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09 de fevereiro de 2025

Artigo – Colheita sem plantio


Por Artigo Publicado 11/08/2021 às 21h00 Atualizado 08/11/2022 às 21h24
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No comentário desta semana J. Pedro Corrêa aborda a participação brasileira nos Jogos Olímpicos do Japão e por que não conseguimos resultados ainda melhores.

*J. Pedro Corrêa

Jogos OlímpicosFoto: Pixabay.com

Com o encerramento das olimpíadas neste final de semana, o Brasileiro se dedica, agora, a avaliar a participação de nossa representação no maior evento esportivo mundial. Apesar do saldo positivo pelo número recorde de medalhas conseguidas, haverá críticas pelas conquistas não consumadas e nem faltarão comentários pesados contra entidades esportivas e ao próprio Governo pela conhecida “falta de apoio” aos atletas que nos representaram no Japão. Estou escrevendo este artigo antes do fim dos jogos e, assim, não sei o número final de medalhas conquistadas mas tenho certeza da temperatura do debate.

Embora tivesse vontade de meter minha colher nesta discussão, preferi me conter e me reservar a comentários para explicar porque o brasileiro só quer ganhar e gosta de “meter o pau” quando a vitória não vem.

Isto tem sido assim há muito tempo e, pelo jeito, vai continuar até que a Lei de Gerson (levar vantagem em tudo) seja revogada neste país.

Para mim, o cerne da questão está no hábito brasileiro de esperar uma boa colheita sem ter feito um plantio adequado, o que tem sido recorrente em várias áreas de atividades.

Quem viu na TV o atleta catarinense Darlan Romani, do arremesso de peso, treinando precariamente, num terreno baldio ao lado de sua casa, em Bragança Paulista, sem as condições mínimas e nem o menor suporte, não conteve suas emoções e sua indignação. Além de ter perdido seu patrocínio, Darlan ainda contraiu a Covid-19 e viu sua presença no Japão, ameaçada. Mesmo assim foi lá, batalhou, não conseguiu medalha mas conseguiu um quarto lugar. Embora tenha sido um dos casos mais comentados, este não foi o único e deveria bastar para, enfim, mudar nossa atitude perante situações semelhantes. Não apenas no esporte mas em qualquer setor de atividade.

A pergunta que não quer calar é simples e bem objetiva. Se nós não fazemos corretamente as lições de casa, como queremos ser aprovados com louvor? Se não plantamos corretamente, como esperar por uma boa colheita?

É este ponto que quero emprestar do exemplo da participação brasileira nas olimpíadas para colocar como um debate no terreno do trânsito.

Como conseguiremos chegar a um nível bom de segurança no trânsito se não respeitamos as leis e não fazemos esforços para melhorar nosso comportamento? Mais ainda: como queremos melhorar nossos indicadores de trânsito se não temos, sequer, um programa de mudança de comportamento que leve o brasileiro a gerenciar situações de riscos?

Se a situação atual do nosso trânsito não é boa, é pior ainda a perspectiva para um futuro imediato. Não vejo sinais no horizonte nacional de que estejamos às vésperas de uma melhoria significativa.

Todos os anos registramos dezenas de milhares de mortos no trânsito e não vemos ações de contenção. Planos  são anunciados (Pnatrans) mas não ganham as ruas e estradas. Pior: a sociedade, cansada, já não protesta mais.

Precisamos reativar o debate, colocar foco na discussão, nos darmos conta de que não merecemos estar nesta situação e que poderíamos fazer bonito numa próxima “Olimpíada do Trânsito”, desde que possamos contar com o devido apoio governamental e das lideranças deste país.

Precisamos nos envergonhar dos atuais indicadores de trânsito. Além disso, forçar nossos representantes a exigir investimentos na segurança no trânsito por parte de todos os governos, municipal, estadual e federal. Não se trata de bondade mas de direito indiscutível que não temos sabido defender.

Assim, aproveitando o exemplo olímpico brasileiro, precisamos convocar nossas lideranças para fazer um plantio correto (de ações no trânsito). O objetivo, daqui há alguns anos, é podermos comemorar uma colheita abundante e segura. Isto não é pedir demais.

Por plantio correto entendo que seja iniciar um plano nacional de segurança no trânsito que contemple esta e próxima década. Com investimentos alocados em todos os pilares de sustentação deste programa como, entre outros, engenharia, fiscalização, educação e emergência.

Por plantio correto entendo uma ação de espalhar sementes da educação de trânsito de forma adequada por todo o país mas não apenas nas escolas. O Brasil precisa de um grande e paciente debate nacional sobre segurança no trânsito envolvendo toda a sociedade brasileira, não apenas a comunidade escolar.

Isto pode ser feito através de programas de comunicação, coordenados pelo governo federal, reproduzidos nos estados e municípios, para durar muitos anos, até que o tema faça parte do cotidiano brasileiro e tenhamos condições de afirmar que, enfim, já temos um começo consolidado de cultura de segurança no trânsito. Se o plantio for correto, não haverá dúvidas de que a colheita será não apenas farta mas duradoura. O Brasil espera há muito tempo por esta oportunidade.

*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito

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