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27 de julho de 2024

Estresse, fator de risco sobre rodas


Por Mariana Czerwonka Publicado 16/05/2013 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h39
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Resumo: Condensamos os três tipos de estresse a que está submetido o motoboy, motofrete, mototaxista, motoristas e mostramos a repercussão sobre o organismo. Apresentamos alternativas para controlar e mesmo sair da situação de estresse.

Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior*

O assunto é bastante atual uma vez que muitas das doenças clínicas acompanham-se dessa condição. Entendemos como estresse uma situação em que existe uma perda da capacidade adaptativa do indivíduo a situações por ele vividas normalmente. O sujeito não consegue se adaptar e reage muitas vezes chegando a descompensar.

O estresse pode, por muitas vezes, ser uma resposta natural do organismo. No entanto, às vezes, o estresse contínuo pode ser uma causa de doença, ou pelo menos coadjuvante dela. São exatamente as situações de tensão, de agressão externa ou interna, que ultrapassam o limite da capacidade defensiva do indivíduo. Ele não consegue mais defender-se e descarrega essa energia ruim sobre o organismo. Faz na verdade uma autoagressão. Permite assim que apareçam sinais, sintomas e muitas vezes doenças.

O estresse inicialmente estudado por Selye, em 1936, na Alemanha, foi o estresse do calor, através de experimentações de laboratório. Observou que os animais e o homem submetidos a uma situação de estresse apresentavam uma síndrome geral, um quadro que era manifestado por ansiedade, cefaléia em alguns, taquicardia (aumento da frequência cardíaca), perda do sono, do apetite, etc. Observou ainda que os animais e os homens passavam por três fases: a inicial, que era a reação de alarme, uma fase de adaptação ou resistência, em que há equilíbrio entre as forças agressivas e as forças adaptativas, e a terceira fase, que é a fase da descompensação, na qual há uma desadaptação, surgindo então às doenças psicossomáticas. É a úlcera péptica, a hipertensão arterial, o infarto do miocárdio e outras que surgem exatamente nessa terceira fase, quando não existem mais possibilidades adaptativas.

É importante lembrar que toda essa adaptação fisiológica do organismo é feita à custa do sistema glandular, basicamente do sistema hipófise–suprarenal, e do cortisol. São dois grandes hormônios de relação com o estresse, de adaptação ao estresse, que são a adrenalina e a noradrenalina, que surgem na primeira fase, e o cortisol, que assume a defesa junto com vários outros hormônios, como o hormônio do crescimento, a prolactina etc. E por último surgem novamente as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), no caso do estresse crônico.

Mostram as pesquisas que no Brasil à classe social mais atingida pelo estresse é a camada mais desfavorecida e, com isso, tem menor capacidade de adaptação às agressões. Podemos então considerar a existência de três tipos de estresse, o estresse físico, o estresse psicológico e o estresse social, que será tão mais grave quanto mais injusta a sociedade. E bem sabemos como essa sociedade é injusta com os motoboys, motofretes, mototaxistas, motoristas em geral.

Vivemos exatamente um momento como este no trabalho, em cima de uma motocicleta, de um automóvel, caminhão ou similar. Na prática, entre nossos operadores temos percebido a necessidade de readaptação social. Problemas familiares, econômicos, a insatisfação com as chefias, a insatisfação com o trabalho realizado tudo concorre para a desarmonia e consequentemente para o estresse social.

Tomemos um indivíduo que, por exemplo, mora em um bairro considerado seguro. De repente perde a condição financeira de continuar a habitá-lo e muda para a periferia, para outras condições de vida, vivendo um fator de desequilíbrio da sua harmonia física e psicológica. Esse desequilíbrio da harmonia física e psicológica faz com que esse indivíduo tenha uma diminuição da sua resistência global, não só da sua resistência psicológica, mas também da sua resistência física.

Saúde do Motorista Profissional

Com frequência observamos nesse indivíduo o surgimento de manifestações clínicas e eventualmente o eclodir de doenças. Não quero dizer com isso que o estresse seja o único causador de doença, mas é um fator contributivo importante. E muitas vezes agrava a doença já instalada. Existem indivíduos dentro do nosso ambiente de trabalho que sob um grande estresse buscam fatores de adaptação como fumar, correr, beber, comer demais, fazer tudo em excesso e até buscar alívio usando uma droga.

Todos que trabalham com motocicleta não ignoram o perigo, o risco a que estão submetidos e esse é um agente de estresse contínuo que compromete o corpo e a mente. Como resolver?

No trabalho:

– ser humilde;

– manter bom relacionamento;

– atividade física para “desestressar”;

– nunca querer resolver tudo sozinho;

– não levar nada do trabalho para casa;

– tudo que é do trabalho deve ficar no trabalho.

Fora do trabalho:

– lazer contínuo;

– discutir seus problemas com amigos;

– relaxar;

– esporte;

– massagem;

– e outras atividades.

Na família:

– ser humilde;

– buscar permanentemente a harmonia, o equilíbrio;

– motivar-se para a alegria e viver sorrindo;

– fugir dos aborrecimentos;

– enfrentar os problemas de frente buscando soluções que satisfaçam a todos;

– zelar pelo bem estar físico e mental de todos.

Não esqueça que o estresse em alguns indivíduos manifesta-se com agressividade. Saber ter controle sobre isso é extremamente importante porque as consequências de atos de agressividade repercutem muito mal quer no trabalho, no lazer e no âmbito da família.

Lembre-se que essa atividade consideramos extremamente penosa. Participam da atividade agentes altamente agressivos, além dos problemas do dia a dia de todos nós. Saber superar tudo isso é um ato de extrema grandeza. Mas, se observar dificuldades no desempenho da função não deixe de procurar ajuda. Ninguém é tão forte para superar tamanhas dificuldades.

* Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego

http://www.abramet.org.br dirceurodrigues@abramet.org.br dirceu.rodrigues5@terra.com.br

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