Só 57% dos pais usam cadeirinhas no carro, diz pesquisa Datafolha
No último Carnaval, Luiz Edgar Brito Franca, 4, saiu para passear de carro. Como seu pai não tinha uma cadeirinha, ele ficou no banco traseiro, preso apenas ao cinto.
A uma quadra de casa, uma moto fechou o veículo, que bateu em um poste. O impacto provocou um efeito chicote no corpo de Luiz, que teve lesão na medula. Ficou dois meses no hospital. Hoje só move do tórax para cima.
O caso mostra que a cadeirinha ainda não é unânime entre os motoristas, apesar de o índice ter crescido após a obrigatoriedade, que completou dois anos em setembro. É o que revela pesquisa nacional Datafolha, a pedido da ONG Criança Segura em parceria com a Associação Brasileira de Produtos Infantis.
Segundo a pesquisa, 57% dos motoristas que transportam crianças de até dez anos usam a cadeirinha. Antes da lei, levantamento em cinco capitais apontou taxa de 32%. “O patamar de uso nos países desenvolvidos é de 80%”, diz Alessandra Françoia, coordenadora nacional da ONG.
A lei fixa tipos de cadeirinhas para diferentes faixas etárias, até sete anos e meio de idade. Não há levantamento atualizado sobre mortes de crianças no trânsito após a vigência da lei, mas estudo preliminar do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta queda de 23%.
Motivos
Um dos principais motivos apontados pelos pais que não utilizam o equipamento é a falta de fiscalização. A americana Erica Winter, 39, no Brasil desde 2010, trouxe as cadeirinhas dos filhos Adrian, 4, e Stella, 6, mesmo sem saber se eram obrigatórias. “É segurança, nem me preocupo com lei”, disse.
Muitos pais têm dúvidas sobre as regras e os modelos adequados –19% dizem que não usam devido ao porte físico da criança: é muito grande para a cadeirinha ou já tem altura para usar o cinto. Para o sociólogo Eduardo Biavati, especialista em educação no trânsito, também há dificuldade para usar o equipamento. “Colocar cadeirinha é coisa de arrancar o cabelo. O que acontece muitas vezes é que deixam ela solta”. Outro motivo apontado na pesquisa são as viagens curtas –16% dizem não usar a cadeirinha nessas situações. “Antes do acidente, era comum meus pais deixarem o Luiz fora da cadeirinha quando iam à padaria, por exemplo. Mas, quando converso com outros pais, uso o exemplo do meu filho. Sou obrigada a alertar da pior forma possível. Aviso que o perigo está na esquina”, diz Camilla de Brito, 31, mãe de Luiz Edgar.
Renda
A pesquisa também revela que a falta do equipamento é maior na classe C, apesar de só 6% dos entrevistados reclamarem de preços altos. O preço do bebê-conforto varia de R$ 160 a mais de R$ 1.000. Já a cadeirinha vai de R$ 150 a R$ 2.500. Os boosters saem por R$ 35 a R$ 300. O Datafolha fez 3.915 entrevistas em 165 cidades de 16 a 25 de agosto. A margem de erro é de 4 pontos percentuais.
Fonte: Folha Online