Artigo – Receita para uma tragédia
Adriane Picchetto Machado faz uma análise sobre o sinistro envolvendo um caminhão desgovernado que atingiu vários veículos em Curitiba.
“O incrível caso do motorista de caminhão que dirigiu 140 km, derrubou sua carga, causou 04 acidentes em uma rodovia, 12 acidentes em uma área urbana e parou somente porque seu caminhão estragou…”
Coloque-se em um caldeirão um motorista que provavelmente ultrapassou a carga horária possível para um ser humano se manter na direção, um pouco de álcool, talvez cocaína ou “rebite” (ou tudo junto). Obtêm-se assim um motorista com estado de consciência alterado, com sinais de paranoia. Junte-se a esses ingredientes as nefastas terceirizações de empresas de transporte ou motoristas autônomos que prestam serviços de forma pontual e, na maioria dos casos, sem controle, acompanhamento ou monitoramento de seu desempenho.
Some-se a esses componentes a ineficiência das instituições que monitoram/ fiscalizam/controlam o tráfego, que permitiram, por omissão ou incompetência, que o motorista descrito trafegasse por 140 km, inicialmente em uma estrada e posteriormente na zona urbana da cidade de Curitiba, causando um total de 16 acidentes, alguns deles gravíssimos.
Também não esqueça de incluir a desatenção com a saúde física e mental por parte das empresas responsáveis por esses profissionais da estrada, relevando a segundo plano a prevenção de prováveis infrações ou sinistros.
Pronto, está feito o “caldo” para uma tragédia!
Tivemos muita sorte nesse triste caso, afinal, não houve mortes!
Ficamos nós, profissionais do trânsito, com um gosto amargo em nossa alma: até quando o descaso com as problemáticas do trânsito estarão presentes?
Quantos cidadãos precisariam ter morrido nesse caso para que todos nos sensibilizemos aos apelos assustadores desse mal que afeta nossas vidas de forma intensa? O trânsito é um bem comum, que necessita ser cuidado por todos. Não é uma ameaça da qual precisamos nos esquivar e, se tivermos sorte sairmos ilesos de uma viagem ou um simples passeio.
Prevenir é a regra!
Exames toxicológicos, médicos e psicológicos tem essa finalidade. Bafômetros antes de um motorista assumir a direção de um veículo é uma ação muito simples de se implantar. Acompanhar e monitorar periodicamente os motoristas profissionais através de exames é garantia de segurança.
Pensar em segurança como custo é “cegueira” empresarial: qual valor esse evento infeliz irá custar as empresas envolvidas? Melhor prevenir que remediar e/ou comprometer a reputação de sua empresa, srs. empresários!
Tantas obviedades (talvez não tão óbvias para alguns) nessas linhas. Não é de hoje que os especialistas da área apontam caminhos objetivos e científicos para minimizar e/ou evitar problemáticas como essas em nosso país…
Será o trânsito uma causa perdida???
Artigo de Adriane Picchetto Machado especialista em Psicologia do Trânsito da Qualità Avaliações Psicológicas e Treinamentos Ltda.