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26 de julho de 2024

Artigo – Somar ou multiplicar


Por Artigo Publicado 09/08/2022 às 21h30 Atualizado 08/11/2022 às 21h05
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No mês em que celebra 35 anos de caminhada pela segurança no trânsito, J. Pedro Corrêa revela algumas lições aprendidas neste espaço de tempo.

Neste mês de agosto celebro duas datas importantes da minha vida profissional. Há 35 anos, em agosto de 1987, iniciei minha longa caminhada pelas trilhas da segurança no trânsito, com o começo do Programa Volvo, que alterou o traçado da segurança no trânsito do Brasil. Há 30 anos, em agosto de 1992, constituí minha própria empresa de consultoria para apoiar governos, empresas, entidades, ONGs em programas de segurança no trânsito. Uma experiência e tanto!

Nas numerosas palestras, debates que participo pelo Brasil afora muitas vezes me chamam de professor, o que me deixa meio sem jeito pois estas pessoas não imaginam como me sinto cada vez mais aluno falando de trânsito. É um tema muito complexo, que se torna cada vez mais difícil pela multiplicidade das facetas que apresenta.

Já vi e ouvi uma enormidade de grandes personalidades mundiais com belas abordagens do trânsito, mas cada vez mais me dou conta do quanto este tema é inesgotável.

Ao completar meus 35 anos de carreira não tenho dúvidas do quanto valeu a pena ter me aventurado. Ter me jogado de corpo e alma nesta área e fazer dela o meu ganha-pão. Para que você tenha uma ideia, em 1990, quando o Programa Volvo ganhou o Prêmio Mundial de Relações Públicas da International Public Relations Association, fizemos uma pesquisa informal pelo Brasil e descobrimos que boa parte dos brasileiros, na época, nunca tinham ouvido falar em segurança no trânsito.

Se compararmos com a presença do tema na agenda atual da sociedade brasileira, veremos que houve um grande salto. No entanto, ainda não o suficiente para dizer que a meta está atingida. Cumprida, não está, mas o caminho está pavimentado, e disto ninguém discorda. É bastante, mas não o bastante.

O que um aluno que gosta tanto da matéria que estuda consegue aprender depois de 35 anos?

É incrível como esta resposta pode ser dada de inúmeras formas e possivelmente nenhuma delas estará errada. Talvez a que mais me agrada é a de que, no trânsito, mais importante que somar é multiplicar. Vou tentar explicar melhor.

Num país como o Brasil, onde a educação básica do seu povo é muito pobre, é essencial que se consiga levar a informação do trânsito ao maior número de pessoas possível.

Quando participo de um evento, seja uma palestra, um debate ou mesmo um podcast, minha intenção é procurar passar informações, conceitos para que aqueles que me assistem ou me ouvem se motivem a reproduzir essas informações a outros grupos de interessados, de maneira que multipliquemos sempre o número de pessoas atraídas pelo tema.

Dentro da mesma linha, mas alargando um pouco seu horizonte, minha preocupação é não ficar apenas convencendo os já convencidos, o que infelizmente acontece muito na área. Fazemos muitos seminários, eventos, debates, mas repetindo muito o mesmo público. Vale, no sentido de reforçar a mensagem, melhorar os conceitos.  Seria importantíssimo, porém, contar com gente nova no grupo, especialmente aqueles que detém o poder, que podem ajudar financeira ou materialmente.

Lembro sempre de um alerta do saudoso Roberto Scaringella, que presidiu a CET-SP, Contran, Denatran que me dizia sempre: “No Brasil, quem manda no trânsito, não entende e quem entende, não manda”. Pode ser cruel, injusto com algumas exceções (sempre há exceções), mas muito válido para muitos casos que todos conhecemos. Este recado vale muito para aqueles que, como eu, batalham pelo trânsito e muitas vezes recebem um “não” para apoiar propostas de ações de trânsito. Deveríamos entender que, ao receber uma negativa a um pedido de apoio, constataremos que acabamos de aprender mais uma forma de como NÃO funcionam certas propostas. Isso significa que precisamos ser mais criativos na próxima.

Outra grande lição que temos de ter sempre presente é que, apesar das dificuldades, o trânsito do Brasil tem jeito.

Se compararmos a realidade de 35 anos atrás com a de hoje, não há como negar que demos um belo salto à frente e, relação a segurança no trânsito. No entanto, ainda precisamos aprender a dar saltos maiores. O que foi feito nestas últimas décadas serviu concretar a estrada do nosso trânsito. Quanto mais sólida for esta estrada, mais seguro será o futuro do trânsito brasileiro.

Viva você, que me aguentou ao longo destes 35 anos e, por isso, obrigado e um abraço!

* J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito.

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