Para o seu CFC: vivenciando a aula teórica remota
Artigo de Eliane Pietsak questiona se a aula teórica remota no processo de formação de condutores realmente está funcionando.
Eliane Pietsak*
Com a pandemia causada pela Covid-19, muitas mudanças aconteceram em todos os setores da nossa vida. Tivemos que nos adaptar à nova realidade. Entre as principais mudanças, no que tange ao trânsito, a meu ver, foi a possibilidade de se fazer a aula teórica remota para a formação de condutores.
Como avaliar se a aula teórica remota funciona realmente?
Muitos dirão que basta observar os índices de aprovação dos alunos, como era feito quando os cursos eram presenciais. Outros dirão que é difícil avaliar. Até bem pouco tempo, eu estava dividida entre um grupo e outro, porque, convenhamos, índice de aprovação é uma forma bem arcaica, da era passada, de se avaliar se algo funciona ou não. Principalmente em se tratando de formação de futuros condutores.
Recentemente, acompanhei, por acaso, dois jovens que estavam fazendo curso para primeira habilitação.
Um dos jovens, acompanhava seu pai, pintor, que veio fazer um trabalho em minha casa. Chamou a minha atenção que o jovem deixava o celular ligado o tempo todo na garagem, e ia ajudar o pai em outro lugar. Um dia resolvi parar e escutar o que tanto ele ouvia e me surpreendi: ele estava em aula no CFC!!! Aula teórica remota!
Questionei o jovem para saber por que não estava participando da aula, afinal, estava pagando por isso e ele respondeu:
“É muito chato! A instrutora fica falando o tempo todo. Ninguém assiste, quando estou em casa, fico conversando com meus amigos no WhatsApp!”
O segundo jovem, foi mais ou menos a mesma situação: filho do pedreiro deixava o celular ligado, dentro do bolso e nem aí para a aula. Quando questionei, respondeu quase a mesma coisa.
Na verdade, o que impressiona é o descaso de ambos, a falta de compromisso. E de fato, o tempo todo que fiquei próximo, no primeiro caso, em nenhum momento ouvi a instrutora chamando os alunos para participar. Parecia que estava lendo a apostila e explicando cada parágrafo ou linha do material. O que convenhamos, tenho que concordar, é muito chato mesmo.
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Por um lado, em teoria, estão previstas formas de controle da participação dos alunos, ou, ao menos deveriam existir. Está prevista na legislação a biometria facial. Como burlam isso é um mistério para mim.
Por outro lado, fico surpresa, negativamente, que instrutores como estes citados, não se esforçam para dar aula realmente. Assim, parecem estar cumprindo o horário, apenas e tão somente. E isso é muito triste.
Pensar que existem profissionais que não tem o menor interesse em cumprir com a parte que lhes cabe, não pensam que esses candidatos, se aprovados, serão péssimos condutores e terão o mínimo de conhecimento.
Sabemos que há profissionais ruins e profissionais excelentes em todas as áreas.
E isso também nos Centros de Formação de Condutores (CFCs). Mas fico triste quando me deparo com situações como estas. Afinal, essa imagem errada que estes jovens levarão de profissionais é extremamente preocupante!
E de nada adianta justificar que não tem interesse, que a responsabilidade é dos alunos que não se comprometem. Em síntese, a responsabilidade é de ambos: profissionais e alunos.
Nós, instrutores, temos uma grande responsabilidade nas mãos que é a formação de condutores e cidadãos responsáveis para um trânsito mais humano e mais seguro! Portanto, vale uma boa reflexão!
*Eliane Pietsak é pedagoga, instrutora e especialista em trânsito.