barth e com a professora da Universidade Federal de Pelotas Natália Steigleder, ela realizou o Estudo da influência na acidentalidade, pela não aplicabilidade de aulas práticas, em via pública, na formação do condutor da categoria A (duas rodas). “Estudos realizados em simuladores de risco sinalizaram que motociclistas iniciantes possuem uma percepção de risco menos desenvolvida do que aqueles com experiência”, defende Raquel em trecho do trabalho. Ela disse ainda que  o estudo “Percepção de risco de motociclistas infratores” realizado com condutores inexperientes de motocicletas e automóveis também revelou percentuais mais elevados na identificação e análise dos riscos em condutores experientes. “Pode-se inferir que a experiência que o condutor aprendiz obteria na realização de aula prática em via pública seria fundamental para aguçar sua percepção e assim ter uma melhor conduta no trânsito e agilidade na dirigibilidade quando em situação de possível risco”, explica.

O especialista em educação para o trânsito Jaime Nazário, presidente do Instituto Sobre Rodas, observa também outras questões que merecem atenção na formação do motociclista. “O processo de formação de motociclistas é muito deficitário em vários aspectos. Fundamentos de pilotagem não chegam a ser ensinados, como parada e arrancada em aclives, ou são muito mal ensinados, como uso do freio dianteiro”.

Para Nazário, não é tão simples quanto parece melhorar o atual processo, principalmente em relação à circulação dos novos motociclistas em vias públicas. “Como todo processo educacional, existem medidas de curto prazo que poderiam melhorar o nível de formação, como alterar a pista para melhor contemplar a prática de parada e arrancada em aclives e frenagem com a roda dianteira, por exemplo. O uso de bons simuladores de trânsito também seria muito útil, bem como de outros artefatos tecnológicos que poderiam trazer melhor segurança para o processo de ensino”, avalia.

Formação para ciclistas começa na infância

No primeiro semestre de 2015, o Ministério da Saúde registrou 4.871 internações de ciclistas acidentados no país, 2.759 apenas na região sudeste. Frente a números como esse, diversas ações nos níveis municipal, estadual e federal surgiram para incentivar a segurança desse tipo de condutor. Uma delas é o projeto de lei nº 1.500/2015, que tramita na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, que institui o curso facultativo e gratuito para capacitação de usuários de veículos de propulsão humana do tipo bicicleta, handbikes e similares. Na opinião de Mariana da Silveira, mestra em Engenharia de Transportes, a capacitação do ciclista é importante, porém deveria ser realizada ainda na infância. “Em cidades que são referência em bikes no mundo já existe essa formação, não só no que se refere ao ciclismo, mas no sentido de as crianças aprenderem sobre a hierarquia de cada veículo. Por exemplo, o motorista não costuma ver o ciclista como condutor de outro meio de transporte”, explica.

O diretor-presidente da União dos Ciclistas do Brasil, André Soares, complementa afirmando que para os adultos é preciso mudar a mentalidade da população por meio de campanhas educativas que incentivem a convivência pacífica e humanizada no trânsito, aliada a uma punição severa aos condutores de veículos motorizados que causarem acidentes aos de propulsão humana. “O próprio centro de formação de condutores deveria dedicar atenção especial para os cuidados com o ciclista durante as aulas teóricas. Em alguns estados brasileiros, já são obrigatórias duas questões na prova teórica envolvendo bicicleta, o que é um avanço”, pondera.

Mariana afirma que existem iniciativas do terceiro setor que buscam capacitar condutores de bikes e motoristas para compartilharem o espaço em harmonia. Uma dessas iniciativas é a Bike Anjo, que oferece orientação gratuita aos iniciantes que têm dúvidas sobre como se portar no trânsito em cima de uma bicicleta. De acordo com o porta-voz da organização, Missaki Idehara, a ideia surgiu durante a Bicicletada, um evento de ciclistas. “Os ciclistas mais experientes começaram a orientar os que estavam começando e foram apelidados de anjos. Depois disso criou-se uma rede colaborativa em outras cidades. Hoje temos 2.020 voluntários cadastrados em 348 cidades e já atendemos mais de 3 mil pessoas”.

Para Idehara, não seriam necessárias novas leis para garantir a segurança dos ciclistas, mas sim bons exemplos. “A lei é apenas um texto que legitima a conduta do cidadão, não vale de nada se não acreditarmos nela. É preciso pensar em boas práticas e campanhas motivacionais como o Dia Mundial Sem Carro, o Dia de Bike ao Trabalho, uma vez que elas estimulam a reflexão de toda a sociedade”, defende.

Na opinião do porta-voz da Bike Anjo, o respeito ao próximo é o ponto fundamental que os ciclistas devem levar em conta na hora de pedalar na cidade. “O trânsito não é feito de carros, ônibus, motos, bicicletas, etc. O trânsito é feito de pessoas e, para que sejamos respeitados, temos que respeitar e dar o exemplo”, explica. Ele enumerou também as dicas básicas para uma condução segura: pedale com segurança, exerça direção defensiva, nunca pedale na contramão, ocupe pelo menos um terço da faixa de rolamento, cuidado com a abertura de portas dos carros parados e respeite o que diz o Código de Trânsito Brasileiro.

Com informações da Assessoria de Imprensa

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