Artigo – Colhendo as frutas mais fáceis
J. Pedro Corrêa comento sobre como estão indo as cidades brasileiras neste primeiro ano da segunda década mundial de trânsito.
*J. Pedro Corrêa
Passadas as boas emoções das Olimpíadas do Japão volto meu olhar ao desenvolvimento dos assuntos relativos à segurança no trânsito no Brasil. Ao tentar elencar temas para meus próximos artigos me ocorreu perguntar como o país está indo no primeiro ano da segunda década mundial de ações de trânsito. Afinal, estamos nos aproximando do terceiro trimestre de 2021.
Na minha relação de contatos dentro do universo do trânsito ninguém se sentia com autoridade para dar uma resposta afirmativa ou mais detalhada.
Estava interessado em saber quais cidades, fora aquelas que já conhecíamos desde o ano passado, estão surgindo no mapa brasileiro da segurança no trânsito. Seria ótimo se tivéssemos uma instituição nacional que pudesse catalisar esses esforços municipais. Seria bom para os municípios citados e melhor ainda para os que querem entrar no grupo, que precisam começar mas que ainda não sabem por onde.
Neste e nos próximos artigos pretendo falar de alguns exemplos que conheço e espero que, por aí, possa descobrir outros que já estejam com seus processos em andamento. Assim, se puder pedir algo em troca a você, leitor, é que me indique pelo e-mail que coloco ao final destas linhas, os nomes das cidades que estão com seus programas de segurança no trânsito ou mobilidade em andamento. Quero saber mais deles.
Pela divulgação nos meios de comunicação que me chegam através dos vários filtros que utilizo, não me parece que estejamos decolando na direção de um novo patamar ou próximos de alcançar novas alturas na busca de um trânsito mais seguro.
Oxalá seja um palpite errado e que possamos descobrir um número expressivo de municípios fazendo sua parte sem que tenha havido grande divulgação de suas ações. Espero sua contribuição, onde quer que você esteja.
Pelo que vejo, boa parte das grandes cidades e capitais brasileiras continuam com seus programas habituais. Algumas avançando um pouco em relação ao ritmo do ano passado. Um dos projetos que começa a despertar atenção das lideranças municipais é o Ruas Completas, da WRI, com parcerias. Cidades como Campinas, Curitiba, Juiz de Fora, Niterói, Porto Alegre, Salvador, São José dos Campos e São Paulo já têm ações concluídas e, pelo visto, com resultados bastante positivos.
O Governo do Estado de São Paulo firmou convênio com a WRI e demais instituições parceiras, algumas internacionais. O objetivo é implantar o projeto Rede Ruas Completas-SP em 20 cidades do interior paulista numa ação altamente promissora.
No estado de São Paulo, ano passado, mais de 4.800 pessoas morreram no trânsito e mais da metade destas mortes foram nos centros urbanos.
O projeto Ruas Completas vai apoiar as cidades na redução das fatalidades como preconiza a Segunda Década de Ações para Segurança no Trânsito da ONU. O projeto, entre outras ações, prevê capacitação de técnicos e tomadores de decisão dos mais de 300 municípios paulistas onde o programa Respeito à Vida, do Detran-SP, está presente. Cada cidade da Rede terá apoio específico em uma ação de segurança viária. Essa experiência poderá ser compartilhada com os demais municípios do estado, o que é muito bom.
Um dos pontos mais promissores do projeto é o envolvimento da Frente Nacional de Prefeitos. Nesse sentido, diante dos primeiros resultados positivos, pode levar a experiência a muitos outros municípios do país. Julgo que esta possível ação poderá desencadear um alargamento deste modelo de projeto que, enfim, possa ganhar o Brasil como um todo. É uma esperança e tanto!
Minha expectativa positiva com relação ao futuro imediato do trânsito brasileiro se apoia no fato de que grandes cidades e capitais continuem suas ações de segurança no trânsito. Dessa forma, na medida em que divulgam seus programas, instigam as cidades de médio e pequeno portes a seguirem pelo mesmo caminho.
Vejo o exemplo do Estado de São Paulo e suas 20 cidades, unidos no projeto Ruas Completas, como fundamental pelo bom exemplo que dão aos demais estados.
Nos próximos artigos quero abordar o que estão fazendo capitais como Recife, Salvador, Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Maceió no campo da segurança no trânsito e da mobilidade segura. Faço na esperança de que isto incentivará novos municípios a entrar no movimento da segunda década mundial de ações de trânsito. Além disso, ajudar o país a atingir sua meta em 2030.
Pelo que pude observar, dá para fazer a analogia de que, por enquanto, estamos colhendo ainda as frutas que se encontram nos galhos mais baixos das árvores. Portanto, as mais fáceis, mas a caminho de nos equiparmos adequadamente para chegarmos às que se encontram mais altas. Se minha percepção estiver correta, o Brasil pode estar dando um salto importante na busca de um lugar bem ao sol no campo da segurança no trânsito.
*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito – jpedro@jpccommunication.com.br